quinta-feira, outubro 30, 2008

quarta-feira, outubro 29, 2008

agora a pouco, enquanto eu almoçava ela banhava-se











como em qualquer parte deste nosso mundo, a visão do expatriado tem um sabor diferente, embora muitas vezes ela só é bem vista pelos nacionais quando é positiva!
em Angola, infelizmente o pula só é um gaijo porreiro quando fala as coisas que todos querem ouvir, pois é um dos factores sine qua para que o dito expatriado seja aceite por “nós”.

em cidades cosmopolitas como Londres, Nova York (não conheço) ou Barcelona, em que na primeira esquina esbarramos com um expatriado, o que seria delas se eles não existissem?

Angola, felizmente para uns e infelizmente para outros esta caminhando para ai em passos super largos, e de alguma maneira temos todos que admitir que Luanda também é isso.

terça-feira, outubro 28, 2008

para ti, que nunca me lês!

existem momentos em que queria ter o poder de escolher a forma de ser da tua ausência.
hoje, queria ser eu a escolher, não o teu cheiro, não a tua voz (que ainda carrego em mente), não o teu sorriso, não aos teus conselhos ou o tua forma de falar em silêncio.
hoje, nada disso me faz falta!
hoje, é o teu toque que me faz falta.
hoje, é o teu abraço que quero.
hoje, quero ter contacto contigo.
hoje, quero a tua mão no meu ombro e com o teu silêncio ouvir-te dizer que estas feliz pelo momento.

segunda-feira, outubro 27, 2008

hoje, é um bom dia para assumir 17

Vivo en un país libre
cual solamente puede ser libre
en esta tierra, en este instante
y soy feliz porque soy gigante.
Amo a una mujer clara
que amo y me ama
sin pedir nada
—o casi nada,
que no es lo mismo
pero es igual—.

Y si esto fuera poco,
tengo mis cantos
que poco a poco
muelo y rehago
habitando el tiempo,
como le cuadra
a un hombre despierto.
Soy feliz,
soy un hombre feliz,
y quiero que me perdonen
por este día
los muertos de mi felicidad.

Silvio Rodríguez, Pequeña Serenata Diurna

quinta-feira, outubro 23, 2008

sim, eu acredito!

foi feito hoje o lançamento do projecto de Requalificação Urbana da Cidade de Luanda, e como em qualquer lançamento a maneira angolana, houve o cocktail, as lindas meninas do protocolo, os mesmos jornalistas e como não podia deixar de ser, as personalidades, muitas personalidades.

aos cambas que não se cansam de atirar-me a cara que eu sou um irritante pessimista, deixa-me dizer-lhes que desta vez serei irritantemente optimista e vou acreditar em tudo aquilo que ouvimos e esperar que as palavras de hoje se transformem em desejos realizados.


imagem da cobertura das lindas casas do condomínio Imbondeiro... ou será o Cajueiro... não, penso que seja o Baía Azul... estou em dúvida entre o Atlântico Sul e o Jardim do Éden!!! ops, penso que perdi-me, afinal são tantos!

adenda: informam-me via sms que a requalificação não é para Luanda, apenas será para o Município do Cazenga.

quarta-feira, outubro 22, 2008

internacionalização Vs oportunismo

já tinha escrito aqui que certos músicos deveriam ser considerados monumentos mundiais simplesmente porque nação nenhuma tem o direito de os aprisionar como monumentos nacionais.

ontem, andando por ai tropecei neste blog e logo a seguir neste post que estremeceu com a minha ideia sobre o respeito de decisão das belezas mundiais. 
mas afinal quem decide sobre a internacionalização de determinada beleza fenomenal, são os de fora ou os de dentro?

se eu pudesse, a Tori Amos também seria minha e só minha.

segunda-feira, outubro 20, 2008

aos sábados na kianda não se almoça!
na maioria dos cúbicos independentemente do nível social, costumam fazer-se sentadas pela tarde fora onde os tios mais velhos ou cotas da família como normalmente são tratados vão a casa de determinado parente para fazerem a boca. 

a ideia é cada um trazer algum ingrediente para completar a sentada, onde os kitutes da terra variam de casa para casa devido as diferenças gastronómicas que existem no país. como na kianda vivem muitas famílias de outras paragens, é comum encontrar num bairro duas sentadas onde o pitéu é totalmente diferente, ou seja, se dum lado juntam-se a mesa quiabos, macosso, makenene, usse ou o pirão, no outro, surge a banana pão, a mandioca, o carapau ou o cacusso grelhado, o funge de bombo ou o feijão de óleo de palma que quase sempre esta presente dos dois lados.
depois da mesa posta e as caixas térmicas carregadas de Cucas, Ekas, os vinhos tugas ou as Calseberg´s que agora nos invadiram, cotas e putos misturam-se num bate papo com cantigas de guitarras a mistura num momento onde a palavra tempo deixa de existir muitas vezes mesmo até depois da lua se fazer mostrar. é uma mistura de gerações onde enquanto os candengues correm em gritaria pelo quintal, os putos escutam atentos as interessantes historias dos cotas em que algumas das personagens dos contos já não fazem parte deste mundo que eu ainda testemunho.
na kianda, as tarde de sábado têm sabor e cheiro ao passado, com recordações que mantêm as lágrimas na ponta do olho que faz de tudo para não pisca-lo evitando assim um tumulto que pode constranger todo aquele momento hoje chamado de sentada angolana. 

hoje, é um bom dia para assumir 16

sexta-feira, outubro 17, 2008

Blindness

agora a pouco chegou-me um pacote que trazia o DVD do filme Ensaio Sobre a Cegueira, adaptação do livro de José Saramago [link do blog] realizado pelo brasileiro Fernando Meirelles.
como nunca li o livro, resolvi procurar o trailler do filme no youtube mas acabei por encontrar isto!


fora do contexto:
a sexta feira daqui da minha janela sempre vejo Luanda alegre, de música alta e transito mais fluido (com excepção da ilha, todos querem a ilha!), os sorrisos são diferentes e os planos são muitos. 
a noite já caiu e nos edifícios de escritórios contam-se as luzes que não se apagaram e os passos nos corredores já se foram, na rua até os candongueiros apressam-se para fazer a última puxada porque também já se querem juntar aos outros que lhes aguardam no local da desbunda.
por esta hora, as frustrações, a poeira, o transito infernal, as visões desconcentrantes, os nervos e até o descontentamento facial desapareceram por ai para dar lugar as festas da dipanda!
o brazuca cá da casa, desde que ouviu certo ditado por ai, todas as sextas-feiras começa o dia sempre com a mesma frase:
bom dia, hoje é dia do homem!

quarta-feira, outubro 15, 2008

no café, o grupo da mesa ao lado falava num espanhol cantado sobre o seu novo habitar, as cores, os cheiros, o paladar, as gentes, os sons, as paisagens e por fim do surrealismo que existe no cartão postal desta Luanda.
poisei a meia de leite e fingindo que estava lendo a GQ, fiquei por ali escutando-lhes até que me lembrei de Lorca quando em Nueva York escreveu assim:

Quiero bajar al pozo,
quiero subir los muros de Granada,
para mirar el corazón pasado
Por el punzón oscuro de las aguas.

El niño herido gemía
con una corona de escarcha.
Estanques, aljibes y fuentes
levantaban al aire sus espadas.
Ay qué furia de amor, qué hiriente filo,
qué nocturno rumor, qué muerte blanca!
Qué desiertos de luz iban hundiendo
los arenales de la madrugada!
El niño estaba solo
con la ciudad dormida en la garganta.
Un surtidor que viene de los sueños
lo defiende del hambre de las algas.
El niño y su agonía, frente a frente,
eran dos verdes lluvias enlazadas.
El niño se tendía por la tierra
y su agonía se curvaba.

Quiero bajar al pozo,
quiero morir mi muerte a bocanadas,
quiero llenar mi corazón de musgo,
para ver al herido por el agua.

segunda-feira, outubro 13, 2008

para ti, que nunca me lês!

e se algum dia não mais me apetecer escrever-te, vou ouvir-te.

o adeus!

Angola ganhou ao Níger por 3-1 mas perdeu a oportunidade de estar presente no primeiro mundial de futebol em solo africano, South Africa 2010.

na Sexta-Feira

no Domingo

quinta-feira, outubro 09, 2008

quarta-feira, outubro 08, 2008

hoje, é um bom dia para assumir 15

não quero voltar a cair no poço.
já sei que ele tem a cor escura, um cheiro de amargura e ouve-se constantemente a voz da saudade.
um era lituano o outro cubano e o terceiro angolano.
era noite, temperatura agradável e o movimento de pessoas na chicala em nada se parecia com o que acontece aos fins de semana.
conversaram muito sobre os mais variados temas, mas a certo momento pairava no ar a existência de um denominador comum para aquelas três culturas que em nada se pareciam e então, começaram as reflexões no espelho em cada vez que um contava alguma história do seu mundo. o terceiro que era o único não expatriado, por momentos sentiu que aquilo que ouvia parecia-lhe retirado de um filme em que o próprio participou durante muito tempo.

é engraçado que para um mundo tão grande como o nosso só existam dois caminhos, o esquerdo e o direito onde os mais fracos inclinam-se para o lado de quem fizer as melhores promessas e os mais fortes esforçam-se na luta para obterem o maior número de seguidores em que o denominador comum sejam eles.

sexta-feira, outubro 03, 2008

perdoem-me aqueles que por acharem-me um dos privilegiados, sentenciaram-me com a pena máxima;
cala-te.

para ti, que nunca me lês!

definitivamente, és a única parte doce que existe na saudade!

quinta-feira, outubro 02, 2008

extractos de uma Luanda em lagrimas

para os que pensam que eles estão desaparecendo com os assassinatos em serie que tenho presenciado, estão enganados. os fantasmas, nunca desaparecem totalmente!
mesmo em pedaços com um valor clássico, a cidade ainda tem pegadas de sabedoria e beleza que se confundem com olhar de tristeza de muitos idosos que encontrei naquilo que outros ainda insistem em chamar de lar.



é domingo de manha, mas para eles tanto faz, não lhes faz diferença o tempo, apenas sabem da contagem decrescente para a sua partida ou substituição como alguns tentam enganar-nos e então sentam-se olhando o passado que nunca lhes contou que era assim o tal futuro que tanto desejavam.



o presente e o tal futuro que no passado era o que mais eles queriam, cruzam-se hoje mas não se entendem simplesmente porque um não conhece o outro.



e eu que sou um simples privilegiado, e por isso e muito mais, muitos assumem-se no dever de espancar-me na face que não tenho o direito de achar, fito-me perante a dor da cidade e sem o tal direito nada posso fazer-lhe se não olhá-la, olhá-la e calar-me.



e então, surgem as palavras que como forma de lágrimas pouco conseguem disfarçar os momentos de angustia/alegria que ao passar por um tempo que não presenciei fazem-me sentir estranho por um sentimento que nunca soube de onde veio.



na aldeia onde vi o primeiro mukixi, os mais velhos costumavam dizer frases difícil de entender o sentido, talvez porque nós os mais novos ainda estávamos no passado e já eles estavam no futuro, mas hoje, perante tudo isso a duvida mantém-se: então porquê que não evitaram?



mais o pior, será se num outro tal futuro que hoje almejo eu, não estará o Yami a deitar lágrimas silenciosas que sigam o caminho das palavras aqui escritas e a duvida ainda esteja presente: e eles, porquê que não evitaram?