sem algum destino premeditado, andei entre as ruelas de calçada portuguesa e os becos da pequena terrinha com casas de arquitectura passada, organizadas em fileiras estreitas que se parecem com um quadro em pintura de óleo.
com forte presença, o silêncio observa e ouve as conversas dos idosos sentados na principal e única praça da terreola, onde uns jogam as cartas e outros jogam recordações.
ali próximo, encontrei um chafariz e uma lavandaria pública ao estilo antigo.
continuando a caminhada e já com a aldeia pelas costas senti-me perdido no meio das oliveiras alinhadas em filas perfeitas.
ao fundo, os homens e as mulheres que trabalhavam na colheita das azeitonas repararam no rapaz de mochila as costas que se aproximava, e então, paramos a olhar. eles para mim e eu para eles.
com sorriso nos lábios a senhora falava algo que eu não percebia e eu respondia algo que ela não percebia, e assim foi durante alguns minutos até que por fim se aproximou do grupo que me rodeava o homem de chapéu com a bandeira de Espanha estampada.
e foi assim que finalmente começamos a conversar, dois deles que falavam espanhol fizeram de interprete para os restantes e perguntaram-me como fui parar a quinta?
eu disse...
caminhando.
ele disse...
isso é propriedade privada.
eu disse...
não sabia, acho que estou perdido.
ele disse...
você é jornalista?
eu disse...
sim. posso fazer fotos?
ele sorriu e disse...
vamos aparecer na televisão?
eu disse...
sim.
então, contaram-me que eram romenos e estavam na quinta apenas para trabalhar porque quando terminassem passariam a fronteira para Espanha a procura de mais trabalho.
nenhum deles soube me dizer o nome do proprietário das terras, mas mostraram-me uma placa a entrada da linda casa com o nome da quinta.
antes de partir, olhei as azeitonas, os cavalos, as laranjas, as folhas, a casa e o céu. aqui, o céu parece um quadro perfeitamente pintado!
ao despedir-me, o homem perguntou-me se não queria voltar no dia seguinte para ver como se faz o azeite. mesmo antes de pensar na resposta, já lhe tinha respondido que sim, por isso já nada tinha a fazer!
despedi-me e continuei a caminhar.
5 comentários:
Que viagem...me faz lembrar do jardim das Oliveiras (Bíblia).
Deve ser muito bonito aí. Com todas essas árvores e o aroma das azeitonas e essas pessoas trabalhando com alguma esperança no amanhã.
E o azeite que se extrai do fruto da oliveira, é úm dos rémedios mais antigos da humanidade.
Totalmente facinante essa tua viagem, sr. Ngoi. :)
Beijos.
Opa! fascinante. :)
Magnífico! O texto, e as fotografias.
O sr. está de parabéns.
Jardim das Oliveiras, muito tocante essa referência.
Abraços.
Então de volta à Tugalândia?!
Eu cumpri em Elvas umas quantas semanas do meu serviço militar e este teu post fez-me recordar esses tempos. A tua excelente descrição e as tuas não menos excelentes fotos reflectem bem o que é Elvas e a sua região. Muitos parabéns.
P.S. - É verdade que Elvas é uma cidade muito pequena, mas mesmo assim não te parece exagerado chamar-lhe "terreola"?
val du,
acredite, é mesmo um fascínio.
beijos
carlos da costa,
as fotos, ai as fotos, é muito difícil escolher as que vêem para cá, são tantas!
abraço e obrigado.
olá cota (denudado),
a primeira vez que ouvi o nome terreola estava numa electromotora a caminho da Figueira da Foz e não percebi bem o que elas queriam dizer com a expressão, mas gostei muito do som da palavra!
sei que existem algumas pessoas que conectam a expressão pelo lado negativo, mas não é o meu caso até porque para mim a gastronomia das “terreolas” é uma das coisas que a tuga tem de melhor.
um grande abraço.
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