domingo, dezembro 28, 2008

a cara do Brasil

raramente vejo televisão e quando acontece, ela não me consegue prender por mais de 5 minutos. em Luanda por exemplo, chego a casa já de noite e com a certeza de que as noticias que estão passando no jornal foram ultrapassadas em tempo real pelos jornais online.

feliz ou infelizmente, na banda o programa Domingo do Faustão tem um nível de popularidade bastante alto entre a minoria que tem o privilegio de ter a multichoise (sistema de tv satélite), que só assim se pode ver a Globo Internacional.

a pouco, deitado na rede com o portátil ao colo, estava assistindo o DVD Fahrenheit 9/11 quando me apercebi que a imagem da tv lá no fundo era do Faustão. não foi nenhum impulso, parei o filme e decide ir ver o Faustão a partir do Brasil. ele conversava com uma menina de cabelos claros que já foi miss qualquer coisa, esteve no reality show big brother Brasil, participou numa novela que não fixei o nome e no momento é protagonista da telenovela Negocio Chinês. parece que a menina do sotaque bonito (ela fala cantando) já passou por muitas dificuldades na vida até conseguir ser estrela e pela descrição do apresentador a critica especializada em novela já bateu tanto nela que pouca gente acreditava que conseguisse levantar.
no final da entrevista, o apresentador disse com todo orgulho que a menina por tudo o que já tinha passado era sem duvida alguma a cara do Brasil.

alguns dias atrás, jantava eu no aeroporto internacional de Salvador quando o homem da mesa do lado disse para mulher (suponho eu) o seguinte:
Estou farto de ver as noticias, os cara só bota matança.
Será isso a cara do Brasil?

amanhã, parto para Ilhéus, não sei onde fica e nem quero saber, vou descobrir. pelo que me disseram é uma terra de praia e sol, engraçado, conheço muitos lugares no mundo onde o Brasil é conhecido pela cara de praia e sol.

sábado, dezembro 27, 2008

acarajé

acarajé é um quitute da culinária afro-brasileira feito de massa de feijão-fradinho, cebola e sal, frito em azeite de dendem (dendê aqui) e servido com jindungo (pimenta aqui), camarão seco, vatapá (ainda não consigue saber o que é), caruru e salada.
antes


depois


a seguir

tolerância

todos nós temos amigos com diferentes gostos, uns são pelo futebol, outros pelo ténis, alguns adoram formula 1, há quem não perde uma partida de basquetebol, e muitos até sentem prazer em ver duas pessoas aos socos por cima de um ringue! enfim, os gostos têm destas coisas, são tão desiguais que por vezes criam em nós alguma estranheza.

quando decide abrir as portas do attelier para alguns amigos, foi para que eles trouxessem para cá a sua visão sobre o natal dentro da linha editorial que cada um segue no seu blog, que alias sou um fiel leitor.
é normal que estas escolhas não agradaram a todos os leitores aqui da casa, mas preciso dizer que os gostos são assim, podemos até discordar, debater ou em alguns casos desconfiar, mas nunca deveria ser permitido julga-los.

infelizmente, nós os seres humanos somos interesseiros, geralmente só toleramos aquilo que nos interessa e isso, não esta certo.

um grande abraço a todas as pessoas que por aqui passam, os fieis, os esporádicos, os caloiros e os que estão por vir, a todos o meu obrigado e os votos que 2009 seja melhor... muito melhor.

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.
Abandono Natalício

Junto a grande superfície,
onde o colo que o não embala
desapareceu sem que se visse,
deixando umbilical fragilidade
dentro de entreaberta mala,
baixinho vagia, na imundície,
em troca de falsa liberdade.

O seu primeiro choro, miado,
no frio chão, molhado,
chorava...

Recém-nascido, recém largado,
no estranho mundo
em que a sua mala pousou,
como berço de palhas
em comercial estábulo...

E eis que uma estrela (ou um anjo...)
em atempado acaso,
os braços lhe estendeu,
e desse calor renasceu.

Um Santo Natal!

José Frade, um amigo que mora aqui.

sexta-feira, dezembro 26, 2008

um convite aos de lá

são reais as inverdades aqui escritas.

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.
As crianças de Natal

Todos os anos se repete que até parece é um ciclo. Noite de Natal. Uns acreditam vem o Pai Natal, outros sabem que vem da loja, outros ouviram falar. Mas ninguém fica mais indiferente nesta noite de Natal. Uns rezam, outros pedem, outros rogam e outros bebem porque dizem é de Natal. Até me disseram que o peru também bebe, mas eu ainda não vi porque se calhar fico muito tempo a olhar na janela a ver se vem o Pai Natal.
Mandamos postais, mensagens, enfim, nos lembramos daqueles que só nos lembramos uma vez cada ano. Fazemos promessas de nos portar bem e coisas assim que a gente para o ano vai repetir mais uma vez igualmente.
Uns comem doces, outros cabrito, outros bacalhau e outros comem com a imaginação.
Uns põe sapatos na chaminé, outros penduram meias na Árvore de Natal, outros têm os pés descalços na esperança dos ver calçados.
Uns pedem dinheiro, outros carros, outros jóias e outros direito de viver.
Todos somos crianças no dia de Natal.

JotaCêCarranca, um amigo que mora aqui.

hoje, é um bom dia para assumir 23

são raros, mas existem os momentos com a sensação de que alguma coisa falta!

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.
Eis que aqui vos trago boas-novas de alegria

“Eis que aqui vos trago boas-novas de alegria que será para todo o povo. Hoje na cidade de Davi, vos nasceu, o Salvador, que é Cristo o Senhor! E isto vos será por sinal; achareis o menino envolto em panos e deitado na manjedoura!”

O natal de uma criança deveria ser sempre um natal mágico, como foi o meu! Lembro-me que aos 7 anos, me vesti de anjo Gabriel e encenei uma peça numa igreja Metodista. E confesso, foi um dos natais mais bonitos e marcantes que vivi.

Até meu pai, que sempre foi um sujeito ocupado e nervoso (pelo menos na época era bem nervoso) compareceu ao evento e me deixou muito feliz!

Minha mãe participou da peça! Meu irmão! Foi muito incrível aquele natal. Incrível. Principalmente porque naquela igreja existia uma coisa muito bonita e rara, a união de crianças com poucos recursos financeiros junto com crianças mais abastadas (embora nem todos os membros aceitassem a ideia).

Existia um trabalho desenvolvido por duas senhoras da igreja, tia Alda e tia Silva, duas senhoras guerreiras, que trocaram o conforto de seus casarões por um trabalho sério com as crianças da comunidade carente próxima à igreja.

Meu pai que apesar de ganhar bem na época, nunca fez acepção das crianças carentes connosco. Pelo contrário, nós nos sentíamos totalmente integrados. Inclusive integrados à famosa “bandinha” da igreja. A bandinha era um grupo musical de crianças, que tocavam vários instrumentos, desde simples triângulos, à chocalhos e outros mais elaborados.

Mas é incrível como aquele Natal, cheio de boa vontade, alegria das crianças que participaram da peça e principalmente o esforço daquelas duas senhorinhas, ficou definitivamente marcado na memória. E tenho absoluta certeza que muitas daquelas crianças que hoje são adultas, nunca se esquecerão de como é bom ter um doce natal de verdade. Tratar o próximo como nosso igual, e principalmente dar às crianças a chanse de serem crianças felizes, crianças de verdade!

A vinda do Salvador a Terra é um prenúncio de como devemos nos tratar e amar!


Danny Doo®, uma amiga que mora aqui.

quinta-feira, dezembro 25, 2008

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.


M, uma amiga que mora aqui.

para ti que nunca me lês

ausentemente presente neste silêncio, gostei de aperceber-me que também ali estavas sentado.

e por fim a moqueca

o ser humano é incrível!
é, por vezes é difícil acreditar nas coisas que vêem do seu interior, e por alguns momentos já cheguei a pensar o que falta para uma separação total. os bons para um lado e os maus para o outro, como a gente diz lá na terra, cada macaco no seu galho.

quando decide deixar os meus, parti para uma aventura em que as expectativas não deixei subir, mesmo porque o pessimismo rodeava as informações que me iam chegando. ainda assim, mantive a duvida.

não é a primeira vez que parti para um natal onde o nevoeiro não me deixa ver as probabilidades de ser bem ou mal recebido.
ontem, no momento da ceia vi nas feições daquela família a alegria de compartilhar aquele momento com um estranho que do nada surgiu em suas vidas, e que sem pedir licença sentia-se feliz por ser recebido como o individuo que chegou como um estranho e num click de sincronização magica passou para amigo de muitos anos!
na amizade, existem falhas, desacertos e enganos, mas quando o tiro é certeiro é inevitável não nos sentirmos desarmados.

a mesa, tínhamos a moqueca [a meu pedido], o bacalhau, o vinho, o vermelho, os doces, a felicidade, a amizade, o prazer, os sorrisos e a sorte por aquele momento estar a acontecer em nossas vidas.
momentos assim, vou carrega-los comigo sempre.

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.
Natal = Amor
Em minha casa a palavra Natal ainda é sinónimo de família unida que vai a missa do Galo e se senta a mesa para ceia, está ceia que acaba por converter-se em momento de reflexão em que falamos do ano que termina das coisas tristes q sucederam mas sobretudo das coisas engraçadas. Ainda hoje a minha mãe lidera os cânticos q entoamos na noite de Natal entre estes cânticos o meu favorito é o que melhor reflecte o que significa Natal e o cântico diz assim:

Natal, Natal das crianças
Natal, Natal meu amor;
Natal, Natal das crianças
Natal do menino Jesus.

Deixei meu sapatinho na janela do quintal
E o pai Natal deixou meu presente de Natal;
Porque é que o pai Natal não se esquece de ninguém?

Seja pobre, seja rico o velhinho sempre vem
Seja pobre seja rico o velhinho sempre vem.......

Desejo feliz Natal a todos e lembrem-se que é o momento do ano em q o amor mais paira no ar, aproveitem para estar com os familiares
e pensar positivo, pois para mim Natal é amor.


Maria Liberdade, uma amiga que mora aqui.

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Feliz Natal

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.

Para os mais pequenos o Natal é vivido como um momento de beleza e mistério. O Pai Natal, a quem se escreve a pedir uma lista imensa de presentes, descerá pela chaminé, naquela noite, tão esperada e especial. "Será que mereces tudo o que pediste?", perguntam sempre os pais aos filhos e é esse um dos mistérios – o que trará o Pai Natal naquele enorme saco?
O Pai Natal, sentado no trenó, guiado pelas renas, prevalece no imaginário das crianças.


Mas no Natal, as imagens à volta do presépio tem um mistério especial. No Natal festeja-se o nascimento de Jesus, e S.Lucas narra assim o seu nascimento: "Naqueles dias, saiu um edito de César Augusto, para que se fizesse o recenseamento de todo o mundo(...) Iam todos recensear-se, cada um à sua cidade. José foi também da Galiléia, da cidade de Nazaré, à Judeia, à cidade de Davi, que se chamava Belém, porque era da casa e família de Davi, para se recensear juntamente com Maria, sua esposa, que estava grávida. Ora, estando ali, aconteceu completarem-se os dias em que devia dar à luz e deu à luz o seu filho primogénito. Enfaixou-o e o reclinou numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem. Naquela mesma região, havia uns pastores que velavam e faziam de noite a guarda ao seu rebanho. Eis que apareceu junto deles um anjo do Senhor...que lhes disse: Não temais porque eis que vos anuncio uma boa-nova...nasceu-vos hoje um Salvador. .."

Os mestres antigos, inspirados na beleza dos evangelhos, pintaram na escuridão da noite a virgem e os anjos iluminados pela luz divina que emana do menino, onde a experiência do sagrado é acessível a todos.

É este momento de beleza e mistério, acessível a todos, que também ainda hoje encanta crianças e adultos.

Madalena Lello, uma amiga que mora aqui.

terça-feira, dezembro 23, 2008

Bahia, a terra de todos os Santos

é, já sei, estão pensando que agora estou em Salvador?
errado, estou longe muito longe, a 6 horas de camioneta (onibus) da capital do Estado, numa terra onde se pode ouvir a voz da paz!

Juazeiro, alguém sabe onde fica?

para muitos podia ser a terra do fim do mundo porque na verdade nada aqui acontece, é, aqui não acontece mesmo nada, não acontece poluição sonora, não acontece engarrafamento, não acontece nervos nem stress na espera do transporte público, não, aqui não há nada destas coisas simplesmente porque a maioria das coisas ruins que vêem com o desenvolvimento ainda não deram a cara por estas bandas.

no pouco tempo que cá estou não deu para ver muito, mas o pouco já me deixou bastante satisfeito. experimentei o verdadeiro churrasco brasileiro (em Luanda, aqueles que acontecem nos condomínios fechados são adulterados), já provei a água do rio São Francisco que faz fronteira com o Estado de Pernambuco, já tomei um café da manhã que mais parecia um almoço, já bebi a cerveja Skol, já tomei da boa cachaça no bar do Giraldo, já comi cachorro quente feito de carne, já vi mulheres lindas, já ouvi forrô, já dormi uma tarde inteira numa rede, já acordei com o som dos passarinhos, já olhei a publicidade politica escrita nas paredes, que na verdade é bastante boa ou não seria o Brasil a terra de Washington Olivetto, e ainda assim falta muita coisa!

agora pergunto, porquê que tudo isso não aparece nem no google nem nos guias turísticos?

o attelier de portas abertas

no natal, abrimos as portas aos amigos.
PORQUE O NATAL

Nesses tempos de hoje, em que as pessoas não têm tempo para quase nada, ou não querem ter tempo para o que realmente é importante, o que significa Natal?
Eu ainda quero ter tempo para o que realmente importa nessa vida de passagem pela Terra.

Um dia, Deus no seu infinito amor, e depois de ter criado tudo e ter visto que o ser humano que ele criou com tanto carinho e atenção degenerou. Ele pensou: Vou providenciar algo para melhorar o rumo da história da humanidade. E foi o que Ele fez. Cá entre nós, Ele já sabia onde a humanidade ia parar. Ele preparou o seu filho Jesus, para vir ao mundo.
Os profetas anunciaram que Jesus nasceria, que Ele viria ao mundo como uma criança, nasceria de uma virgem e teria um pai adotivo e irmãos que o amariam. Deus poderia ter providenciado tudo de uma outra maneira, mas Ele quis mostrar ao mundo que, se a humanidade quiser pode caminhar num outro rumo.

Diz à história, que Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, se foi nesse dia ou não; não importa. O importante é que Ele nasceu. E nasceu como uma criança, um bebê, pobre e em um lugar destinado aos animais, uma estrebaria. Mas o seu nascimento foi um grande acontecimento, houve um sinal no céu, uma estrela apontando para quem o procurava. Três reis magos vindos do Oriente o procuravam, e quando o acharam lhe deram presentes com grande significado: ouro-poder, icenso-adoração, mirra-sacrifício.

Jesus nasceu como uma criança, ele veio ao mundo para trazer esperança. Cada criança que nasce seja em que parte do mundo for; é uma nova esperança em dias melhores.
Toda criança merece ser amada, respeitada e valorizada.
Toda a história em torno de Jesus é muito preciosa, falo de um Jesus mais humano que divino, sei do grande valor que Ele tem. E tudo o que Ele deixou de exemplos foi para mostrar ao mundo todo que existe um caminho de luz para a humanidade, basta querer. Jesus está aí, vivo em palavras de vida que nos alimentam e nos dão esperança em dias melhores.

Feliz Natal.

Lita Duarte, uma amiga que mora aqui.

maldito seja ele

sou um fingidor por excelência, finjo por tudo e por nada sempre que algo aparentemente perturba o meu estado emocional, e nas ruas de São Paulo não foi diferente.
quando ele se aproximou, evitei o máximo admitir o que estava vendo, a segunda tentativa esquivei a vista e pus-me a andar fingido que nada estava acontecendo!

há coisas que não podemos evita-las, elas existem e nada podemos fazer mas enfrenta-las e como enfrenta-las é opção de cada um, alguns respondem com agressividade, outros com o silêncio, conheço alguém que lhe faz um sorriso sínico mas eu, euzinho gosto mesmo de fingir que ele realmente não existe!

quando o preconceito a cor da pele surge na minha frente, não lhe dou atenção, ou melhor, não lhe ligo nada talvez porque na verdade não o vejo ou como disse acima finjo que não vejo ele, também porque recuso-me a dar um pouco da minha atenção a um bando de ignorantes.
para mim, o melhor é seguir em frente.
São Paulo é uma cidade das alturas e se apanhamos uma janela a cima do decimo andar no momento do nevoeiro matinal tem-se uma vista brilhante.

na manhã em que fomos a Avenida Paulista não me deslumbrei assim tanto, os edifícios não deixam de ser lindos e em certos pontos encontra-te o passado ali metido muito bem conservado... mas edifícios lindos também existem noutras cidades por onde tenho passado, por dentro insistia comigo mesmo que não era aquele Brasil que vim ver.

a paragem seguinte, foi para matar uma curiosidade antiga... olhar a maior colónia japonesa fora do Japão e por isso fomos lá a zona dos olhos rasgados que como me foi informado tinham acabado de comemorar o centenário da sua vinda para o Brasil.
assim que se sai do metro (metrô aqui), vê-se o que é a integração! aquilo é organização total de um povo que um dia deixou o seu habitar para procurar outras condições... se não fossem bem recebidos, dificilmente este lugar seria hoje tão bem japonisado.
infelizmente, o museu e o jardim oriental se encontravam fechado, por isso ficamo-nos pelas ruas e lojas com objectos que jamais tinha visto ao vivo. aquelas chinelas (não me lembro agora o nome) das gueixas, os kimones, as porcelanas e até aqueles barquinhos em madeira onde é servido o sushi deixaram-me completamente encantado.
magnifico, no Brasil estive no Japão!

ao almoço, encontrei o Brasil que procurava!
depois de andar pela Avenida 25 de Março, fomos ao Mercado Municipal Paulistano, que é exactamente aquilo que faria do meu ex-kinaxixi se tivesse o comando do poder em mão.
lindo de morrer. o cheiro do queijo que se mistura com o de bacalhau, onde há o azeite, o presunto, as especiarias, os mariscos, a sardinha, as mangas e os sorrisos dos vendedores que dificilmente fazem-te evitar uma compra. de cima, vinha um aroma diferente que nos obrigou a seguir-lhe as pegadas até damos de cara com a frase:
O famoso e verdadeiro pastel de bacalhau. estávamos no Hocca, bar paulistano.

e a gula, quase que nos saia pela culatra, porque eram tão bons mas tão grandes os pasteis que nem chegamos ao pastel de camarão sem falar das sandes que ficaram pela metade. não entendo porquê que coisas como estas não aparecem nos guias turísticos! os pasteis são uma obra gastronómica!

antes de cá chegar li alguns e-mails e ouvi muitas pessoas, mas nenhuma delas falou-me de duas coisas que me fizeram apaixonar-me pelo Brasil. a primeira deve ser tão vulgar para os brazucas que talvez muitas não vêem beleza alguma neles, mas pessoalmente gostei muito do orelhão, principalmente aqueles que estão agrupados em quatro... é muito charme!
a segunda foi a arte que existe nas ruas deste país, acreditem, nesta terra o talento anda por ai. a qualidade dos grafites é muito boa e quando analisamos as mensagens que neles estão expostas, é difícil não nos perguntarmos se os grafiteiros (ouvi assim) não deveriam ser melhor aproveitados.

os dias têm sido bastante agradáveis, mas ao final há sempre alguma frustração porque queria andar mais vezes a vontade e ouvir menos acho que ai não deves levar a máquina fotográfica, que alias é o facto que me tem desagradado bastante, o medo!
não sou nenhum louco e tento respeitar o máximo o ponto de vista daqueles que me aconselham para este caminho, mas hoje mandei-os f... e fui fazer da forma que gosto, andar sozinho de mapa a mão, mochila as costas e máquina ao peito... disparei até não puder mais e voltei vivo desta batalha. ser anónimo tem uma sabor único.
e antes de partir, lá fui buscar o pastel com recheio de camarão.

sexta-feira, dezembro 19, 2008

i and The Queen in São Paulo

a chegada, é inacreditável ver que pela cidade não se sente a presença da rainha!
nunca tinha visto algo parecido, Madonna veio actuar em São Paulo mas a cidade parece ignora-la, do aeroporto ao hotel apenas um encarte que acompanha a Rolling Stone (versão Brasil) fala da rainha), nada de outdoors, cartazes, flyers e outro tipo de publicidade! na manhã do grande dia passeamos pelo centro e nada de novo, no metro não se via nada até que a certa altura lá nos cruzamos com a menina dos olhos verde vestindo a t-shirt com os dizeres Madonna, Sticky & Sweet Tour 2008. primeira luz ao fundo do túnel.

a meio do dia, lá fomos até ao Estadio do Morumbi o que não foi uma descoberta fácil porque não havia nenhum tipo de informação que indicava o pessoal como e onde apanhar o transporte para o estádio. mas quem tem boca chega lá.
só no onibus (é, aqui não há camioneta) notava-se a presença de Madonna em São Paulo, as bandeiras, as t-shirts, os óculos e as conversas não deixavam duvida alguma, as meninas também vão para lá.
depois de horas de espera, surgiu o delírio no instante em que os portões foram abertos... correria para o lugar mais próximo do palco e ai nada mais tínhamos a fazer se não esperar. então, esperamos, esperamos, esperamos e esperamos... continuamos esperando, esperando e esperando até que o pessoal começou a desesperar porque já passava da hora da entrada do Dj! por vezes as estrelas têm destas coisas, desrespeitam um pouco toda essa multidão que é nada menos do que o factor chave da sua existência. ao fim de quadro musicas do tal Dj, já ninguém o queria lá e os gritos se fizeram sentir:
Madonna, Madonna, Madonna, Madonna, Madonna, Madonna...
mas ela não surgiu!
esperamos mais até surgirem os técnicos de som. delírio, ela vem ai.

nem me lembro para onde é que estava olhando quando de repente fez-se a escuridão no meio de tantos gritos e pulos...
a rainha veio por baixo naquela cadeira típica de quem tem o poder. 
assim que ela abriu a boca, não acredito que ainda existiam pessoas aborrecidas com o atraso do início do show, a menina segurou-nos as mãos e levou-nos ao céu! aos cinquenta é gostoso ver como aquela mulher se movimenta, inacreditável aquela força, impossível aqueles movimentos, Madonna é única.
quem desenha um palco daqueles?
quem escolhe o guarda roupa dos bailarinos?
quem cria a coreografia do show?
quem edita as imagens do telão?
quem descobriu aquela banda de gringos que surgiu ao palco?
quem disse a rainha que tinha de usar aqueles lindos calções vermelhos?

enfim, muitas perguntas para tantas coisas boas.
pessoalmente, Miles Away foi o ponto mais alto do concerto mas também ouve furor quando pisou e abusou da sua última relação, recados fortíssimos directo para o ex marido e para a escumalha de lideres que não merecem ter o poder em contraste com aqueles que são excepcionais. amei a imagem de Mandela, mas pelos gritos dos de mais não há duvidas, o homem do momento é Obama.

no final, já nem me lembrava das horas de espera simplesmente porque não havia espaço na mente para tal.
Madonna, thank´s for all. 

mau: falta de informação para quem precisava chegar ao estádio.
muito mau: as estrelas deveriam respeitar mais os fãs, aquele atraso não pode ser.
muito muito mau: inacreditavelmente para uma cidade como São Paulo. os transportes públicos não funcionaram em condições no regresso a casa!
muito muito muito bom: o público não se calou em momento algum!

quinta-feira, dezembro 18, 2008

do outro lado do oceano

demorou, demorou, demorou, demorou mas lá cheguei a terra onde o pequeno almoço e o matabicho têm o nome de café da manha.

e então é assim a terra de Caetano, de Vinicius, de Zeca Diabo, de Seu Jorge, de Cibelle e de outros, o Brasil que fui adiando, adiando até não puder mais.
a chegada, as cores, os sons e as imagens pouco coincidem com o que fui criando no meu imaginar, o Rio, ai o Rio. Sem que pudesse assentar, fui levado para ali porque eles achavam que na primeira vez todos querem saber como é a famosa Copacabana. 
olhei, ouvi, cheirei, andei, sorri, calei-me e voltei a olhar.
no regresso, perguntou-me se era o que tinha imaginado, tímido, recusei-me a responder simplesmente porque não era aquele o Brasil que vim ver.

segunda-feira, dezembro 15, 2008

António Lobo Antunes, o cronista fala do escritor

Hoje, um de novembro de dois mil e oito, sábado às treze e dez, acabei a primeira versão do livro, o que significa que falta escrever tudo não mencionando o trabalho de corte e costura e o frete de professor de Português a corrigir um teste que não lhe agrada até ficar em paz com ele. Depois batem no computador, emendo, volta ao computador, torno a emendar e andamos meses nisto. Ao achar-me contente com o material emendo mais, ao achar-me muito contente emendo ainda, ao achar-me feliz desconfio, ao achar que consegui aquilo que pretendia segue para a máquina e publica-se. A partir desse momento deixa de pertencer-me e começo a esquecê-lo. Ao esquecê-lo de todo principia a longa espera do livro seguinte: virá, não virá? Até agora tem vindo. O medo que não venha, o pavor de haver secado. Rapei o fundo à panela, acabou-se. E a pergunta angustiada: no caso de se ter acabado o que será de mim? Como viver sem estas vozes, esta necessidade estranha que desde os sete anos ou oito anos é a minha razão e o meu sentido? Nunca pensei publicar, aconteceu por acaso, o que me interessava era escrever. Foi-me sempre claro que enchia o papel de mediocridades e patetices mas tinha uma fé cega no meu génio. Anos 
e anos a insistir, a compreender que

(– Ainda não encontrei, ainda não encontrei)

todos eram melhores que eu e no entanto a certeza que seria melhor que eles um dia. De onde me vinha essa certeza? Sentia a força, ignorava como manejá-
-la. Levei séculos. Agora que consegui 
a questão é

– Não chega, tens obrigação de ir mais longe

de modo que me sinto de novo no princípio. Tens obrigação de ir mais longe. 
E nem que deixe a pele nessa luta hei-de ir. Nem que deixe a pele é um eufemismo: deixo-a mesmo. E sem pele continuo.
(...)

domingo, dezembro 14, 2008

e por estes dias, a cidade tem o mesmo cheiro deste humilde espaço.




sexta-feira, dezembro 12, 2008

Imagem de Fotografia2008

e lá chegou o grande dia.
os vencedores do primeiro concurso “Imagem de Fotografia2008” organizado pelo Banco Espírito Santos de Angola, BESA foram ontem anunciados.
o júri, composto por Jorge Gumbe, artista plástico, Maria João Ganga, cineasta e encenadora do grupo Elinga Teatro (ambos de Angola), Manuel da Costa Cabral, pintor português, Guy Tilliam, fotógrafo sul-africano e Leonor Sá Machado, directora de marketing e imagem do BESA analisou um total de 489 trabalhos vindos de dentro e fora de Angola com o tema “Temos Raízes”.

a entrada, eram muitas as caras conhecidas e desconhecidas, via-se a ansiedade de alguns, o disfarçar de outros ou o não estou nem ai de um grupo sentado ao meu lado. muitos homens, poucas mulheres ou quase nenhuma, alguns cotas e muitos jovens, poucos profissionais e muitos amadores, enfim, falava-se do prémio e as especulações sobre o vencedor saltavam ao ar.

Meus senhores, por favor queiram entrar.
na sala de cima o espanto! amor a primeira vista para aquela decoração, os moveis, os quadros, o pavimento, a carpete, e até os candeeiros eram lindos. a obra em cores vivas e material reciclado tinha destaque, afinal tratava-se de um menino de António Olé.
e então, vieram as menções honrosas, 10 no total.








e os vencedores.
os amigos, é muito difícil falar dos amigos!
Indira Mateta, a menina dos dread looks que quase sempre escapa da objectiva da minha máquina estava ao meu lado, nervosa porque a entrada alguém assobio-nos algo que tinha escutado por ai. assim que terminaram as menções ela apertou-me a mão, ao terceiro classificado enervou-se quando toquei-lhe o coração, ao segundo suspiramos mas escondemos os sorrisos, e por fim vieram as palmas, os abraços, os gritos, o orgulho, a felicidade e a vitoria, afinal a nossa Olissassa ganhou.

1º lugar
Indira Mateta
Obra: Afrobasketologia
Local: cidade alta, Luanda 






2º lugar
Francisco Gonçalves
Obra: Thingaji Nganguela
Local: menongue, Kwando Kubango




3º lugar
Osvaldo Paulo 
Obra: O Grito
Local: cazenga, Luanda 


no final, o BESA presenteou os presentes com o novo livro do fotografo angolano José Silva Pinto, ou Tomspi como também é chamdo.

terça-feira, dezembro 09, 2008

Luanda, recuperação e preservação do passado

e por fim alguém dispertou!
as placas velhas com os nomes das ruas da cidade têm sido substituídas por novas sem alterações na criação gráfica deixada pelo colono.
tenho mesmo de dizer, eu adoro estas placas.




























e os vencedores foram...

por distracção fiquei sem anunciar aqui os vencedores do FICLuanda 2008 e antes que volte a esquecer deixem-me dizer-vos que o júri presidido por António Olé, atribui quatro prémios e uma menção honrosa.

Prémio Cidade de Luanda
Kiari
Mário Bastos | Angola

Prémio Longa-Metragem
Deux Jours à Tuer
Jean Becker | França

Prémio Curta-Metragem
Corrente
Rodrigo Areias | Portugal

Prémio Melhor Documentário 
Cuba, Uma Odisseia Africana
Jihan Tahrin | França

Menção Honrosa
Kunta
Ângelo Torres | S. Tomé e Príncipe

segunda-feira, dezembro 08, 2008

um convite aos de cá

O Encontro Desse Olhar,
de 8 à 12 de Dezembro Bossa Nova no Auditório Pepetela em Luanda.
18h:30, entradas gratuitas

segunda-feira
Vinicius – filme de Miguel Faria Jr.

terça-feira
A Casa do Tom – filme de Ana Jobim
Olha que Coisa mais Linda – show de homenagem a Tom Jobim

quarta-feira
Casa da Bossa – homenagem a Tom Jobim
Jobim, Vinicius & Toquinho e Miúcha – DVD antológico 

quinta-feira
Coisa mais Linda: História e Casos da Bossa Nova – filme de Paulo Thiago
Roberto Menescal: 40 anos cheios de Bossa – show gravado ao vivo no Rio de Janeiro

sexta-feira
Bossa Nova in Concert – show gravado ao vivo no Parque dos Patins, Lagoa, Rio de Janeiro
Emílio Santiago: Bossa Nova – show gravado no Hotel Copacabana Palace, Rio de Janeiro

encerramento com Show ao Vivo
Mário Granacho (teclados) e Sónia Cunha (voz)

e ainda a exposição Vestidos de Bossa
capas de discos de vinil e de três quadros de Lino Damiao

frustrações da minha geração

sou um kaluanda acidentalmente, pois a maior parte da minha família vem do leste de Angola ou das terras da camanga como muitas vezes são tratadas as Lundas Norte e Sul.
cresci temendo Mukixis, comendo muito funge onde o conduto variava entre makossos, makenenes, candondos e as historias sobre a mascara da Mwana Pwo contadas pelo avô Manel (não Manuel) foram entre muitas as coisas que abrilhantaram a minha infância. ainda assim, existe a frustração!

sempre foi para mim uma decepção não saber falar nenhuma das línguas nacionais que se fala em Angola.
no post Gabriel Tchiema, senti-me envergonhado quando li o comentário do anónimo que disse:
Você consegue fazer a tradução da letra?
PS

em círculos fechados escuto algumas discussões sobre a procura de um culpado para este desaire que infelizmente atingi um bom bocado da minha geração. há quem afirme que são os mais velhos os responsáveis por isso, pois só se expressavam no seu dialecto quando queriam esconder o tema da conversa dos filhos, facto que muitas vezes presenciei lá em casa, mas por outro lado, penso que nós os mais novos precisamos de assumir que a partir de determinada idade não assumimos realmente a vontade de aprender e ai tenho mesmo que arrogar que sair da banda foi para mim um click do quão errado estava(mos).

os mais novos que infelizmente em alguns pontos têm hoje uma infância pior que a minha, devem sentir-se com sorte por estarem num outro tempo, onde apesar de ser apenas no privado, já existem instituições com algumas línguas nacionais no currículo escolar.

e como o PS (desculpe-me ter-lhe tratado por anónimo) foi o causador deste post, tive de arranjar maneira de responder a sua pergunta.
consultando uma mais velha, disse-me que a música Azwlula (abre) fala de uma homem que encontrou a mulher da sua vida e queria muito que ela abrisse as portas do seu coração para que ele pudesse penetrar nele.
não é a melhor tradução, mas foi a possível.

enfim, não sei mais de 15 palavras em kioko, ainda assim acredito que um dia ainda escreverei um post totalmente em kioko.

e nesta semana, a música que se escuta chama-se Ndolo Ypi (ypi é qualquer coisa má, ndolo terei de perguntar a mais velha).

quarta-feira, dezembro 03, 2008

hoje, é um bom dia para assumir 22

isto.

para ti, que nunca me lês!

nas ultimas manhãs, tenho sentido que o nosso reencontro esta para breve.
mas o mais estranho, é que o medo foi ofuscado por uma estranha alegria!

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Gabriel Tchiema

é a primeira vez que escrevo um post sobre a banda sonora que se escuta aqui no Attelier, mas tinha de ser.
o Gabriel é natural do leste de Angola mais concretamente da cidade do Saurimo, Província da Lunda-Sul. talvez por ser conterrâneo dos meus pais, a sua voz sempre se fez presente lá em casa, ainda hoje, me lembro de ver o velho sentado em pernas cruzadas escutando Twkale aos finais das tardes de sábado.

dez anos depois Azwlula (quer dizer Abre em kioko) chegou ao mercado, um álbum tchienda/pop cantado em kioko e com arranjos de viola acústica e piano clássico!
linda capa e com tiques da terra, as mascaras, os palhaços e até a fonte da letra vieram do leste.

nos agradecimentos, gostei muito do último paragrafo:
...
A você anónimo que de forma tão discreta e incentivadora apoiou-me, que Deus seja grandioso em sua vida.
...Nguna sakwila!

assim, escolhi este álbum como pano de fundo para estas últimas 4 semanas do ano e quem sabe desta forma consiga dizer ao meu querido Attelier dos Mangueirinhas que a sua prenda de natal chama-se Gabriel Tchiema.

Ouvir Gabriel Tchiema e sua viola é chegar às chanas do leste.
Colher mel das flores do campo e provar a verdadeira riqueza dum solo cravejo de diamantes.
Amélia da Lomba

Azwlula pito
Lya kw mbwnge ye
Azwlula wyve kwita tchiami
Tchize tangwa nakwningikine
Ami twlo tchishi kwamona nawa
Mivwmbo yé nashishile
Tchisi kwivwlama
Kanwa lye lykwete vulama
Lia ngu vulumissa ywma yessue

Azwlula azwlula pito
Azwlula
Lia kw mbwnge yé
Azwlula azwlula pito azwlula
Ngwetchie ngwn ndjile

Kwmanhionga jiami yena há yena
Kw ylota yami yena
Tchipwe há kwlia mbwnge kwli yena
Tchipwe nhi massepa jiami ngwli
Mbwnge kwli yena
Kw ngombo ngwna kaia
Ya ngw tahila ngwo
Ngwo kwzanga hi ykola ko
Ngwo nhi the ngwna zange
Kwtuama kanawa
Ngwo ytwmbo yami yena

Azwlula azwlula pito
Lia kw mbwnge yé
Azwlula azwlula pito azwlula
Ngwetchie ngwn ndjile
Gabriel Tchiema