sexta-feira, outubro 21, 2011

o outro lado da espera

em Luanda, a espera é uma personagem constantemente presente em nossas vidas... espera-se por tudo, por todos e muitas vezes, espera-se incrivelmente por nada!

de ontem para hoje os meus dias não foram muito diferentes de muitos luandenses, tive também os meus momentos q.b de espera, mas como sou completamente impaciente sempre que espero e nada tenho a fazer que me ocupa aqueles longos instantes, ando sempre prevenido. livros, música, bloco de notas em papel liso e só. as ultimas horas foram de espera.

espera no transito porque o presidente da republica ia discursar no parlamento e as ruas estavam praticamente fechadas, espera porque insisto em frequentar o balcão daquele banco apenas porque o sorriso daquela balconista sossega o meu dia, espera porque como aquela muitas reuniões em Luanda só acontecem muitos minutos depois da hora marcada, espera porque depois das 14h o buffet terminou e tens de pedir a carta, espera porque para falares com um simples chefe de departamento de determinado ministério é preciso marcar audiência, espera porque para a obtenção de um visto encontras pessoas aos montes com excepção dos consulados daqueles países esquisitos, espera porque não há luz no escritório e o gerador não arranca porque parece que a manutenção não está em dia, espera no transito porque hoje foi a vez da presidenta da republica [Dilma Roussef] de discursar no parlamento e claro, as ruas foram novamente fechadas, espera por isso, espera por aquilo, espera, espera, espera e vamos continuar na espera que o país perca todas essas burocracias se não queremos deixar para as próximas gerações a herança da espera.

por outro lado, nos últimos dias notei que a espera tem me dado tempo para por a leitura em dia... só no tempo de espera das ultimas 48 horas terminei de ler a biografia do Fela Kuti, Fela – Esta Vida Puta de Carlos Moore, na espera da audiência não marcada com o chefe de departamento de determinado ministério li Marilyn Monroe The Last Sitting de Bert Stern com fotos inesquecíveis, ouvi os discos A Coruja e o Coração e Sweet Jardim da Tiê, Chico do Chico Buarque, Black And White América de Lenny Kravitz que por esses dias chegou-me num lindo saco fnac juntamente com o livro O filho de mil homens do Valter Hugo Mãe.

não sei se é assim com os outros luandenses, mas para mim tem sido uma excelente terapia ou talvez uma maneira de evitar com que a minha falta de paciência chegue ao limite.

e para a espera da próxima semana já tenho menu, além do Valter Hugo Mãe, vou adicionar também José Eduardo Agualusa com A Educação Sentimental dos Pássaros.

1 comentário:

Danita disse...

Incrível...como podemos ter tanta identidade com alguém de quem vivemos tão distante (em vários planos de tempo/espaço). Este mês termino minha extensão na Universidade de São Paulo sobre Estudos Comparados de Literatura em Língua Portuguesa. Por conta disso, fui pesquisar na web e esbarrei no seu blog. Adorei. Meu afilhado vive em Luanda onde trabalha, mas voltará para o Brasil. Tenho estudado tudo o que posso sobre Angola. A Literatura, a música, a culinária e tudo me parece muito intenso. Um grande abraço. Quando quiser me visitar, estou no blog pingodeprosa.com. Danita.