kianda resistiu até não puder mais, a multidão avançava aos gritos com palavras de ordem com perguntas em que as respostas tinham ficado no passado. havia naquela enorme multidão pessoas de todas as classes sociais, pessoas de todos os sexos, pessoas de todas as cores(azuis, verdes, coloridos)... enfim, pessoas que tinham uma imagem vaga de como era kianda no tempo da sua infância, pessoas que ainda se lembravam da fachada dos edifícios da baixa ou das placas em azulejo com o nome das ruas, imagens desaparecidas mas que hoje ninguém sabe porque.
desesperada e sem por onde fugir, kianda decidiu enfrentar a multidão com um discurso directo; calem-se. sigam-me que eu vos mostrarei os culpados.
em silêncio e em fila organizada, a multidão seguiu a menina da baixa até a parte alta. pelo caminho, a paisagem em nada lhes recordava a visão que tinham do passado, o Eixo Viário tinha desaparecido no meio das torres que quase arranhavam o céu, o Casino Kontinental Palace (o maior de África; sim, os angolanos do antigamente queriam que tudo em kianda fosse o maior de África; prédios, estádios, estradas, centros comerciais, etc). de cima, só vê as barrocas da Boavista aquele que tem a capacidade de procurar na sua mente como era a vista lá do bairro Miramar, hoje, a Boavista está fechada com muros altos, portões de ferro onde habitam os mais diferentes condomínios; Serra da Estrela, Bela Negra, Copacabana, Dubai Dream... enfim, nomes para todos os gostos e apenas para pouquíssimos bolsos.
parados a porta do único local que se manteve intacto das ganas dos grandes empreendedores, kianda olhou a multidão que se manteve num silêncio quase ruidoso e disse: é neste local, o único e mais belo que ainda me resta que vivem alguns dos que me modificaram a face.
e num ato de quase total sincronia, a multidão olhou para o enorme portão impecavelmente conservado e leu as letras ali gravadas em ouro maciço.
Governo Provincial de Luanda – Cemitério Alto das Cruzes.
continua... devo?
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