sexta-feira, outubro 29, 2010

sexta-feira, outubro 22, 2010

quarta-feira, outubro 20, 2010

domingo, outubro 17, 2010

hoje, é um bom dia para assumir 44

cá estou eu sentada e com tempo para dispersar. Entre utopias e realidades procuro sempre encontrar no pensamento o paraíso. onde o tesouro somos nós e o mapa esconde-se em nós. nada complicado de decifrar se acalmarmos o desassossego que invade a alma. passamos muito tempo do nosso tempo à espera de alguma coisa, ou de coisas em particular para compensar um vazio. esperamos sempre que os outros gostem de nós quando nem sequer sabemos se verdadeiramente nos gostamos. esperamos sempre um gostar fácil e rápido. vivemos em dúvida duvidando do que não queremos e com isso calamos sempre aquela vozinha interior que nos incomoda, e prefere-se o silêncio. gosto de explorar essas vozes, gosto de ouvir o que elas tem para me dizer, quem sabe me dizem algo que eu nem estou a ver. gosto de assumir sentimentos porque gosto de viver e sobreviver. não gosto duma alma calada , isso é morrer. não tenho tempo para ter pena de mim nem tempo para me enganar, nem para investir no pior de nós - o ego. chamo-lhe o cancro da personalidade, porque pouco a pouco torna-se uma identidade. tenho tempo sim de procurar ser feliz, encontrar pequenos paraísos e seguir para outros paraísos. falo de coisas alcançáveis, possíveis. falo do paraíso da alma. aquele que nos permite existir com dignidade, que nos permite sorrir, que nos permite uma história de amor. que nos permite ser quem somos, que nos permite a emotividade e os afectos. sou uma Mulher emotiva e tenho que dar e receber afecto. um beijo ou um abraço ou um beijo e um abraço de quem gostamos é um pequeno paraíso. Como vêem o paraíso não é uma utopia, ele existe de facto e está em nós. com isto apetece-me ser feliz! apetece-me ser feliz com o Amor que tenho! apetece-me estar feliz quando danço. apetece-me ficar contente quando sorrio. apetece-me ser generosa. apetece-me estar em harmonia, feliz com a nostalgia. apetece-me ser feliz com o Outono, sou feliz com o sonho, sou emoção, na alma sou sentimento e razão. sou a mulher que amo, sou menina que gosta de protecção. sou tantas outras coisas. Sou Mãe! aqui está uma palavra Bonita! gosto de palavras bonitas!... temos muito por onde ser felizes, por isso façam o favor de serem felizes. e agora apetece-me ficar perigosamente bonita! até logo

aqui, interpretado por muitos anónimos


Por: Heloisa Saboya de Castro (60 anos)
Gostei muito do filme! O elenco, roteiro e principalmente a música! Busco CD da trilha sonora.

Por: Ramos (50 anos)
Tudo o que fala sobre paris é muito bom.

Por: Marcia Assis (49 anos)
Gostei muito do filme; aborda várias facetas do dia-a-dia de pessoas comuns. Amei o final, com as imagens da bela cidade luz, sob o olhar do protagonista, cujo futuro é indefinido.








quinta-feira, outubro 14, 2010

Milagrário Pessoal

...
Muito bom dia, desculpe se a incomodo, disse, quando a telefonista me atendeu. A boa educação é um luxo do século passado, ao qual as telefonistas e secretárias ainda são sensíveis. Pretendo falar com a jornalista Mara Bruto da Costa.

Mara, explicou a telefonista, estava ocupada numa reunião. Pediu-me o meu número de telefone, e assegurou-me que a jornalista devolveria a chamada o mais rapidamente possível. Não esperei, com efeito, nem dez minutos. A voz surpreendeu-me. Aveludada e cheia e quente – com carácter. Dou-me conta, enquanto escrevo, que adjectivo a voz dela como se fosse um vinho, queremos com isso significar que possui um alto teor alcoólico. A voz de Mara pareceu-me, é bem verdade, embriagante. Apresentei-me. Tive sorte. A jornalista disse-me que lera o meu testemunho sobre a guerra civil de Espanha. Ficara interessada em saber como é que um jovem anarquista angolano, muito jovem mesmo, se fora envolver num conflito tão distante. Trocamos algumas palavras sobre o livro. Aproveitei o primeiro silêncio para explicar a razão do telefonema:

Trabalho num ensaio sobre neologismo. Uma das suas reportagens chamou-me atenção.

Não estranhou. Não fez perguntas. Pediu-me para passar pelo jornal ao fim da tarde, lancharíamos num café próximo. Eram dezoito horas em ponto quando me apresentei ao porteiro. O Público está instalado num edifício elegante, em Picoas, próximo de um parque interior, com numerosos cafés e restaurantes. Mara desceu. Imaginei-a alta, de pele escura e cabelos lisos, apanhados numa longa trança. Acertei apenas no tom da pele. O cabelo, curto, espetado, dava-lhe um ar um pouco masculino, agressivo, que os doces olhos amendoados logo desmentiam. Levou-me até uma esplanada. Vinha caindo uma luz de Outubro, rasa e frágil, dourada como as folhas das árvores. Ela pediu um café; eu, um chá de cidreira.

O senhor está muito bem. Dava-lhe, no máximo, sessenta e cinco.

É o problema das pessoas como eu, que viveram demasiado tempo, podem tirar-nos duas décadas do lombo e ainda assim continuamos velhos.

Mara sorriu:

E então, o que quer de mim?

Repeti o que lhe dissera ao telefone: estava a trabalhar num ensaio sobre neologismo e ao ler, dias antes, a reportagem de uma visita a Olinda, assinada por ela, deparara surpreendido com três palavras desconhecidas. Disse-lhe quais eram. Gostaria de saber onde as encontrara:

São novas?! Abriu ainda mais os belos olhos numa expressão de genuíno espanto. Não, não podem ser palavras novas. O senhor desconhecia essas palavras?

Desconhecia. Nunca antes foram utilizadas, ao menos em Portugal. Não estão dicionarizadas.

Estranho! Mara semicerrou os olhos, pensativa. Tem graça, tem mesmo muita graça. Li em algum lado que o português europeu se modificou mais, nos últimos séculos, do que a variante brasileira.

Sim, em parte sim. As periferias tendem a ser mais conservadoras do que o centro.

Então não podem ser arcaísmos? Palavras que desapareceram em Portugal mas que continuam a ser utilizadas no Nordeste do Brasil? Por isso nos parecem tão familiares. Talvez eu as tenha escutado lá, no Recife, em Olinda, e de tal forma me pareceram minhas que as comecei a utilizar sem me aperceber disso.

É possível, concordei. Infelizmente essas palavras também não foram dicionarizadas no Brasil. Não as encontrei em livros, em jornais, em blogues, em parte alguma, nem aqui nem lá, antes de terem aparecido pela primeira vez no seu artigo. Faz ideia onde as possa ter escutado?

Mara sacudiu a cabeça. Os olhos brilhavam. À nossa volta a cidade escurecia. Era como se a luz da tarde houvesse deslizado inteira para dentro deles. Lembrei-me de uma mulher, numa vida anterior, que me atraía com o fogo de uns olhos idênticos. Tentei concentrar-me no que Mara me dizia:

Foi em Olinda num pequeno bar. Nem sei se é possível chamar-lhe de bar, uma mercearia, na Rua do Amparo, chamada Bodega do Veio, onde se vende de tudo um pouco, desde latas de sardinha a queijo coalho, e que nos últimos anos se tornou, ao fim da tarde, um ponto de encontro da juventude local. Não há mesas. Bebe-se de pé, no meio da rua, a rir, a conversar. Uma festa. Eu já tinha tomado três cervejas quando se aproximou de mim um senhor de certa idade. Achei-o deslocado, entre os rapazes de bermudas coloridas, as meninas com o umbigo à mostra. Vestia um fato de linho, sapatos brancos de laca, e trazia na cabeça um panamá impecável, como nos filmes. Reparou no meu sotaque e quis saber se eu era portuguesa. Disse-lhe que sim, alfacinha, e ele pôs-se a falar sobre o Mosteiro dos Jerónimos, os pastéis de Belém, as pequenas ruelas, no Chiado e Bairro Alto, por onde terá cirandado Fernando Pessoa. Quando lhe perguntei quantas vezes visitara a cidade, sorriu, divertido: nenhuma. Nunca na vida saíra de Pernambuco. Apresentou-se: Alexandre Anhanguera, poeta. O professor sabe quem é?

Sim. Confirmei. Alexandre Anhanguera publicou nos anos cinquenta, com certo sucesso, uma recolha de poemas de inspiração sebastianista. Li alguns versos, em antologias, e pareceram-me um tanto ou quanto bizarros, no que respeita à temática, mas não inteiramente ruins.

Em 1838, o beato João António dos Santos sonhou com Dom Sebastião. O jovem rei assegurou-lhe que ressuscitaria nos sertões de Pernambuco, com o objectivo de ali instalar um reino de justiça e prosperidade, sendo para isso necessário uma cerimonia durante a qual as duas enormes pedras da serra do Catolé teriam de ser lavadas com sangue humano. O movimento, retomado pelo cunhado do beato, João Ferreira, conseguiu levar muitos milhares de fiéis para a região. Oitenta deles foram atirados do alto das pedras. Dom Sebastião, ao que parece, nunca apareceu. Talvez achasse imprescindível um pouco mais de sangue.

Alexandre Anhanguera escutou, em criança, as lendas que se criaram à volta dos seus conterrâneos sebastianistas. Aquilo impressionou-o. Criou um movimento para o resgate e exaltação das tradições locais. Anhanguera, a propósito, é um apelido tupi. Significa alma antiga, ou vida antiga, e nomeia uma entidade protectora das florestas e dos animais bravios. Os jesuítas, que no inicio da colonização portuguesa se dispuseram a catequizar os índios, confundiram Anhanguera com o diabo. O nome não significa que Alexandre possua ascendência indígena. No século XIX, movidos por sentimentos nacionalistas, muitas famílias da aristocracia brasileira trocaram os apelidos portugueses por outros de origem tupi.

Mara escutou-me até ao fim. Os jornalistas são bons ouvintes, gostam de escutar. Disse-me finalmente, que se lembrara de Alexandre Anhanguera ao ouvir-me falar de neologismos. O velho contara-lhe uma história um pouco estranha. Divertida, mas um pouco estranha.

Gravei a conversa. Tenho-a aqui, no meu iPhone. Quer ouvir? Acho que vai gostar.

[as partidas, muitas vezes não significam apenas ferias, descanso, cinema, teatro, exposições... significam também, puder realizar muitos objectivos que infelizmente em Angola ainda são irrealizáveis devido a variadíssimos factos, entre eles, o custo das coisas.

o regresso, significa então que muitas dessas coisas vêem na bagagem. a música, os filmes e indiscutivelmente os livros. Milagrário Pessoal é o novo romance do José Eduardo Agualusa, uma viagem de amor que passa pela história da língua portuguesa e que infelizmente, quando aterrar nas prateleiras das pouquíssimas livrarias que Luanda tem, terá o preço de um objecto de luxo!]

e no regresso, trazemos connosco as pessoas, as fachadas, as cores, os detalhes e mais





terça-feira, outubro 12, 2010

domingo, outubro 10, 2010

uma manhã de domingo

isso, também é Paris

aceitação de um estrangeiro nos dias de hoje como um membro que também faz parte de determinada cidade, muitas vezes depende da tolerância e da forte mentalidade de que quando as diferenças são bem exploradas, raramente o resultado é negativo.

em Luanda temos passado por isso, e muitas vezes a afirmação de que o estrangeiro só lá está para tirar o lugar que pertence a um mangolê, é muitas vezes veiculada no ar que respiramos.

actualmente, será que existe uma grande cidade que consegue viver sem os diferentes (entenda-se, os estrangeiros)?

pois bem, nesse ponto, Paris não é excepção nem diferente das grandes cidades e sem fugir a esse facto, a cidade é uma montra de diferenças. há de tudo por cá, martiniquenos casados com colombianas, japoneses que todos os dias apanham o metro, a brasileira que estuda psicologia, um camorenês que é guia turístico ou o angolano que almoça no Kunitora, um restaurante com comida realmente japonesa, e no fundo, não há nada de negativo, no fundo, são pessoas que deixaram o seu espaço para cá vir e numa troca e mistura de hábitos, dar o que é seu e ao mesmo tempo receber um pouco de cada de todos que cá vivem. por exemplo, alguém já imaginou como se deve sentir uma criança muçulmana que nunca tinha visto mulheres com a cara destapadas? um idoso do Benim que na Rue Saint Louis en L´ile vê pela primeira vez na sua vida dois homens a beijaram-se? a francesa que se surpreende com o rapaz moçambicano que no metro cheio de gente, sempre oferece o seu lugar quando surge a sua a sua frente um mais velho. enfim, diferenças que nunca deveriam nos afastar.

apesar de algumas posições de falta de tolerância que a França agora adopta, há nessa cidade muitos pontos positivos para um lugar que todos os dias cruzam-se milhares de pessoas com conceitos de vida totalmente desiguais.

360°, agora as imagens







terça-feira, outubro 05, 2010

Paris, e a quarta foi de vez

geralmente usa-se a expressão a terceira, mas para mim, só foi a quarta que consegui penetrar com mais profundidade para dentro de Paris. das outras vezes, foram sempre passagens com alguma correria, e o facto de vir para cá de carro, apenas circulei pelos arredores porque a intenção era evitar o transito do centro.

hoje, cá estamos na cidade que tem um bistrô em cada esquina, a cidade do amor para muitos ou a cidade das misturas para outros. há de tudo no metro de Paris, mas senti que os japoneses estão a ganhar terreno... ainda vi ciganos, que pelos vistos nem todos foram postos na fogueira.

os franceses são conservadores, os franceses são patriotas, os franceses são eles e só eles, nisso, não há qualquer diferença com as restantes cidades de França que conheço, a postura muitas vezes snob, o desprezo por tudo aquilo que não lhes pertence e o episodio de raramente aceitaram se dirigirem ao turista em inglês, não se encaixam comigo, penso até, que por causa do conservadorismo, muitas proibições chegam a ser ridículas!

ainda assim, penso que os parisienses podem e devem se orgulhar pela beleza da cidade... mesmo saindo da rota dos locais turisticamente concorridos, há nessa cidade beleza em presença constante.

para já, têm sido os cafés e as pessoas que mais tenho fotografado. veremos como serão os próximos dias.



um convite aos de lá

Africa: See You, See Me! from Terra Esplêndida on Vimeo.



segunda-feira, outubro 04, 2010

360º de muitas sensações!

eram 5h:11 da manhã quando cheguei ao estádio municipal de Coimbra, e o número de tendas a minha frente parecia que estávamos numa zona de campismo! montes de tendas rigorosamente organizadas em fila indiana, e para não perder mais tempo, dirigi-me para porta que correspondia a minha entrada. na respectiva fila, fiz a minha inscrição e pelo incrível que pareceu, o meu número de entrada ao paraíso era o 243, nada mau, ate porque já havia alguns que estavam lá à 5 noites seguidas.

daí em diante, eu e os restantes membros daquele grupo de desconhecidos que tinham em comum o mesmo objectivo, nada mais tínhamos a fazer se não esperar. e foi o que fizemos, vendo as horas passar por vezes a passos de camaleão e outras que na distracção da conversa de uns, no jogo das cartas ou no pequeno debate que tive com um grupo de catalãs, que não sei porque motivo insistiam comigo que o Nelson Mandela ainda era o presidente da África do Sul!

as 16h:00, foi a correria para o melhor lugar, mas para muitos como eu, a entrada e mesmo antes de nos preocuparmos em ocupar melhor posição, foi o espanto que a estrutura que víamos a nossa frente! uma aranha gigante que bem podia ser uma daquelas naves que Spielberge usa nos seus filmes.

sou e sempre serei suspeito para falar dos U2, ou será que é com facilidade que alguém consegue falar sobre a sua religião? não tenho medo de afirmar que o quarteto irlandês é para mim a melhor e maior banda de música mundial, e por isso e por tudo que as letras do Bono representam na minha vida, não foi sacrifício nenhum andar na luta da procura dos bilhetes, passar as últimas noites em claro para adiantar o trabalho e assim puder estar em Coimbra, nem com as 12 longas horas de espera para mais uma vez ouvir ao vivo musicas como Miss Sarajevo, Mysterious Ways, Sunday Bloody Sunday, ver o Bono a apresentar as palavras do arcebispo Desmond Tutu e outras sensações inexplicáveis.

noite memorável num palco memorável e com um ecrã memorável, tudo a 360º e com duas pontes giratórias que serviam de passagem para a banda entre o palco e rampa circular que se encontravam os outros fãs, porque nós, os cerca de 2000 felizardos, estávamos na parte interior da rampa bem coladinhos ao palco e vezes sem conta vimos passar por cima de nós, The Edge, o Bono, Adam Clayton e até o Larry Mullen Jr. que a certa altura abandonou a bateria para vir cá a baixo tocar batuque.

são 3h:43 da manhã, já estou no Porto e apesar do cansaço das pernas e o sono que aperta, não podia deixar essas palavras para amanhã... afinal, as coisas boas costumam a durar pouco tempo.

[Coimbra, como pequena cidade organizou-se muito bem para receber o número de pessoas que normalmente seguem uma banda do tamanho dos U2, tudo impecável até o comboio especial para tirar da cidade todos aqueles que não tinham necessidade nem condições para lá dormir.

Porto, a segundo cidade mais importante de Portugal não se preparou para o evento, penso que não deram importância ao facto de Coimbra estar ali perto e que muitos dos fãs que foram ver o concerto ou vivem na cidade invicta ou usaram o aeroporto Sá Carneiro para chegar e partir. a chegada a estação de Porto Campanha, não havia táxis e com a chuva que caia as 2 horas e tal, os poucos funcionários da estação encaminhavam-nos para fora porque a estação iria fechar e nós, tivemos de ficar a chuva a espera dos táxis que não chegavam! mas como disse o funcionário arrogante ao grupo de espanholitas desagradas com tudo aquilo: aqui vocês não têm direito de reclamar nada.]

Lisboa, outras travessas, outras calçadas, outros becos, mais descobertas








um convite aos de lá

domingo, outubro 03, 2010

Lisboa, vista de um outro ângulo.

e cá estamos novamente em terras tugas, mas dessa, a procura é diferente. procuramos outros cheiros, outros sabores outras imagens, outros lugares, outros sons, outros caminhos e outros ângulos, com excepção da geladaria Santini e da esplanada do café A Brasileira de onde vemos a passar o eléctrico amarelo..., que são e sempre serão locais de culto.



personagens dos meus dias XIX

sentados em assentos seguidos, 18E e 18G do voo fazia a ligação entre Luanda e Lisboa, chamou-nos atenção o facto de pousarmos os dois na pequena mesa que cada passageiro tem direito, o livro com o mesmo titulo. ela e eu, líamos Quando Nietzsche Chorou. olhamo-nos, sorrimos e o silencio se manteve.

a Leonor é portuguesa, dos açores e tem menos de 60 e mais de 50 anos de idade. esteve 30 dias em Angola a convites de uns amigos de infância que vivem e trabalham na cidade do Lobito, onde, contou-me que se tinha apaixonado por um angolano, daí a pergunta:

como são os africanos?

não sei. penso que só tenho legitimidade para falar de um angolano.

[risos]

mas isso, só foi o motivo para o inicio de uma longa conversa. conversamos sobre muitas coisas em comum, desde o mesmo livro que líamos, o show do Pedro Abrunhosa, a playlist que cada um tinha no iPod, mas o que mais nos entreteve, foi a escrita de José Eduardo Agualusa e do Ondjaki. disse a Leonor, que o amigo que a quatro meses atrás lhe tinha convidado para conhecer Angola, aconselhou-lhe a não pesquisar nada no google, não ler blog´s, não prestar demasiada atenção as noticias nem perguntar a conhecidos sobre as suas experiencias. O amigo da Leonor, mandou-lhe apenas um e-mail onde lhe aconselhava a ler os livros de José Eduardo Agualusa e do Ondjaki, porque têm nas entrelinhas a verdadeira Angola.

falamos ainda sobre a culinária maltesa e as ruas de La Valletta, a Leonor trabalhou em Malta como professora de português na mesma altura que fiz por lá o meu estagio. outra coincidência.

7 horas depois estávamos em Lisboa e no tapete da recolha das bagagens despedimo-nos em sorrisos sem nunca termos a tentação de trocarmos os contactos.

daqui a três semanas a Leonor vai voltar para o Lobito, apaixonou-se e disse que vai arriscar.