e nos 439 anos de Luanda, o VêSó foi a rua e mostrou-se as pessoas...

 

Neide Tsunami 

No entanto, o primeiro “golpe” ao património de Luanda deu-se em 1998, aquando da destruição do Palácio Dona Ana Joaquina, a residência oficial daquela que foi considerada, ao longo da história da cidade, como uma das mulheres mais influentes no tráfico de escravos do século XIX. No espaço foi construído o Tribunal Provincial de Luanda, que recebeu o mesmo nome de Palácio Dona Ana Joaquina. 

… 

O atentado ao património da cidade não parou por aí. Em 2008, foi a vez do mercado do Kinaxixi ser destruído. Desenhado no início dos anos 1950 pelo arquitecto angolano de origem portuguesa Vasco Vieira da Costa, o mercado havia sido considerado internacionalmente como uma das obras arquitectónicas mais importantes do Movimento Moderno Africano. Foi igualmente proposto por muitos especialistas nacionais e estrangeiros para ser Património da Humanidade pela UNESCO. 

… 

Em 2009, o Teatro Avenida conheceu o mesmo destino, um legado cultural do tempo colonial que durante décadas foi o palco das artes cénicas em Luanda. Demolido, no seu lugar está a ser erguido um edifício que recebeu o mesmo nome do anterior. Também o Grande Hotel de Luanda, construído entre os anos 1940 e 1950, está a ser reabilitado para dar lugar à Casa de Cultura Angola-Brasil. Já o Cine-Nacional foi encerrado em Maio do ano passado pelo Ministério da Cultura, alegando questões de segurança para fechar a histórica sala. 

Na sequência, caíram outras estruturas como a Rua do Sol, Farmácia Dantas e Valadas, que deu lugar à sede da Sonangol, a antiga Escola Primária de Luanda, em cujo espaço está hoje a sede do Banco Espírito Santo Angola, a antiga fábrica de cigarros FTU, em frente ao Instituto Nacional do Património Cultural, e alguns sobrados que estavam na rua dos Mercadores, no Bairro dos Coqueiros.  

A força do mercado imobiliário que se impôs em Luanda é tão grande que nem mesmo poupou os espaços verdes e de lazer que havia na cidade. Alguns foram destruídos, apropriados e outros votados ao abandono. É o caso da floresta da Ilha, por exemplo. O antigo Parque Heróis de Chaves, um dos mais tradicionais recintos de recreação da cidade, construído na década de 1960, foi privatizado e adaptado para um espaço de festas privadas denominado Palmeiras Club. 

[clique no texto para ler na integra o artigo de Domingos Bento]