sexta-feira, fevereiro 21, 2014

love love love love love love!

as delicias de Pierre Baguette!

não adianta dar muitas voltas, tive conhecimento desse espaço lá no Luanda Nightlife e depois, mais duas ou três pessoas recomendaram-me o numero 42 da rua rei katyavala. 

a casa das baguettes é um restaurante com mercearia e snack se assim lhe posso definir. vendem refeições, especiarias, guloseimas, muitos chás e outros interessantes detalhes, mas isso não é um texto sobre gastronomia, que aliás, é a função do pessoal do LNL, na verdade, isso é um texto sobre a paixão sobre Luanda! só uma pessoa que tem um grande amor por esta cidade arrisca criar uma coisa assim, e digo isso por todas as dificuldades, altos e baixos que esta cidade nos oferece... ainda assim, há gente que acredita (por vezes sem saber) que criando espaços como este oferece uma agradável experiência aos luandenses. 

é verdade, ir a casa das baguettes é uma experiência sensacional, e digo isso porque estar num espaço assim em Luanda tem um charme totalmente diferente de quando entramos num bistrô super charmoso em qualquer rua estreita de Paris. não sei explicar, mas faz-me lembrar daquela história dos angolanos na diáspora que quando cá veem de férias dizem que estiveram na banda, mas a banda é um lugar que nunca nenhum estrangeiro alguma vez vai conhecer como já escrevi aqui

têm chocolates franceses da bovetti, pastas italianas, açúcar orgânico de cana de açúcar que vem do canada, café exótico, chá verde de manga superior, chá preto de biscoite de laranja ou o que mais me impressionou, chá de plantas vermelhas com baunilha! mas há mais, massa udon, brow rice, muitos molhos e temperos, compotas, enfim, sabores doces, salgados, amargos, azedos, agridoces, etc. talvez seja até ridículo, mas a mercearia tinha exactamente o mesmo cheiro que o espaço de produtos gourmet das lojas IKEA! 

depois tem a passagem para o restaurante num discreto corredor com espaço para livros e música. é verdade! imagina-se sair para jantar num lugar onde pode aguardar pela sua mesa sentado a ler sobre jazz ao mesmo tempo que escuta Waldemar Bastos, Diana Ross, Maria Rita, Cesaria Evora ou o grande Otis Redding. é ou não uma experiência!? 

é por essas e outras coisas que eu sou louco por Luanda, uma cidade de acontecimentos e contrastes de cima para baixo e vice-versa, uma cidade que muitas vezes me decepciona mas que em outras tantas vezes me embala para lugares que dificilmente consigo explicar, enfim, como diz um amigo meu, Luanda é uma mulher difícil mas eu sou louco por ela.
 

terça-feira, fevereiro 18, 2014

PERSPEKTIVE

Keine andere afrikanische Großstadt tanzt zu einer dermaßen originellen urbanen Clubmusik wie Luanda, die Hauptstadt von Angola in Südwestafrika. Kuduro, vor ein paar Jahren auch hierzulande kurz in den Medien, ist überall in der Millionen­metropole – und doch muss man sich lange durch die endlosen Staus der Stadt kämpfen, um ihn zu finden. Eine nächtliche Suche.
text: Florian Sievers
fotos: Ngoi Salucombo
 

isso é BURAKA!

já não me lembro ao certo se foi em estocolmo ou copenhaga, a primeira vez que fiquei impressionado com o fenómeno Buraka. apesar que já conhecia a banda, foi impressionante para mim ouvir aquela menina que não sabia falar português e nem sequer entendia uma única palavra com excepção do obrigada, a descrever a sensação corporal e mental do que era assistir um show dos Buraka Som Sistema

nunca me esqueci do momento, principalmente porque era o único angolano naquele grupo de nórdicos e na altura ainda vivia em portugal, mas aquela ruiva de olhos super claros arrepiou-me porque ao ouvir a sua descrição, por momentos achei que ela conhecia a zona da amadora, mas não, ela nem sequer conhecia portugal! 

e é isso também que a música faz. 

na semana passada, à convite da red bull, estiveram em luanda os Buraka Som Sistema para uma conversa informal na plataforma red bull music academy, apresentação do documentário Off The Beaten Track e um show intenso cujo o momento me fez lembrar aquela menina ruiva de olhos super claros.
 

terça-feira, fevereiro 11, 2014

um convite aos de cá

até já Paulo...

foram as palavras que nos aproximaram, foram as palavras que nos tornaram amigos, foram ainda as palavras que distantemente alimentaram a nossa amizade, foram também com palavras que não nos despedimos... essa despedida, que com palavras me pediu no último email novidades de San Sebastian. 
as novidades, ei de enviar, não te preocupes amigo, com certeza que ei de enviar-te juntamente com um abraço com sabor do António Lobo Antunes: 

Tudo cinzento na janela, árvores, casas, tudo triste. Nem uma pessoa na rua, nem um bicho. Frio. E eu sentado nesta mesa, à espera de uma crónica que não aparece. Vou enchendo as páginas de palavras na esperança de que alguma salte como um peixe. Não salta. Ficam no fundo do papel, escondidas, nem a sombra lhes vejo. Se calhar acabaram-se, as palavras. Penso no Pedro. Desde que morreu, no dia vinte um de dezembro, nem há um mês ainda, é quase só o que faço, pensar nele. não estou a escrever, estou a acabar de corrigir um livro, que é um trabalho diferente, posso fazer com o Pedro à beirinha. Aliás ele sempre foi colado, sou eu que pago a conversa. Estamos aqui, estamos em Torres Novas, estamos noutros sítios por onde andámos juntos e, como quase sempre, o nosso dialogo é feito de silêncios, com uma frase ocasional de vez em quando. Custa-me redigir isto, mas lá vou coxeando. Tudo cinzento na janela. Há anos, estávamos sozinhos os dois, à noite, na rua, o Pedro caiu em coma à minha frente. Era um derrame na cabeça, o João operou-o e salvou-se. Desta vez morreu na voz do João, que recebeu a notícia pelo telefone e, de repente, o dia principiou a coxear. Até hoje, nem um deixou de coxear. Eu não percebo a morte. Provavelmente também não percebo a vida. Existira alguma coisa para perceber? E, no que se refere a isto ter acontecido ao meu irmão, então aí não percebo nada. Árvores, casas, tudo triste, já se inventou coisa pior do que janeiro? Nem uma pessoa na rua, nem um bicho. Frio. Se uma pontinha de sol, ao menos. Hoje jantar em casa dos meus pais sem o Pedro, não faz sentido jantar em casa dos meus pais sem o Pedro. O lugar dele é à direita da mão. Quem o ocupará? Eu sento-me na cadeira do meu pai e o mundo é muito diferente visto dali. Normalmente pouco digo, pouco oiço. Hoje penso que vou ouvir-te o tempo todo, mais o que existe nos intervalos das frases, ou seja, o principal. E o principal, o único, é a tua ausência. O que me é insuportável é que a tua ausência vai continuar a existir. Para sempre. E é muito difícil pensar que não estarei mais contigo. 

A gente, claro, conhece-se desde que tu nasceste. Temos o mesmo sangue. Quando te trouxeram para casa, numa alcofa, eu era uma criança de três anos e estava doente dos pulmões. Tuberculose. Lembro-me de te mostrarem a mim e eu ficar a arder de ciúmes, porque me davam menos atenção. Recordo-me tão bem disso. A arder de ciúmes, furioso. Recordo-me e espanto-me porque não sou ciumento. Também não sou invejoso. Algumas qualidades havia de ter, caramba. Nem são qualidades sequer, quando muito ausência de defeitos. Pedro. Moreno. De cabelo escuro, ao contrario dos teus irmãos loiros e de olhos azuis, os já nascidos e os que viriam a nascer. E depois, a pouco e pouco
(tudo cinzento na janela, árvores, casas, tudo triste)uma grande ligação entre nós foi crescendo. Possuo cartas tuas da guerra, cheias de amor contido. Foste primeiro do que eu, voltaste antes da minha partida. Depois conheci uma rapariga e levei-te para ta apresentar. Achei que te calhava bem. Calhou. A gaita é a vida inteira durar tão pouco tempo. 

Começa a anoitecer agora. Nem uma janela acesa no outro lado da rua. Eu aqui a fazer isto. Trago tanto para te contar que não consigo contar nada, tanto para contar de ti que não consigo contar nada. Aqui entre nós para quê? Tu sabes tudo o que eu poderia escrever e, o resto, a quem interessa? E depois existem coisas só nossas, íntimas, secretas, sem interesse para os outros, creio. E o que já não podemos partilhar porque morreste para sempre, porque vou morrer para sempre. Ficam aqueles que prolongarão o nosso sangue, cada vez mais diluído no sangue dos outros. Até o nosso sangue, que era um só, desaparecerá. E, depois, nada. 

Tanto frio, Pedro, hoje. Já não distingo as árvores, distingo, na rua, um candeeiro desfocado. Só um. Ambos moramos em sítios feios e tristes, nesta cidade hoje feia e triste. É quinta-feira. Dia de jantar nos pais. Não te vou encontrar e, todavia, sei que passarei o tempo à tua espera. 

- Porque carga de água o Pedro não veio hoje, ele que vinha sempre? 

E não vou entender. E ficarei incapaz de entender. E ir-me embora sem entender. Nem sequer que morreste entenderei. Até ao fim dos meus dias não entenderei nunca. Diz-me lá uma coisa: achas que isto faz algum sentido? Achas que isto é justo? O que era cinzento na janela negro agora. Não faz sentido nem é justo. E não me acenarás do teu carro à medida que te afastas, não fazes a curva nem te afastas de mim. Não és. Não voltarás a ser. E, pior do que tudo, realmente o pior do tudo, acabará a tua mão no meu ombro, acabou a tua mão no meu ombro. Ou, fui eu, mano, que deixei de ter ombro.