das personagens que me cruzam a vista no café Flor da Ce, Fernando Pessoa é o que mais tempo rouba da minha atenção.
cabelo branco, bem penteado e com risco a esquerda, parece um homem culto e que não aceita largar os hábitos do passado. chega sempre a mesma hora, senta-se constantemente no mesmo lugar e da mesma forma, pernas cruzadas para direita de maneira a "mostrar" as meias de cores tropicais, camisa excelentemente passada a ferro, calças com vinco único e o pedido nunca difere; um pastel de natas, um sumo de laranja natural e um café.
se não lê, escreve. um livro, um jornal, uma revista ou um caderno de apontamentos sempre lhe fazem acompanhar nas primeiras horas da manhã. já o vi com António Lobo Antunes, Francisco José Viegas, Manuel Rui Monteiro, Nic Kelman e outros, lê também a FHM e a Veja, quando não está concentrado a escrever naquele caderno com folhas quadriculadas e capa cor do mar. numa manhã de coragem, ainda lhe vou perguntar se escreve sobre quem e para quem.
ontem, não foi diferente. Fernando Pessoa, chegou, sentou, pediu e cruzou as pernas para ler Rio de Sangue. quando me aproximei, pousou o livro e retirou o Ipod Nano do bolso para desligar a música. nunca me passou pela cabeça que aqueles fones que sempre usa seriam de um Ipod! convidou-me a sentar e perguntou porquê que observava os seus movimentos. respondi-lhe e continuamos a conversa.
amanhã, vou oferecer-lhe o cd Stória, Stória... da Mayra Andrade e esperar com curiosidade a surpresa que ele me trará.
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