sábado, maio 30, 2009

um convite aos de cá

o google, não nos da os cheiros II

o deserto. "Todo o homem, mulher e criança devia conhecer pelo menos uma vez na vida e descobrir o que significa a palavra silêncio." Ivo Canelas [actor].
 
o deserto não tem explicação, não tem cheiro, não tem entrada, não tem saída, mas no Namibe, o deserto, tem o mar.
 
não sei nem quero explicar a sensação de ali estar. a vista nunca acaba e a paisagem parece igual na esquerda e na direita, o sol diz olá e as welwitschias aguentam-se dia e noite como parte inseparável daquele lugar.

sentamo-nos e como crianças que admiram um novo objecto fomos falando da sensação individual que cada um sentia no momento, uns mais eufóricos que os outros, até que veio o por do sol e o cota S. (cabo-verdiano com trinta anos de deserto) disse: calem-se e olhem.










quinta-feira, maio 28, 2009

o google, não nos da os cheiros

Angola é um país de difíceis escolhas, seja para que destino for. a falta de informação especializada para aqueles que escolhem o destino de uma viagem nas paginas do google aqui não funciona, e por isso mesmo, partir assim me fascina ainda mais. não ter informação pode ser de alguma forma bom para quem parte.

sabíamos do deserto, das mumuílas, da Serra da Leba, da welwitschia, das acácias e de outras coisas que quase todo mundo sabe, mas e o restante, quem sabe do restante?

4h:30, aeroporto domestico de Luanda com gente que nunca mais acaba; bom porque hoje há varias companhias a voar para o interior do país e mau porque a fila de pessoas para embarcar eram na sua maioria de estrangeiros, talvez porque infelizmente têm os expatriados [detesto a expressão] um poder de compra maior que o nacional, mas isso, sou eu que acho.

na Catumbela, aterramos numa antiga base militar hoje adaptada para receber voos domésticos. o pouco tempo que durou a escala pouco ou nada se via da minha janela, alguns Mig´s que nos fazem regressar ao passado, um avião duma outra companhia e verde, tudo a volta era verde... do céu, ainda vimos as dunas e o mar, mas o meu cérebro estava concentrado no destino.

partimos e em pouco tempo estávamos no Lubango, cidade de muitos amigos e que desde criança oiço historias sobre o clima que se parece com a Europa. recepção calorosa e partimos para o centro... no caminho, estranhamos os sinais do desenvolvimento, há muitos pedaços que se assemelham a capital, para um sábado de manha, o movimento fez-nos desconfiar... muitos carros, muitas pessoas, muitas obras, alguns chineses, muitas stand´s com carros top de gama e muitas acácias, que foi para mim o primeiro sinal alegre de que finalmente pisei um pedaço de terra a sul de Angola.

antes de nos fazermos a estrada, indicam-nos o café de paredes cor de rosa para despistarmos a fome. a entrada, espantou-se o cubano do grupo com a paisagem no interior do café, afinal, éramos apenas quatro negros num espaço com mais de 15 pessoas. retiraram-lhe a preocupação, esclarecendo de que o único não angolano dos presentes era ele mesmo, ou não seria a Huíla o canto de Angola com mais mangopes de pele clara. 

seguimos para sul logo depois de comer o melhor palmier da minha vida, aos poucos, atravessamos a cidade e na subida do monte com casas de arquitectura “antiga”, olhamos o Cristo ao som de Velha Chica do cota Waldemar. há no Lubango provas de um cantinho sortudo, felizmente, ali as balas pouco passaram. descemos o monte e pouco depois estávamos na Serra da Leba, a famosa serra das 26(?) extraordinárias curvas! perdoem-me a arrogância, mas como é possível a minha Angola ser conhecida pelos 30 anos de guerra, o petróleo e os diamantes!? não é possível, não é justo, não é compreensível, não é aceitável. e o restante? o inexplicável? o único? por onde para?

a medida que fomos descendo, apercebi-me que fazer fotos seria distrair-me de saborear aquela paisagem...parece mentira estar rodeado de tanta beleza, um céu de sorriso aberto, rochas que parecem uma pintura em óleo, um silêncio que nos da as boas vindas e uma água que do nada, sai da enorme parede rochosa!

duas horas e tal de viagem e sem que ninguém o dissesse, não foi difícil sentir que o deserto se fazia presente, a subida da temperatura e o castanho que se via ao longe, despertou do sono os que não conseguiam combater o cansaço. as portas do Namibe, era em vão a minha tentativa de procurar mumuílas, a par da paisagem, eram os camiões conduzidos por chineses com quem mais nos cruzamos.

adoro partir, Miguel Torga escreveu que "em qualquer aventura, o que importa é partir, não é chegar", não podia estar mais de acordo, mas chegar ao Namibe foi diferente de todas as outras chegadas. os edifícios, as ruas, a estação de comboio, os cheiros, aquele monte que espreita a cidade e até o mar pouco se parecem com Angola de hoje. no centro, nada difere das fotos do livro de Língua Portuguesa que tinha na primeira classe, é quase uma estagnação no tempo, mas uma estagnação bem conservada como comprovavam as placas na maioria dos prédios: Sociedade Cooperativa de Moçamedes. chegamos.

em pouco tempo, hospedamo-nos e saímos a pé de calçada em calçada e com máquinas ao peito fomos olhar a cidade.













terça-feira, maio 26, 2009

partir, significa sempre [ou quase] um regresso com mais conhecimento.

Kings Of Convenience como pano do fundo

Vêem-se melhor de noite, os olhos dos mortos. É por isso que eu gosto tanto de atravessar as noites em claro. Há dias, no fim de uma homenagem a Eduardo Prado Coelho, uma pessoa do público pediu que os oradores lhe explicassem  o que seria o “orgasmo vertical” de que Eduardo falara uma vez, numa crónica. O pedido poderia parecer uma provocação – mas o halo de bonomia de Eduardo pairava no magnífico Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, estilhaçando a possibilidade fácil da provocação. Porém, só pela noite dentro entendi que a resposta certa seria: a morte. Não o instante do passamento, mas a existência vertical e intensa que os mortos passam a ter em nós, quando de verdade os amámos. Todo amor é póstumo; enquanto vivemos tem a impiedade do sol, que tudo mostra, ou seja, tudo esconde. O amor vivo é uma roda de alegria e dor, conforto e tédio. Entontece e anestesia. Só sob o manto da noite silenciosa o amor revela o seu brilho magnético e o seu trajecto de inamovíveis acontecimentos. Quando falamos dos nossos mortos, usamos as palavras como lençóis ou bandeiras em que todos se assemelham – bons, bravos, inteligentes, tão comuns na imortalidade que nada os distingue. É útil o ritual desta lembrança: dá-nos a ver que os mortos não têm cor, nem raça, nem classe social, nenhuma dessas grilhetas que tanto nos tolhem os passos da vida. Quando evocamos esses que nos fazem falta no mudo desamparo das nossas almas de vivos, desdobramos os panos oficiosos e vemo-los fracos, humanos como foram, dobrados a trabalhos e vénias, sofrendo de ciúmes e invejas, sonhando em itálico, como se fossem eternos. Assim os evocamos na noite e no silêncio: pessoas frágeis tropeçando e caindo, enganando-se, sofrendo e preservando. É essa a sabedoria que eles nos oferecem: o conhecimento da vida desperdiçada, a evidencia do vão combate. Por isso são anjos, seres humanos que sobrevoam cada um de nós, secando-nos as lágrimas e sacudindo-nos a cobardia, e não santos capazes de nos falar do alto das nuvens, ou de nos abraçar em cordas de chuva. Só um dos meus mortos é santo, isto é, um mestre de memoria exemplar. Chama-se Haquira – um nome aberto em prece ou consolação. Dedicou toda a sua existência ao essencial: a descoberta do sentido particular de cada obra ou pessoa. O amor. Aplicou à doença a disciplina de serenidade que escolhera para vida. Arrumou os papéis, despediu-se de cada um dos seus vivos sem jamais lhes dizer adeus, escrevendo a cada um as palavras exactas que lhes sabia em falta, e preparando-se para continuar a escrevê-las, através das estrelas das noites infinitas de cada um de nós.

Outro dos meus mortos, quando era vivo, escreveu um romance chamado “Os Nós e os Laços”, reflectindo sobre as causas das guerrilhas sentimentais em que as pessoas se gastam, porque chamam amor a ambições e medos. Outro ainda escreveu um livro chamado “Valsa Lenta” em que os instrumentos da morte e da vida compunham uma única sinfonia. Na parede de um restaurante que ambos frequentavam, encontro-os sorrindo nas fotografias, ao lado de um outro morto que escreveu uma pagina sublime sobre o cemitério secreto em que ia enterrando os vivos que o traíam, continuando, depois do enterro, a sorrir e a conversar amavelmente com os seus fantasmas carnais.

É com os mortos que aprende o amor, e por isso o amor chega sempre tarde – demasiadas vezes, no desespero de matar a morte, o amor nunca chega a tocar-nos, ou toca-nos apenas como um arroubo do corpo, que no corpo se prende e se esvai. O amor é a arte de encontrar no rosto do outro o espelho dos nossos sonhos. Nesta noite que atravesso, procurando o caminho das palavras na luz intermitente que à lua entrega a terra, vejo, sobre as pedras da cidade, os corpos adormecidos e abraçados de uma rapariga e de um rapaz. Quando nascer o sol, apagando o sono e o abraço, vê-los-emos como a rapariga cigana e o rapaz cabo-verdiano que se apaixonaram e sofrem perseguição das cores, dos documentos, das famílias, e que por isso não têm casa nem dinheiro nem comida. Durante a noite, no entanto, as cores desaparecem, e os corpos abraçados destes amantes revelam apenas o lugar do amor. Ou da “beleza ética”, para recordar uma outra expressão feliz de Eduardo Prado Coelho, que sabia convocar a sombra que alonga as palavras e as faz caminhar, lentamente, para esse território sem fronteiras nem arestas que ele nomeava como a noite do mundo.

Inês Pedroso, Revista Única

domingo, maio 17, 2009

depois das palavras, as imagens [até a próxima]

em criança, a imagem dos mukixes era um terror para nós. poucos acreditavam que por trás daquelas vestes existia realmente uma pessoa e quando surgiam a dançar no bairro corríamos sem nunca olhar para trás.

a dança dos palhaços é uma imagem fixa que tenho da minha infância, muitas vezes os mais velhos usavam a chantagem para nos fazer cumprir determinada coisa: 
se não comeres vou dizer ao avô para mandar chamar o mukixe.

felizmente, nem sempre os regressos são dolorosos.








sábado, maio 16, 2009

aceito alucinações

independentemente de ter viajado ou não algum dia para Luanda, diga-me.

como imagina Luanda. 
arcoires@gmail.com 

depois das palavras, as imagens V











quinta-feira, maio 14, 2009

hoje, é um bom dia para assumir 27


chama-se Bi´ban ké, mas podia muito bem seres tu.
chama-se Bi´ban ké e é tão parecida contigo!
chama-se Bi´ban ké e faz-me sentir ao teu lado.
chama-se Bi´ban ké e leva-me ao passado, ao presente e a um futuro inatingível. 
chama-se Bi´ban ké e é a terceira faixa do disco de estreia da cantora nigeriana Asa.

depois das palavras, as imagens III











terça-feira, maio 12, 2009

depois das palavras, as imagens

N´dalatando

Morro do Binda

cidade de Malange

Lucapa

município de Capenda Camulemba


cidade do Dundo