terça-feira, dezembro 31, 2013

cantiga de amor para o último dia...

este não é um texto de feliz natal nem de balanço do final de ano, isto é uma declaração de amor para o lugar onde nascemos, este lugar que muitas vezes nos altera o temperamento pelos acontecimentos irreais que nele se passam, esse lugar que quase sempre se da ao luxo de ignorar a criatividade da sua juventude, esse mesmo lugar que tem a petulância de não querer explorar um monumento chamado Waldemar Bastos, um lugar que tem empresários da juventude e empresários do povo que talvez nunca tenham lido um único livro, este lugar que afasta as crianças das palavras de um livro mais quase sempre aproxima-lhes do kuduro, um lugar que se preocupa em fazer mediatecas de última geração com tanta gente que nem sequer sabe ler nem escrever, o lugar que nas brincadeiras de amigo oculto na época de natal é sempre mal visto aquele amigo que se digna em oferecer palavras, este mesmo lugar que quase ignora o facto do Ondjaki ser um dos prémios de literatura mais importantes da CPLP, e sim, o mesmo lugar que o concurso de divas tem mais destaque que a obra fenomenal do Gabriel Tchiema, um lugar onde quase ninguém sabe que o Bonifácio é uma das personagens do livro O Ministro do escritor Uanhenga Xitu mas é bem possível que quase toda a população sabe que o Félix é a melhor personagem da novela Amor à Vida, um lugar em que as bibliotecas publicas por vezes criam depressão de tão abandonadas que estão, este mesmo lugar que se da a honra de organizar uma festa de comemoração da sua independência no país de Luther King e o convidado especial chama-se Nagrelha, um lugar onde é possível ler-se o jornal cheio de erros ortográficos porque é normal..., este lugar onde abrir um infantário/creche virou moda depois da moda dos colégios vulgarizar-se, este lugar que a maioria dos estudantes universitários sequer sabe quem foi Clarice Lispector, o lugar que raramente os pais têm tempo de lerem uma pequena história para os seus próprios filhos, este mesmo lugar onde todo mundo diz que somos atrasados porque não temos água canalizada, luz eléctrica, falta de transporte público mas o analfabetismo não entra nessa lista, enfim, o lugar por onde já passaram Júlio Iglesias, Roberto Carlos, Jay_Z, Macy Gray, Manu Dibangu, Mariah Carey, Ivan Lins e até os Boney M e Juan Luis Guerra foram ressuscitados mas nunca há dinheiro para Mia Couto, Mario Vargas Llosa, Rubem Fonseca, Mariama Méité, Chimamanda Ngozi Adichie, sem falar do Chinua Achebe que partiu sem sequer vender no largo da independência o seu livro ou do José Eduardo Agualusa que só lhe vemos a distancia... 

mas como dissemos no inicio, isto é uma declaração de amor para esse lugar chamado Angola que todos magoamos e maltratamos mas que continua a ser o amor da nossa vida.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

descoberta

no centro da cidade, no mesmo número, na mesma entrada num edifício do século passado... uma galeria d´arte de nome O Pico Mocambo e um bar que todos chamam o Bar Rumeria.
 

domingo, dezembro 01, 2013

7ª Bienal Internacional de São Tomé e Príncipe

1º quando reparei na movimentação de militares pela cidade, imaginei logo que seria o presidente da republica a fazer a inauguração da bienel, nada anormal, afinal os políticos gostam de holofotes. para mim o espanto foi ver um presidente a fazer a abertura de um evento aberto ao público sem que para isso fosse necessário que este mesmo público fosse credenciado ou convidado. para mim, isso é anormal e quando disse para alguns santomenses, ficaram sem perceber o que eu queria dizer. 

2º apesar do meu receio com a fraca comunicação que o evento teve, a verdade é que o público apareceu em massa, famílias inteiras apareceram e as crianças se deliciavam com as imagens em formato XXL que o apresentava. 

3º o espaço da CACAU foi totalmente redesenhado, alias RE-DESIGN é o tema desta bienal. o lugar ficou com uma imagem mais clean, as paredes são enormes e as imagens se encaixaram bem... pena foi terem retirado a pequena sala de cinema com banco corrido em madeira que passava os filmes sobre o comercio do cacau. eu adorava aquilo. 

4º o espaço da Fundação Carlos Delfim Neves pareceu-me frio de imagem, alias, o armazém parece mais de logística do que propriamente para arte... mas logo a entrada do espaço a obra do Binelde Hyrcan arrasa com qualquer preconceito que alguém possa ter com o espaço! depois de muito ler e ver imagens, foi a primeira vez que tive contacto físico com o exercito de galinhas embalsamadas desse rapaz que actualmente é para mim um dos melhores artistas angolanos. 

5º a falta de um programa faz-me especular. como país convidado gostei de ver o trabalho dos artistas (Mestre Paulo Kapela, Kiluanji Kia Henda, Edson Chagas e o Binelde Hyrcan) que representam Angola, mas se forem apenas esses, então a nossa presença será muito fraca, mas como já disse, a falta de um programa faz-me especular. há rumores da participação em janeiro da Companhia de Dança Contemporânea de Angola. 

6º penso que a noite poderia ter terminado com música, alias, sentia-se no ar aquela pergunta, e agora como vai terminar a noite? 

7º está assim aberta a BIS 7ª Bienal Internacional de São Tomé e Príncipe RE-DESIGN | SÍNTESE | Inauguração | Sábado | 30 Novembro 2013 - 28 Fevereiro 2014 | Entrada Livre.


 

sexta-feira, novembro 29, 2013

é já amanhã

o ano passado quando me preparava para visitar São Tomé e Príncipe, uma das informações que mais encontrava nos sites francófonos era sobre a 6ª bienal que tinha acontecido um ano antes, imagens, cartazes e até o programa encontrei por aí. por isso, quando cheguei a ilha não me surpreendeu os vestígios que ainda haviam do evento... alias lembro que um dos edifícios que mais me impressionou tinha na fachada principal um enorme painel sobre o evento. 

para esta 7ª edição da Bienal de São Tomé e Príncipe que amanhã começa, Angola foi escolhido como país convidado, por isso decidi regressar para cá faz muito tempo. neste tempo todo que fui organizando a viagem, surpreendeu-me a falta de informação sobre o evento, com excepção da pagina do facebook, é quase impossível encontrar informações sobre o evento... alias, à menos de 24 horas do inicio do evento não tive contacto com o programa ou coisa de género. na verdade, a cidade não respira bienal, as pessoas não sentem a bienal e atmosfera parece-me um pouco estranha para um lugar pequeno onde vai acontecer um evento tão grande como esse! na conversa com algumas pessoas, disseram-me que alguma coisa se passa porque é a primeira vez que não sentem nada, até ao ponto que hoje uma funcionária do maior hotel da cidade não sabia nada sobre a bienal! fora alguns cartazes que encontrei por aí, pouco ou nada se vê na cidade... é preciso ir ao CACAU para sentirmos que alguma coisa em grande vai acontecer. 

mas o que mais me entristeceu é que em Angola as coisas também estão pelo mesmo caminho! desde que conheci esse país que repito vezes sem conta que é muito mal vendido em Angola, mas como país convidado, penso que nós próprios os angolanos poderíamos fazer um esforço de comunicar que estaremos presente. hoje é sexta feira, dia que saem os jornais lá em Luanda, não sei se escreveu-se alguma coisa, mas espero sinceramente que até Fevereiro essa obscuridade acabe, afinal, não acho mal saber-se que o musico tal, o artista fulano ou o fotógrafo fulano vão estar por cá. 

entretanto, os preparativos continuam.