quinta-feira, novembro 08, 2012

sabe bem voltar... voltar a ler.

Parece-me mais fácil ter fé em Deus, não obstante ser algo tão para 
além da nossa limitadíssima compreensão, do que na arrogante
 humanidade. Durante muitos anos, afirmei-me crente por pura
 preguiça. Ser-me-ia difícil explicar a Odete, a todos os outros,
 a minha descrença. Também não acreditava nos homens, mas isso as
 pessoas aceitam com facilidade. Compreendi ao longo dos últimos
 anos que, para acreditar em Deus, é forçoso confiar na humanidade. 
Não existe Deus sem humanidade.

 Continuo a não acreditar, nem em Deus, nem na humanidade. 
Desde que Fantasma morreu cultuo o espírito d´Ele. Converso com 
Ele. Julgo que me escuta. Acredito nisso não por um esforço
 da imaginação, muito menos da inteligência, mas por empenho
 de uma outra faculdade, a que podemos chamar desrazão.

 Converso comigo mesma?

 Pode ser. Como, aliás os santos, aqueles que se vangloriavam de 
conversar com Deus. Eu sou menos arrogante. Converso comigo, 
julgando conversar com a alma doce de um cão. Em todo o caso são 
conversas que me fazem bem. 

Ludovica Fernandes Mano em Teoria Geral do Esquecimento
de José Eduardo Agualusa

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