quarta-feira, maio 14, 2014

mentes brilhantes

a falta que eu sinto do meu pai é equiparável a necessidade que algumas comidas têm do sal. 

não há duvidas, os cotas têm uma mente brilhante. 

este fim de semana fui ao Kwanza Sul, numa viagem de autocarro com mais 17 pessoas, num grupo onde apenas 4 tinham menos de 50 anos de idade. 
o autocarro estava relativamente degradado e os bancos um tanto quanto duros para as minhas nádegas aguantarem uma sentada de aproximadamente 4 horas de viagem. o calor não ajudava e o motorista, apesar da simpatia, insistia na velocidade até que o cota M lhe chamava atenção com uma frase sempre acompanhada de algum humor. 

estar num lugar assim fechado com tantas mentes que viveram num passado cheio de utopias e planos que infelizmente na sua maioria nunca se concretizaram, é uma experiencia inesquecível em muitos sentidos. 

primeiro porque se aprende muito, mesmo que para isso é preciso antes ter-se uma paciência elevada para ouvir, ouvir, ouvir, ouvir e só depois com muita humildade opinar, porque apesar dessas mentes serem tão brilhantes, são ao mesmo tempo injustamente tão sofredoras. sofredoras no passado por uma incansável luta para que entre muitas coisas, um jovem como eu com menos de 35 anos hoje possa estar aqui a perder tempo com um blog. sofredoras também porque apesar de tanta luta depois de tantos anos, as suas utopias continuam a ser utopias, mesmo que algumas dessas mentes brilhantes continuam a ter esperança. e eu, que muitas vezes afirmo que já não tenho esperança, ao ouvir aquelas mentes brilhantes senti-me envergonhado. 

foi uma viagem mentalmente muito forte para mim, porque a determinado momento apercebi-me que as mentes brilhantes falavam de todos os assuntos, mas jamais ousaram em tocar na palavra política, mesmo que os seus olhos e os várias expressões que surgiam nas suas faces por momentos se aproximavam-se do tema. hoje, ao ler este excelente trabalho na rede angola, percebi alguns recados que me foram transmitido pelos olhares profundos das mentes brilhantes. 

entretanto, andando pelo Sumbe o passado esteve constantemente presente.

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