segunda-feira, março 30, 2009

The Reader


...
500
No seu livro descreve o
processo de selecção...

501
Sim.

502
Eram forçadas a trabalhar e depois,

503
quando já não lhes eram úteis,

504
enviavam-nas de regresso
a Auschwitz para serem mortas.

505
Estão aqui hoje presentes pessoas
que faziam essa selecção?

506
Sim.

507
Preciso que as identifique.

508
Pode apontá-las, por favor?

509
Ela

510
Ela.

511
Ela.

512
Ela.

513
Ela.

514
Ela.

515
Obrigado!
Continue, por favor.

516
Cada uma das guardas escolhia
um determinado número de mulheres.

517
Hanna Schmitz escolhia de forma diferente.

518
Como assim, diferente?

519
Ela tinha preferidas,
raparigas novas de um modo geral.

520
Todas nós reparámos nisso,

521
Ela dava-lhes comida e sítio para dormir.

522
A noite,
pedia-lhes que viessem para junto dela.

523
Todas pensámos

524
- Bem, pode imaginar o que pensámos.

525
E depois descobrimos...

526
...ela fazia estas mulheres lerem-lhe em voz alta.

527
Elas estavam-lhe a ler.

528
No início pensámos... esta guarda, esta guarda é...

529
mais sensível,

530
ela é mais humana,

531
ela é mais bondosa.

532
Escolhia frequentemente
os fracos, os doentes,

533
ela escolhia-os,
parecia quase que os estava a proteger.

534
Mas depois livrava-se deles.

535
Isso é ser mais bondosa?

domingo, março 29, 2009

Excombatentes

As africas, os choros, as tardes as noites as estrelas, a estrada os desertos, as esperanças.
As ficadas, as colhidas, as picadas, as mordidas.
A solidão, a África solitária, afastada, inaudível e os norte americanos.
As saídas, as contra partidas, os emergentes.
Avisem pelo menos os “independentes”, os “Globalizados”, “os patos” e as donas de casa do primeiro mundo da nossa Criativa contemporaneidade africana.

Excombatentes, assim se chama o novo disco do nosso querido Paulo Flores, uma trilogia (Viagem, Sembas e Ilhas) que a chuva tentou mas não conseguiu adiar por muito tempo o seu lançamento.
o Paulo kuiâ bwê ia. 
ao fundo, Diarabi, a música 2 do disco Viagem.

Angola Today?

ensaio para uma possível resposta.

sexta-feira, março 27, 2009

um convite aos de cá

é sempre assim,
de início começo os textos com o propósito de falar sobre mim... e no final, és sempre tu que terminas ao centro.

e hoje, que insisti em começar por ti, terminei olhando para teclas sem saber o que escrever.

quinta-feira, março 26, 2009

Luanda em directo

18h:46
a cidade está molhada e as ruas encaminham a água de cima para a baixa, o cheiro é-me familiar e mesmo aqui por detrás das janelas em vidro oiço com nitidez o som da água que toca o asfalto aqui da baixa.
a chuva, é uma alegria para alguns e uma tristeza para muitos... ainda assim, estou feliz com o som que agora escuto.

agora são 18h:52

hoje, é um bom dia para assumir 25

as recordações, por mais que me aproximam de ti, são elas mesmo que me recordam a tua ausência.

para ti, que nunca me lês!

ontem, andei pela calçada portuguesa da rua com o nome que tanto adoravas, e transpirei como sempre acontece ao caminhar naquela rampa. cheguei a casa depois das 9 da noite, sentei-me, suspirei, ouvi Tori Amos, Bjork e inevitavelmente surgiram as lembranças.

tu, de pernas cruzadas na cadeira castanha com detalhes artesanais do sul de Angola olhando a varanda que por sua vez olhava a mangueira que nós os putos da rua baptizamos com o teu nome.

quarta-feira, março 25, 2009

terça-feira, março 24, 2009

descoberta

Show Me a Song

Angola today?

muitas semanas atrás, um leitor do Portfolio Photografico mandou-me um e-mail com esta pergunta. levei horas, dias e duas semanas depois lá consegui responder o e-mail, mas sem responder a pergunta. na verdade, não sei se algum dia poderei responder.

do outro dia, olhei para o N e vi estampado no rosto dele o ensaio para responder uma parte desta questão.

o meu amigo N é fotografo, é africano e vive numa cidade europeia faz anos. fiquei super satisfeito quando soube que ele vinha para Angola a convite de uma instituição estrangeira mostrar o seu trabalho numa exposição que terminou na última semana.
para “nós” africanos, acho que sempre que regressamos ao continente sabemos a partida que antes da família, amigos, cheiros, imagens, ansiedade..., somos recebidos primeiramente por um facto constante em África. o EXCESSO de burocracia, e Angola não é diferente, por isso acredito que ele não se surpreendeu.
as caixas com os quadros simplesmente foram retidas na alfandega do aeroporto, primeiro com a justificação que a prioridade de atendimento era para a Igreja Católica por causa dos preparativos da visita do Papa! 
no dia seguinte, alterou-se a justificação para o facto de que a carga deveria passar pelos tramites [adoro quando os policias usam esta expressão!!!] legais e a instituição responsável pela vinda dele deveria pagar o valor correcto para este tipo de material mesmo depois de terem lido na documentação que os quadros não tinham fins comerciais!
horas depois, alias, muitas horas depois estava tudo resolvido dentro dos tramites legais e lá saímos em velocidade de cruzeiro porque a exposição seria inaugurada naquele mesmo dia as 18h:30.

no local da exposição fomos recebidos com uma gargalhada dos seguranças quando alguém perguntou se não havia um macaco hidráulico para fazer descer as caixas do camião. passado o momento de desconcentração, arregaçamos as mangas e fizemos nós o trabalho do macaco hidráulico. o local era um Museu, repito, um Museu, mas inacreditavelmente não havia ninguém que de alguma forma pudesse orientar ou responder algumas perguntas, mas como aqui tudo é possível, preferimos fingir que a presença de pelo menos um funcionário fosse realmente importante. depois de alguns telefonemas tínhamos dois martelos, um alicate, um lápis de carvão, uma caixa de pregos e o mais difícil de encontrar, uma fita métrica.

com 23 minutos de atraso foi aberta a exposição e apesar da paciência dos representantes de algumas embaixadas acreditadas no país, a reclamação mais interessante veio do representante do Ministério da Cultura angolano: que país, nunca conseguem cumprir o horário!

um convite aos de cá



um convite aos de cá

A VOLUNTARIUS está a realizar uma campanha de recolha de donativos, bens de primeira necessidade, alimentos, vestuário, calçado, cobertores, kits de primeiros socorros, materiais de construção e material escolar, a fim de reverter a favor dos sinistrados do nosso país, particularizando os do Cunene numa primeira fase.

A campanha inclui uma série de actividades como recolha de alimentos nos supermercados (Jumbo e Shoprite do Belas inicialmente), solicitação de apoio às empresas e armazéns, recolha de bens nas escolas e culmina com o «Encontro de Solidariedade - S.O.S Cunene», que se tudo der certo será no dia 28 de Março de 2009 (sábado) das 10 às 16 no Parque da Independência.

No início de Abril pretendemos ir ao Cunene levar os donativos recolhidos e lá ficar pelo menos dois dias, conviver com o pessoal fazer a ''sopa de pedra'' que é basicamente fazermos uma sopa com tudo o que tivermos naquela altura(ou o que conseguirmos angariar, quer sejam legumes, massa, arroz, carne, etc, e distribuir ao pessoal, além das brincadeiras, conversas, orações, declamações e outras coisas, ou seja o convívio com aquelas pessoas, durante o tempo que lá estivermos.

Entretanto, ainda na senda da recolha de donativos, decidimos fazê-lo junto daqueles que nos circundam, ou seja, familiares, amigos, colegas, conhecidos, enfim.
Por isso apelo a sensibilidade de todo aquele que tiver conhecimento desta causa, que para além de aderir, divulgue-a, para que todos juntos devolvamos o sorriso às populações sinistradas. 

A VOLUNTARIUS é uma Associação Juvenil de âmbito nacional que presta serviços de voluntariado gratuitamente e que tem como objectivos primordiais:

-Fomentar o espírito do voluntariado em Angola realizando acções, actividades e programas sociais de consciencialização e sensibilização (principalmente dos jovens) para questões actuais relevantes;

- Promover e divulgar o voluntariado como forma de participação e de solidariedade entre cidadãos e sensibilizar a sociedade em geral para a importância do voluntariado como forma de exercício de cidadania.

Fomos recentemente constituídos e contamos com mais de 90 voluntários disponíveis em 6 províncias. 
Tu também podes ser Voluntário, junta-te a nós e DOA O TEU TEMPO!!!!!!! 

OBS: A entrega de donativos pode ser feita na sede da Associação( Ingombota, passeio oposto a Viação e Trânsito, prédio anterior ao Hotel Mundial 1º piso esquerdo), ou ligarem para 923 60 43 89 / 926 300 257, para mais informações.

sábado, março 21, 2009

o outro lado da visita de sua Santidade

Angola é um país extraordinário, repito extraordinário, e não existe qualquer ironia ao sentido que quero dar a esta qualificação, na verdade, é mesmo um facto que por cá o que muitas vezes parece impossível acontece do dia para noite e vice versa.

quando o Papa anunciou a sua visita ao país, milhões de fieis por essa Angola fora gritaram de alegria porque mais uma vez teríamos a honra de receber grandiosa figura, independentemente da trabalheira que da receber alguém como homem dos sapatos vermelho da Prada.

do dia do anuncio até ao corrente mês parecia que ELES estavam mesmo interessados em mostrar ao homem a realidade em que nós os luandenses vivemos... mas como viver da imagem é uma das imagens de marca do angolano, eis que as coisas começaram a mudar com alguma rapidez que me faz perguntar mas porquê que não é sempre assim!? buracos tapados, passeios arranjados, sinalização impecável, igrejas reformadas (em tempo recorde), lixo no devido lugar, árvores podadas, agentes da policia apresentáveis e até os pedintes do centro da cidade sumiram, etc.
tudo isso foi possível graças a um grande esforço que ELES se propuseram para mais uma vez mostrar uma capa a quem vem de fora... e tudo isso só foi possível também porque na última semana nós os luandenses aceitamos suportar os transtornas que essas obras em cima da hora criaram em nossas vidas. sim, porque circular em Luanda com muitas artérias do centro bloqueadas não tarefa para quem tem problemas no coração.

ontem como seria o momento em que homem iria inaugurar a imagem nova de uma parte da cidade, lá resolveram que podíamos ficar em casa... daí a tolerância de ponto (feriado) para um povo que adora trabalhar.
na verdade a cidade está de cara lavada e com uma aparência que deveria ser constante, pena é que a maior parte destas reformas que ela recebeu são uma aldrabice como seremos obrigados a constatar daqui algumas semanitas quando a realidade regressar... sim, porque como eu sei, as Odebrechts, as Motaengils, as Camargos Corrêas, as Somagues e as outras, também sabem que o problema de esgotos da cidade não se resolve com asfalto por cima... mas coitados deles, a culpa não lhes pertence porque apenas fazem aquilo para que existem, ganhar dinheiro. e eu, infelizmente também não sei quem são os culpados, mas se pudesse ou quisesse encontrar algum, confessaria a sua Santidade.

sexta-feira, março 13, 2009

Magnificent

I was born
I was born to be with you
In this space and time
After that and ever after I havent had a clue
Only to break rhyme
This foolishness can leave a heart black and blue

Only love, only love can leave such a mark
But only love, only love can heal such a scar

I was born
I was born to sing for you
I didn’t have a choice but to lift you up
And sing whatever song you wanted me to
I give you back my voice
From the womb my first cry, it was a joyful noise…

Only love, only love can leave such a mark
But only love, only love can heal such a scar

Justified till we die, you and I will magnify
The Magnificent
Magnificent

Only love, only love can leave such a mark
But only love, only love unites our hearts

Justified till we die, you and I will magnify
The Magnificent
Magnificent
Magnificent


ao S., o amigo que me fez chegar as mãos No Line On The Horizon, U2 new album.

ai a humanidade, como és tão esquisita!!!

hoje, s-o-n-h-e-i com o mundo perfeito, aquele em que cada um pudesse formatar o seu vizinho a seu gosto, aquele em que cada um pudesse escolher pelo colega, aquele em que cada um pudesse indicar as opções dos seus filhos... enfim, um mundo onde o fingimento fosse qualidade e a hipocrisia tornava-nos pessoas mais instruídas, compreensivas e tolerantes... um mundo quiçá com qualidades opostas as que um dia meu pai me ensinou... um mundo onde existisse apenas o EU em detrimento do OUTRO... um mundo onde o acto de respeitar as escolhas de cada um fosse um atentando bombista... um mundo onde a liberdade criasse por si só o aquecimento global...

ahh, perdoem-me o erro, parece que vivo eu num mundo imperfeito, onde aprecio o OUTRO por aquilo que ele(a) me transmite, independentemente do que faz ou deixa de fazer... ou só devia me relacionar com recém-nascidos!? sim, porque são as únicas pessoas que conheço que ainda estão puras.

quarta-feira, março 11, 2009

personagens dos meus dias XIII

a minha vizinha Vanda sempre foi a menina linda lá da rua e a mulher dos primeiros sonhos eróticos dos putos que se envergonhavam a quando da sua passagem pelo passeio do cota Henriques.

filha do Mantonas e da tia Fina, a miúda sempre foi as direitas, prendada e tímida, dizia-se lá na rua que não pisava a linha vermelha como as outras jovens da nossa idade... frequentava a catequese, tinha aulas de bale e dizia sempre obrigado e desculpa.

do outro dia, encontramo-nos no transito em direcção ao centro da cidade, eram 5h:15 da manhã e lá estávamos nós em filas paralelas a caminho do trabalho. eu com a GQ e os U2 e ela com o Marcelo (4 anos) e a Edna (2 anitos), procurando de alguma forma manter a mente distraída para não nos aborrecemos com aquele fila enorme de carros. viemos o caminho todo conversando com os carros em posição semelhante, perguntei-lhe pelos pais, a irmã e alguns amigos em comum que a muito não vejo, e ela, perguntou-me pelos pais, os irmãos, outros amigos e se também já me tinha casado.

no desvio do Bairro Azul trocamos os números de telemóvel e seguimos, ela em frente e eu pela esquerda.

seguiu-se a troca de sms´s e um telefonema para combinarmos um dia em que pudéssemos estar juntos e conversar.

(...)

cheguei 8 minutos depois da hora combinada, a esplanada estava cheia, o calor era muito e a vista era da marginal. procurei a direita, a esquerda e olhei ao fundo, mas ela estava mesmo ali próximo com o mesmo sorriso que tinha quando passava pelo passeio do cota Henriques. vestia amarelo, cheirava Hypnotic Poison da Dior (confirmou-me muito mais tarde) e tinha em mão o livro Sinto Muito de Nuno Lobo Antunes. 

falamos de tudo e de todos.

contou-me que se tinha casado com o Nelo, o puto da banda que quase não abria a boca excepto para falar do Michael Jordan, têm um menino e uma menina, formou-se em economia, ainda pratica natação, tem saudades dos miúdos lá da rua e que a última vez que soube alguma coisa sobre mim foi através de um livro que lhe fora emprestado e que na primeira pagina vinha o meu nome, o local e data da compra (supôs ela). 
e eu, contei-lhe das meninas, da formação que desiste, da que terminei e da que ainda continuo a sonhar, das partidas e dos regressos, da saudade do Velho e do dia que deparei-me com fotos dela em casa da amiga de uma amiga minha que não me lembrava do nome.

no final, trocamos os e-mails e foi assim que lhe apresentei o espaço. 
certa vez, confessou-me que passava por aqui todos os dias para saber como eu estava, porque como ela mesmo disse, ao telefone eu nunca digo a verdade.

hoje, recebi um telefonema em que a voz do outro lado disse resumidamente o seguinte:
A Vanda partiu e não volta nunca mais!

terça-feira, março 10, 2009

Manuel Alegre

Sempre tive ciúmes. Gostavas que olhassem para ti. Gostavas que os homens se batessem por ti. Gostavas sobretudo que eu me batesse por ti. E assim era. Eu, o herói, batia-me contra os outros, contra tudo e contra todos, tentando impedir que se apoderassem de ti, que ora eras Maureen O´Hara, ora Ava Gardner ou Cyd Charisse (com quem, aliás, te parecias), aquela que eu, Gregory Peck, Gary Cooper ou Burt Lancaster tinha de salvar ou reconquistar: Contra os outros, os maus, os vilões.

Gostavas que gostassem de ti, te desejassem, te cortejassem. Eras ainda muito nova e já giravam à tua volta. Pensando bem, foi sempre assim. Talvez fosses tu que os provocavas, tinhas esse dom. Não sei por que o fazias, precisavas de corte, fosse para me exasperar, fosse porque assim te sentias mais tu mesma.

Só muito mais tarde compreendi que era uma forma de te defenderes do lado obscuro que havia em ti e do pânico que por vezes te invadia sem que nunca soubesses explicar porquê. Talvez por causa de Mercedes, tua mãe, esse mistério.

- São sombras, dizias, sombras e sombras.

Há pessoas que trazem em si a solidão como uma doença que ninguém pode curar. Assim eras tu: havia uma parte de ti inalcançável. De repente ficavas triste, começavas a correr para lado nenhum ou então nadavas para longe, até ao limite, até ao risco. Fugias de uma invisível ameaça e dir-se-ia que corrias para o perigo. Era um medo do desconhecido, talvez um pressentimento.

- Sombras, dizias, sombras negras.

Quem sabe se a dor de ser.

Estavas de mão dada comigo e de subido eu falava e não ouvias. Estavas ali e já não estavas. O teu reino era outro reino. Desde sempre, diria Rosário, minha mãe. Mas não o disse. Nem mesmo depois da conversa que tiveste com ela pouco antes de tia Filipa morrer.

- Tenho saudades, disseste, uma tarde, em Alba, tenho saudades e não sei de quê, estamos aqui e já tenho saudades de estar aqui, tu estás comigo e eu tenho saudades de ti como se já não estivesses cá, está tudo a passar, o tempo, a vida, está tudo a passar muito depressa.
- Tenho saudades, dizias. Saudades do que foi, do que está a ser, do que será, sobretudo do que não será.

O que mais me impressionava era quando, depois de um silêncio prolongado, olhavas para mim, sorrias tristemente e dizias: Amanhã morrerei, amanhã morreremos.

Dizias muitas vezes esta frase, desde muito cedo e ao longo dos anos em que nos encontrámos e desencontrámos.

Hoje creio, pelo menos tento convencer-me, que só comigo eras tu própria. Mesmo quando eras tu e a outra, essa desconhecida que havia em ti. Uma rapariga especial, diria Rosário, minha mãe. Não vou escrever o teu nome, ainda não. tenho receio que apareças e me digas Olá, inesperada, como sempre, para depois, mais uma vez, como sempre, desapareceres.

Razão tinha Afonso Furtado: certos amores são perigosos, passam e não passam.

quarta-feira, março 04, 2009

descoberta

Tornou-se um lugar comum a afirmativa de que em nosso tempo os amores são descartáveis e de rápida fruição. É fácil reconhecer que, num mundo cada vez menos sólido, os vínculos humanos são mais frágeis e voláteis. E não apenas as ligações são fragmentadas: nós também o somos, com nossas identidades em eterna metamorfose.


[sim, é verdade que mentalmente parece que ainda estou pelo Brasil]

terça-feira, março 03, 2009

descobertas

Tô namorando aquela mina
Mas não sei se ela me namora
Mina maneira do condomínio
Lá do bairro onde eu moro

Seu cabelo me alucina
Sua boca me devora
Sua voz me ilumina
Seu olhar me apavora
Me perdi no seu sorriso
Nem preciso me encontrar
Não me mostre o paraíso
Que se eu for, não vou voltar

Pois eu vou
Eu vou

Eu digo "oi" ela nem nada
Passa na minha calçada
Dou bom dia ela nem liga
Se ela chega eu paro tudo
Se ela passa eu fico doido
Se vem vindo eu faço figa
Eu mando beijo ela não pega
Pisco olho ela se nega
Faço pose ela não vê
Jogo charme ela ignora
Chego junto ela sai fora
Eu escrevo ela não lê

Minha mina
Minha amiga
Minha namorada
Minha gata
Minha sina
Do meu condomínio
Minha musa
Minha vida
Minha Monalisa
Minha Vênus
Minha deusa
Quero seu fascínio

Seu Jorge, Mina do Condomínio