segunda-feira, agosto 31, 2009

...

no início, notei que ainda cá estavas. desconfiei mas achei melhor mentalizar-me que era uma visão.
passou algum tempo e ainda cá estavas!
os dias passaram e voltei a senti a tua presença.
um mês depois, sinto que estava enganado,
um mês depois, sinto que já não me largaras,
um mês depois, sinto-te em todos os cantos,
um mês depois, sei que és tu a minha bengala.

Luanda, 2050 (continuação)

kianda resistiu até não puder mais, a multidão avançava aos gritos com palavras de ordem com perguntas em que as respostas tinham ficado no passado. havia naquela enorme multidão pessoas de todas as classes sociais, pessoas de todos os sexos, pessoas de todas as cores(azuis, verdes, coloridos)... enfim, pessoas que tinham uma imagem vaga de como era kianda no tempo da sua infância, pessoas que ainda se lembravam da fachada dos edifícios da baixa ou das placas em azulejo com o nome das ruas, imagens desaparecidas mas que hoje ninguém sabe porque.

desesperada e sem por onde fugir, kianda decidiu enfrentar a multidão com um discurso directo; calem-se. sigam-me que eu vos mostrarei os culpados.

em silêncio e em fila organizada, a multidão seguiu a menina da baixa até a parte alta. pelo caminho, a paisagem em nada lhes recordava a visão que tinham do passado, o Eixo Viário tinha desaparecido no meio das torres que quase arranhavam o céu, o Casino Kontinental Palace (o maior de África; sim, os angolanos do antigamente queriam que tudo em kianda fosse o maior de África; prédios, estádios, estradas, centros comerciais, etc). de cima, só vê as barrocas da Boavista aquele que tem a capacidade de procurar na sua mente como era a vista lá do bairro Miramar, hoje, a Boavista está fechada com muros altos, portões de ferro onde habitam os mais diferentes condomínios; Serra da Estrela, Bela Negra, Copacabana, Dubai Dream... enfim, nomes para todos os gostos e apenas para pouquíssimos bolsos.

parados a porta do único local que se manteve intacto das ganas dos grandes empreendedores, kianda olhou a multidão que se manteve num silêncio quase ruidoso e disse: é neste local, o único e mais belo que ainda me resta que vivem alguns dos que me modificaram a face.

e num ato de quase total sincronia, a multidão olhou para o enorme portão impecavelmente conservado e leu as letras ali gravadas em ouro maciço.
Governo Provincial de Luanda – Cemitério Alto das Cruzes.

continua... devo?

quarta-feira, agosto 26, 2009

perguntas e respostas...

Certamente mais difícil foi a perda...
Claro!

...do seu filho. Como é que uma mãe lida com isso?
Ai, não se lida. Sobre isso só direi uma coisa e não responderei a mais nenhuma pergunta: é uma doença crónica que se ganha e com a qual se tem de aprender a viver. É o maior pontapé de vida que se pode levar!

Diz que “ou a dor nos verga ou nós vergamos a dor”. É possível vergar essa dor?
É possível. Mas não quer dizer que se deixe de a ter.

O tempo não cura uma dor destas?
Isso não se cura, é uma doença crónica. É preciso aprender a lidar e arranjar mecanismos de terapia na própria vida.
[Paula Teixeira da Cruz]

terça-feira, agosto 18, 2009

Luanda, 2050

e de repente kianda acordou e olhou do vidro da janela o reflexo da sua imagem em contraste com a imagem que vinha lá de fora.

é de tarde e já temos inverno, o que assustou todos os seus habitantes incluindo os tais que no passado se consideravam avançados, os tais, que tentaram a toda força importar os Dubais, as Brasilias e as Las Vegas...hoje, cai a neve pelas mansões agora abandonas por falta de vidas reais, os edifícios dos GRANDES ARQUITECTOS tentam a todo custo agasalhar-se do frio e os amontoados de betão que substituíram as árvores choram por dentro porque por fora as lágrimas encontram-se congeladas!

kianda, a mesma que durante anos foi maltratada por muitos que sempre se acharam no direito de lhe modificar o rosto...olhava para o reflexo do vidro da janela e ria-se sem piedade de si mesma... ria-se por vingança, ria-se por desespero, mas bem lá no fundo ria-se por vergonha do que lhe tinham transformado, ela, que sempre se bateu contra a maquiagem do passado, sentiu-se envergonhada por tudo que via da janela.

continua...
[para os que não saibam, não é de minha autoria a criação de kianda, a personagem, faz parte do imaginário do escritor Agualusa, o mesmo que me acalma os pensamentos em algumas noites de pensamentos atordoados.]

quinta-feira, agosto 13, 2009

hoje, é um bom dia para assumir 30

arrogância ou não... assumo;
feliz aquele que tem tão bons amigos como eu.

para ti, que nunca me lês!

não confessei, mas algum dia terias de saber que és tu.

quarta-feira, agosto 12, 2009

para já, só alegrias...

não me apetece desistir ou cair na tentação de me transformar naquilo em que poderia ser o normal.
não me apetece desviar do caminho em cores vivas e partir para nebulosos caminhos, dos quais, algumas vezes insististe que experimentasse.

cansei-me da dor.
já não me apetece respirar-te nem alimentar-te, vou apagar-te e seguiremos caminhos opostos.
cansei-me de ti.

agora, vou partir para ali onde as alegrias das cores te impeçam de aproximar-te e quem sabe esquecer-te, simplesmente esquecer-te.

terça-feira, agosto 11, 2009

o teu silêncio...

nunca tive dificuldades em iniciar um texto sobre mulheres, alias, sempre foram os textos que com alguma facilidade as palavras me vinham parar... foi assim, que escrevi sobre muitas ou algumas para não parecer exagerado; as que amei, as que magoei, as que sonhei, outras que me deixaram, as que me perseguem, ou aquelas que no seu anonimato fazem-se presente nos meus dias. por todas, escrevi sem algum apuro.

hoje, sem qualquer obrigação sentimental apercebi-me de que nunca antes tinha escrito sobre TI, mesmo naqueles momentos que merecias todas as palavras do meu interior, que de alguma maneira me foram ensinadas por TI, todas as palavras que dizias por gestos, ou como em muitos casos dizias-me com aquele teu olhar que me fazia sorrir espontaneamente.

hoje, sem qualquer obrigação sentimental, recuso-me a escrever-te palavras tristes, palavras amargas, palavras que me façam distanciar do teu sorriso, palavras que te façam entristecer ai, onde agora muitos outros têm o prazer de ouvir os teus conselhos... sim, apenas vou escrever-te palavras que me façam sorrir, palavras que me façam gritar de orgulho por fazer parte de TI, palavras doces, palavras alegres, palavras vivas, palavras coloridas como o arco íris (lembras-te do teu arco íris?), palavras que simplesmente se pareçam contigo.

hoje, apesar de tudo estar diferente, continuas a mesma, nos mesmos locais e com a mesma aparência... calma, alegre, conselheira, amiga, confidente e para sempre presente no meu mundo.

ao fundo, Música É – Eros Ramazzotti, porque foi assim que sempre de defini e assim se manterá.
[agradeço todas as mensagens de carinho.]


Música es
mirar hacia lo lejos, dentro de ti mismo,
la luz es un reflejo, al fondo del abismo
es la inmensidad del cielo azul,
es, tal vez, mi pensamiento, mi inquietud
sin darme cuenta sé
que todo en torno a mí, a mí
música es
la danza regular de tu pecho respirando junto a mí,
la fiesta de tus ojos siempre que me miras,
tú, y tu alegria cuando ríes,
tú, tan sólo tú, y la armonía con que te mueves
te escucharé por ser
tan sólo para mí, por mí
música es, música es,
música es, música es,
música es
música es, música es,
música es, música es
escucho ahora
el ruído de la calle donde he nacido,
mi madre cuántas veces me ha convencido,
pero es más fuerte el grito de mi libertad
y bajo el cielo
el sol haciendo un guiño
hará que se acaloren esos niños
que no se cansan de jugar al balón
y siento ahora cantar en dialecto,
y luego escucho la lluvia y el viento.
es volver al ayer
es la magia que siento
música, de dónde sales
de dentro de mí
es parte de mí
la siento en mí
es
música es,
la ayuda que te falta
cuando me siento solo
es una amiga que me acompaña
es
música es,
para crearla, y guardarla para ti
óyela,
es el idioma que todos sienten
somos un coro de gigantes
sabes que, sabes que
aunque del cielo borraran su huella
yo sigo
el rumbo de su estrella
puede hacer cambiar
las ideas de la gente
la mentalidad
del que escucha y que no siente
antes que esta tierra
sea una gran fosa
y antes que la nada
sea su gran diosa
porque un mundo sin la música
no puede nunca imaginarse,
porque en cada ser, en cada corazón
hay un latido de vida y de amor,
que música es,
música es
música...