sexta-feira, setembro 25, 2009

um convite aos de cá




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quarta-feira, setembro 23, 2009

uma dor por aí

Hoje, depois de escrever dez horas seguidas e sentindo-me cansado demais para continuar, levantei-me da mesa e tirei um livro da estante do corredor. Calhou ser Dickens, numa edição barata da Wordsworth. Tempos Difíceis. Abri-o onde resolveu abrir-se e apareceram quatro linhas mágicas: um filho visita a mãe, velha e muito doente. Pergunta

- Sente dores, mãezinha?

e ela responde

- Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer

e fiquei parvo com isto. Entre parênteses adoro ficar parvo com o que os outros escrevem: só costumo ficar parvo comigo, a interrogar-me de onde é que é aquilo saiu, porque não foi de mim com certeza, de maneira que penso que a mão de um anjo substituiu a minha. Tenho ideia que anda uma dor por aí mas não estou certa de me pertencer é uma pérola única. Igual à vida: quantas vezes senti isto, sinto isto, sem ser capaz de o exprimir. As dores que me pertencem são fáceis, as que não estou certo de me pertencerem custam tanto. Viro-as para um lado e para o outro, estudo-as contra a luz, experimento-lhes o cheiro, a consistência, a cor e a dúvida perpétua

- Pertence-me?

a perplexidade, a hesitação, enquanto a dor dói e me faz sofrer para burro. Estamos muito bem na sala e aí anda ela pelos cantos, fazendo de conta que não existe e no entanto a arranhar, a arranhar, ou antes a lacerar-nos todos, a gente para a dor

- És tu?

e não responde, finge que se vai embora e fica, que não nos liga e insiste, que não quer saber de nós e não desanima. Até no meio do prazer, até no meio da alegria permanece, alarga-se, entra mais fundo, com um arzinho distraído, não nos deixa em paz. Para quê falar nisto, o que interessam as minhas dores, de resto?
(...)

António Lobo Antunes

domingo, setembro 20, 2009

hoje, é um bom dia para assumir 31

sinto-me culpado porque aos poucos vou me habituando a tua ausência.

segunda-feira, setembro 07, 2009

o pedido da K e do F

em Angola e outros países africanos, o pedido é o acto em que a família do rapaz se desloca a casa da família da menina para pedir a mão da mesma em casamento, ou numa linguagem mais modernizada, o noivado.

o F e a K, jovens nascidos em diferentes regiões de Angola onde os hábitos e costumes pouco se assemelham, fizeram o acto tal como mandam as regras tradicionais das regiões em que cada um nasceu. ela, uma descendente dos povos Bakongo (província do Uige) e ele, descendente dos Kiokos (província da Lunda Sul).

com a respectiva indumentária e itens necessários, a família do F deslocou-se a casa da família da K e como manda a tradição, o rapaz fez-se acompanhar pelos tios mais velhos, que são quem toma a palavra no momento das conversas.

do outro lado, a família da menina preparou-se para que nada faltasse aos visitantes... num quintal a céu aberto, as cadeiras foram alinhadas como se de um frente a frente se passasse, de um lado os Bakongo e do outro os Kiokos.

o primeiro a tomar a palavra foi o tio mais velho da K... apresentou-se, deu as boas vindas e logo a seguir cada um dos membros da família dela levantou-se e fazia a sua própria apresentação... nome e parentesco que tinha com a menina.

na resposta, o mais cota dos Kiokos agradeceu e apôs as apresentações argumentou o motivo daquela visita... a carta dobrada e enrolada no lenço branco prezo com alfinetes dourados foi entregue para ser lida em viva voz, e assim, ficou-se a saber que a intenção do F é casar-se com a K no mês de Novembro de 2010.

depois dos acertos, a madrinha do rapaz foi convidada para acompanhar as tias até aos aposentos e trazer a menina cá para fora... a menina surge tapada com um pano tradicional, vulgarmente chamado como pano do Congo... e na presença do rapaz é destapada para que ele possa dizer se é ela a pessoa em questão. depois, são os Kiokos que novamente tiveram a palavra para apresentar os restantes objectos que acompanhavam a carta alem do dinheiro (a quantia não deve ser muito elevada nem tão pouco muito baixa) que veio no envelope da carta... mandou-se então buscar o tão esperado alembamento, os panos do Congo, a galinha viva, grades de cerveja e gasosa, o garrafão de vinho tinto de uma marca exclusiva e o mais importante, o fato com as medidas certas para o tio mais velho da menina. feita a entrega, o casal levanta-se e o F pegou na mão da K e pós-lhe o anel para simbolizar que dali em diante era ela a sua noiva e vice versa. dali para frente, a menina começou a ser tratada como filha dos Kiokos e o rapaz como filho dos Bakongos... disseram-se as palavras de encerramento do acto e o pai da noiva do F convidou todos os presentes a passarem para o outro lado do quintal onde um grande banquete os esperava... mais descontraídos, vieram os abraços, os beijos, as gargalhadas e com elas a felicidade daquelas duas famílias que independentemente da diferença de hábitos e costumes ou das influencias da globalização com que os seus filhos foram influenciados, conseguiram realizar um dos actos mais importantes na vida de muitas mulheres africanas.

ao fundo, Badiu Si de Mayra Andrade para a K e o F com votos que a felicidade esteja com eles.

sexta-feira, setembro 04, 2009

descobertas

por favor, compreendam que é apenas humor...
por favor, compreendam que é apenas humor...
por favor, compreendam que é apenas humor...

um convite aos de cá

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quinta-feira, setembro 03, 2009

para ti, que nunca me lês!

e ponto.
terminei de escrever a carta que te tinha prometido, em caligrafia manual com esferográfica bic cor preta como sempre gostaste. escrevi-te as saudades, os pensamentos, os planos, frustrações e outros... escrevi também aquela frase do Pessoa que te deixava sem jeito.

fechei o envelope com um pouco de saliva e sem aviso foi-me a coragem...escrevi o meu endereço no lugar do destinatário e enviei-te por correio azul.

em silêncio, vou aguardar pela tua resposta e mesmo que seja muda, será com alegria que te vou ler.

quarta-feira, setembro 02, 2009