domingo, maio 10, 2009

kiokos, esquecidos na ficção e na realidade!

Dia 4

aqui, as manhãs são iguais, as tardes não diferem e as noites, estas, parecem copia uma da outra! enfim, os dias sucedem-se e as coisas parecem manter-se inalteradas... a lentidão do tempo é de tal maneira arrepiante que nem o feriado dos trabalhadores beliscou a rotina.

os jovens parecem moribundos, excepto aqueles que se concentram no seu único objectivo, partir para capital.

um museu reabilitado e de portas fechadas, um cinema novinho em folha mas sem matéria prima, uma estufa em escombros com sinais de um passado de sucesso, as quadras de ténis que no passado lançaram os melhores tenistas do país simplesmente desapareceram em favor do “desenvolvimento” habitacional, um hotel de luxo que contrasta com a paisagem que lhe rodeia...enfim, há aqui muitas provas de que aqueles que afirmam que Angola é um país rico não passam é de grandes irresponsáveis.

agora, são 7h:42, apetece-me comer pão com chouriço com uma caneca de chá como no antigamente, vou caminhar por ai e talvez em algum alibaba (lojas de conveniência de libaneses/malianos, há muitas pelo país mas por aqui só vendem material de construção civil!) consiga concretizar o meu desejo numa manhã de sábado que não difere das manhãs dos restantes dias, sem transito, sem poluição sonora, sem correria, sem poeira e sem nada, porque aqui não há nada excepto o tempo, as mangueiras e as pessoas. 

...

com alguma insistência satisfiz o desejo do pão com chouriço, e logo a seguir saí sozinho para fotografar a barragem. o mototaxi hesitou em chegar até a barragem porque a patrulha da Policia de transito montou uma operação stop alguns metros antes da ponte, então, resolvemos parar a moto um pouco acima e seguimos a pé. na conversa, perguntei para onde ião aquelas pessoas que passavam pela barragem.
 
- para fronteira. disse-me.
 
- e quanto tempo demora?

- não demora, são por ai uns 15 km.

- você pode me levar?

- não, os documentos estão em falta e preciso de um capacete para ti.

- e quem pode me levar?

- no centro aparece muitos.

- vamos?

- vamos.

o César, assim se chamava o “meu” novo mototaxi, passou-me o capacete e partimos assim que concordei com o preço. 1000 kwanzas, ida e volta.

passamos a barragem e subimos por um troço com restos de asfalto até entramos por um desvio completamente de terra, buracos e muita gente que caminhava no sentido oposto ao nosso. o desvio, mais parecia um corte feito por uma maquina no meio do mato... em certos pontos era impossível passarem duas viaturas em sentido contrario, por isso a moto é o transporte que melhor se movimentavam ali. com algum jeito, fotografei as mulheres de mercadoria a cabeça, as crianças com os pés descalço, o capim verde e o céu. o céu estava lindo! não demorou muito até chegarmos a fronteira, lá estávamos nós a olhar para o outro lado da linha, República Democrática do Congo, o Zaire como antigamente se chamava.

gentes que passavam de cá para lá e vice versa com sacolas de produtos a mão, na cabeça ou em carrinhos de mão. aventurei-me a atravessar a linha apenas pela curiosidade do ato, andei pelo mercado que existe assim que se entra no Congo, onde é possível encontrar de tudo! computadores portáteis, pen drives, relógios, acessórios de carros, material de construção, produtos de beleza, medicamentos, enfim, uma mistura entre a falsidade e originalidade.

no regresso para Angola, fui abordado por três policias zairenses que rapidamente me retiraram a maquina fotográfica e começaram a falar ao mesmo tempo em francês, lingala e português; não é permitido entrar com isso aqui. quem és tu? a maquina está detida. por momentos entrei em desespero porque falavam todos ao mesmo tempo, incluindo o César que tentava explica-los que eu não tinha tirado fotografias... em português, o policia mais agressivo disse-me que teria de pagar 300USD! disse que não tinha e esvaziei os bolsos de onde saíram 3000 e tal kwanzas que o entreguei. não chega, respondeu-me de tal maneira que por momentos tive a certeza que a maquina já era!

foi tudo muito rápido, retirei o telemóvel do bolso e perguntei se chegava, acenou que sim e deixou-me retirar o chip para logo a seguir regressarmos para o lado de cá com tristeza pela acontecido. o César ainda tentou conversar com um policia angolano, mas eu queria sair dali o mais rápido possível até porque ao aproximar-me da moto notei que o pneu da frente estava furado! montamos e partimos assim.

em casa, liguei para alguns avisando que tinha ficado sem telemóvel e deixei as explicações para o regresso, entrei para o quarto e em segundos adormeci.

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