quinta-feira, agosto 28, 2014

domingo, agosto 24, 2014

iloveLUANDA

a Suzete era uma brasileira que na altura da minha infância vivia no 7º andar do edifico de fronte ao prédio JPimenta. era no seu simples e bem arrumado apartamento que passei muitas horas da minha vida... um espaço de cor castanha e com sotaque carioca em todos os cantos! naquela altura não existia internet, assim, a Suzete matava as saudades do Rio de Janeiro de uma forma muito própria. em Luanda, a vida dela resumia-se em dois pontos: as aulas de piano que dava com bastante carinho e as constantes histórias que contava-nos sobre a sua filha e o Rio de Janeiro... aliás, nunca conheci a filha da Suzete, mas naquela altura sabia tanto sobre ela como do Rio de Janeiro. 

a Suzete foi a minha professora de piano e foi com ela que aprendi a viajar para um lugar chamado imaginação... mesmo sabendo que quando saia das aulas de piano os meus amigos da rua comandante stona gozavam comigo porque estudava uma coisa para filhinhos de papai (betinho, como se diz hoje), a verdade é que as tardes que passava com a Suzete me encheram de coisas boas. degustávamos Vivaldi, Strauss, Tchaikovsky e outros génios, por vezes até Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros... mas lembro bem que era o Richard Clayderman que mais ouvíamos e havia vezes até que passávamos a tarde inteira ouvindo histórias da literatura brasileira. Machado de Assis era constante. 

a semana passada tive uma experiência arrepiante na Taberna Urbana, um novo espaço que abriu numa ruela na baixa da cidade. Luanda Classical Nights com o pianista russo Alexey Shakitko, foi para mim um momento bastante intenso, com pontos agridoces que me levaram quase a exaustão! por vezes, existem situações agradáveis que me fazem recordar coisas tristes, mas gosto de recordar dessas coisas porque me fazem bem! 

sentei-me em frente ao pianista e a medida que o “concerto” avançava, parecia que ele conhecia com profundidade a minha intimidade... conversamos com os olhos ao som das notas de compositores russos, trocamos sorrisos e por momentos achei que ele notou as lágrimas que quase tocaram as teclas da Clavinova de marca Yamaha! na verdade não eram lágrimas, eram agradecimentos aos meus pais por me terem dado condições de conhecer a Suzete apesar de todas as dificuldades que passaram, e agradecimentos também a Suzete por me ter apresentado uma coisa chamada música clássica. 

cada um ama a cidade que tem ou, como afirmam algumas pessoas, a cidade que merece. eu amo Luanda porque no meio de tanta merda, essa cidade é um lugar inconstante, um lugar de surpresas, um lugar que do nada te deparas com um espaço como a Taberna do Urbana com um russo a tocar piano com o reportório de compositores russos! 

da para odiar uma cidade assim!? 

terça-feira, agosto 19, 2014

um convite aos de cá

um flash ao dia de hoje

 
para assinalar o dia de hoje, no domingo estivemos sentados a falar de e sobre fotografia, um momento que apesar de muitas coisas negativas que por cá têm acontecido, apreciei com muito prazer por estar próximo de algumas pessoas que admiro. 

para quem acompanha este e o outro espaço aqui ao lado (agora mais parado que os passos de um camaleão!), tem uma ideia do significado que a fotografia tem na minha vida, uma arte que me ajuda a respirar e com quem aprendo todos os dias. apesar do espanto de muita gente, nunca me apresento como fotografo porque é assim a verdade. eu sou publicitário e é assim que ganho a vida, e apesar de estar envolvido com a fotografia, sempre discordei de muitas pessoas que acham que sou um fotografo. é verdade que vivo no meio de imagens, no meio de cliques e muitas vezes de histórias contadas através dessa arte... é verdade também que já ganhei algum dinheiro e já conheci alguns lugares graças aos disparos que faço por aí, mas a verdade é que eu sou um publicitário. 

conheço pessoas que entraram para o mundo da fotografia por diversas influencias... uns por um amigo ou familiares, outros por terem recebido uma maquina de presente, muita gente por ter se apaixonado por determinada imagem de algum fotografo conceituado, ou outras histórias de influências. comigo, foi na casa onde cresci e por influência dos meus país que na verdade não tinham qualquer paixão dirigida a essa arte. a verdade é que cresci num lugar em que fui exposto a muitas coisas que indirectamente para mim estão ligadas a arte de fotografar... os livros, a música, as tertúlias, a tolerância, a curiosidade, a diferença, o respeito, estão entre as muitas coisas que me ajudaram na inclinação para começar a fotografar. por isso, afirmo que a minha influência veio de duas pessoas que sem qualquer conhecimento especifico sobre esta arte, acredito que pelo menos tinham conhecimento de quem era a Dorathea Lange, o Robert Capa, o Helmut Newton ou o Alberto Korda, o homem da revolução. os meus pais, foram eles quem me apresentaram a maquina fotográfica, mesmo que não tenha sido intencional. 

no domingo, ali na Taberna Urbana onde nos encontrámos para o programa Manhã de Domingo, gostei de estar próximo e ouvir pessoas que admiro, pessoas com legitimidade para apontar o dedo e tocar na ferida sem temer represálias de ninguém... pessoas que os nossos jornalistas deveriam ouvir com obrigatoriedade, enfim, pessoas que num país normal teriam elas a notoriedade que infelizmente é dada a quem não merece, pessoas que gosto mesmo que elas não saibam quem eu seja e que me interesso por saber o que fazem fora da fotografia, que livros gostam, que filmes assistem ou que tipo de música gostam, porque essas coisas são também referencias para quem quer e precisa aprender sobre fotografia.
 
Pontes Criativas®

Pontes Criativas®

quinta-feira, agosto 14, 2014

terça-feira, agosto 05, 2014

...

agora que terminei de ler o livro da Lara percebi o quanto sou desinformado sobre o assunto do 27 de Maio! 

sou da geração de 80, a mesma que cresceu a ouvir sobre o assunto tabu um pouco aqui e acolá, onde por vezes os tios e até mesmo os pais mudavam o tema da conversa assim que nos aproximávamos... depois de ler esse livro, descobri que afinal continuo sem saber de nada! 

a palavra desenvolvimento está em "todos" os cantos do país, mas os responsáveis pela banalização e propagação dessa expressão esquecem-se muitas vezes que o sinónimo dela não se aproxima apenas dos prédios altos, dos carros caros que andam por essas estradas esburacadas, dos novos boeings com três 7 ou de muitas outras coias que nos têm confundido com o real significado da palavra desenvolvimento.

desenvolvimento de um país é também a capacidade do seu povo de enfrentar os seus tabus, os seus erros e falhas, mesmo que a decisão traga amarguras e feridas que pareciam saradas... é preciso falar, é preciso ouvir, é preciso contar e o mais importante, é preciso disponibilizar o maior numero de informação sobre um tema que fere. 

e isso, não tem mal nenhum. 

acreditem, países que assim o fizeram acordaram menos pesados e com algum alívio e as coisas passaram a ser “normais”. vamos a Portugal e em qualquer biblioteca encontramos livros sobre o Salazar. vamos ao Brasil e em qualquer biblioteca encontramos livros sobre os excessos da ditadura. em New York, em Houston, em San Francisco ou em qualquer biblioteca dos Estados Unidos da América encontramos toneladas de livros que falam do racismo, os próprios israelitas e palestinianos têm disponíveis livros que falam sobre um assunto que todos os dias lhes trás dor... sem esquecer aqui bem perto de nós o país de Mandela que enfrentou os seus fantasmas e tiveram a coragem de disponibilizar informação! 

ouvindo Ayo - Better Days