naquela casa onde cresci, algures pela cidade de Luanda, havia livros e mais livros. muitos de capa vermelha com letras numa língua esquisita que mais tarde vim a descobrir ser russo, outros em francês, inglês, espanhol, português e até havia um muito especial que o pai nunca deixava ninguém tocar, eram palavras em kioko!
como criança e apesar de passar toda minha infância no meio de muitas palavras, pouco valor dava aqueles blocos que se acumulavam nas instantes lá de casa, ao ponto muitas vezes de dar um uso indevido aquelas páginas que nunca saberei ao certo que histórias contavam. quantas páginas não rasguei por birras infantis, quantas páginas não foram riscadas com os meus lápis de cor de filtro, muitas páginas foram queimadas no terraço lá de casa simplesmente porque achava engraçado roubar a caixa de fósforo da cozinha e inventar uma fogueira por cima daquelas letras... há muitas páginas até que foram usadas na casa de banho depois esvaziar o estômago, enfim, apesar de todas as maldades que fiz com as páginas dos livros que tinha lá em casa, existem também muitas outras páginas à quem tratei com carinho e que moldaram esse meu gosto por um dos objectos mais importantes da minha vida.
1 comentário:
A tua descrição fez-me percorrer pelas prateleiras que me rodearam na minha infância, as mesmas localizadas apenas algumas ruas da tua, algures pela cidade de Luanda... Só não sei se havia nelas algum em Tchokwé (que nos era bem familiar). Mas, como tu, as vezes esperava poder ter tido a oportunidade de rever os volumes que fizeram parte da minha vida, mas o tempo e as circumstâncias os destinaram.
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