quinta-feira, março 15, 2012

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em Luanda, não é muito difícil cruzarmo-nos com expatriados (não gosto da palavra, mas nunca encontro um sinonimo que me anima um pouco!), o que não é mau de todo, gosto de cidades com pessoas de lugares diferentes porque acredito que isso ajuda tanto essas pessoas que vêem de longe como os locais a olharem e talvez tentarem compreender um pouco a diferença.

tenho é um pouco de dificuldade em perceber quando muitas dessas pessoas vindas do seu longe, tentam não assumir o que realmente lhes levou para determinado lugar. quando estive longe, nunca tive receio em assumir que estava lá para estudar, aprender, e vezes sem conta assumi que era uma espécie de exploração porque pessoalmente aproveitava tudo e mais alguma coisa de tudo o que não existia no lugar de onde pertenço.

alguns dias numa grande mesa entre amigos, conhecidos e provavelmente futuros amigos, tive uma interessante conversa com uma brasileira que está em Angola para ajudar o país no seu desenvolvimento (palavras da própria). sem discordar totalmente do seu ponto de vista, confrontei-lhe com a minha opinião de que ela estava em Angola para ganhar dinheiro. a menina sentiu-se ofendida e sem fazer um esforço para perceber o meu ponto de vista, partiu com argumentos e mais argumentos sobre a minha ingratidão! felizmente continuamos a conversa durante horas... ela falou-me das obras que o país tem recebido, dos serviços que antes não existiam e de muitas outras coisas boas que o país beneficiou graças a muitos estrangeiros que como ela vieram para Angola especificamente para ajudar a desenvolver essa terra maravilhosa. mantive a minha opinião mas dessa vez ela deixou-me argumentar. repeti-lhe que não via mal nenhum em alguém assumir que vinha para terra maravilhosa ganhar dinheiro, porque na verdade aquilo era uma permuta do toma lá isso e tu dá-me aquilo. continuei, já com a mesa toda atenta a nossa conversa, perguntado a menina se conhecia algum estrangeiro que veio para essa terra maravilhosa abrir uma livraria para vender Rubem Fonseca, para dar um exemplo que pensava eu que a menina conhecia! do fundo da mesa alguém gritou que os livros não dão dinheiro em nenhuma parte do mundo, para logo de seguida a menina interrogar-me... quem é o Rubem Fonseca? esquisito foi que nenhum brasileiro dos presentes sabia! continuamos a conversa, ela com os seus argumentos e eu com o meu de que não vejo mal nenhum assumir-se que se vêem ganhar dinheiro, mal há sim quando se tenta transmitir a ideia que antes do dinheiro existe a vontade de se estar na terra maravilhosa para ajudar no desenvolvimento.

pessoalmente, penso que é tudo uma questão de interesse porque é assim que o ser humano foi formatado. alguém acredita que uma menina nascida no deserto do Namibe e crescida entre o mar e o deserto com aquelas temperaturas altas tem todo prazer em ir viver para Manchester mesmo que ela encontrasse no seu habitar as mesmas condições que existem no norte da Inglaterra?

contudo, é preciso acreditar que existem excepções.

1 comentário:

Anónimo disse...

não é importante saber quem é Rubem Fonseca, a literatura dele transforma alguma coisa?
quem põe a mão na massa é que muda alguma coisa.
todos somos movidos por interesses, até vc. a gente pega aquilo que melhor nos cabe, ou aquilo que achamos que é nosso direito.
quem é o o escritor mais conhecido de seu país, ele mudou alguma coisa de verdade. tô farto de palavras vazias, tô farto de gente arrogante que lê meia dúzia de livros e se acha o tal. tô farto de gente que tem tudo muito fácil e fica botando banca.

bom dia.

Zéca/Angola

zecaariano@gmail.com