domingo, agosto 24, 2014

iloveLUANDA

a Suzete era uma brasileira que na altura da minha infância vivia no 7º andar do edifico de fronte ao prédio JPimenta. era no seu simples e bem arrumado apartamento que passei muitas horas da minha vida... um espaço de cor castanha e com sotaque carioca em todos os cantos! naquela altura não existia internet, assim, a Suzete matava as saudades do Rio de Janeiro de uma forma muito própria. em Luanda, a vida dela resumia-se em dois pontos: as aulas de piano que dava com bastante carinho e as constantes histórias que contava-nos sobre a sua filha e o Rio de Janeiro... aliás, nunca conheci a filha da Suzete, mas naquela altura sabia tanto sobre ela como do Rio de Janeiro. 

a Suzete foi a minha professora de piano e foi com ela que aprendi a viajar para um lugar chamado imaginação... mesmo sabendo que quando saia das aulas de piano os meus amigos da rua comandante stona gozavam comigo porque estudava uma coisa para filhinhos de papai (betinho, como se diz hoje), a verdade é que as tardes que passava com a Suzete me encheram de coisas boas. degustávamos Vivaldi, Strauss, Tchaikovsky e outros génios, por vezes até Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros... mas lembro bem que era o Richard Clayderman que mais ouvíamos e havia vezes até que passávamos a tarde inteira ouvindo histórias da literatura brasileira. Machado de Assis era constante. 

a semana passada tive uma experiência arrepiante na Taberna Urbana, um novo espaço que abriu numa ruela na baixa da cidade. Luanda Classical Nights com o pianista russo Alexey Shakitko, foi para mim um momento bastante intenso, com pontos agridoces que me levaram quase a exaustão! por vezes, existem situações agradáveis que me fazem recordar coisas tristes, mas gosto de recordar dessas coisas porque me fazem bem! 

sentei-me em frente ao pianista e a medida que o “concerto” avançava, parecia que ele conhecia com profundidade a minha intimidade... conversamos com os olhos ao som das notas de compositores russos, trocamos sorrisos e por momentos achei que ele notou as lágrimas que quase tocaram as teclas da Clavinova de marca Yamaha! na verdade não eram lágrimas, eram agradecimentos aos meus pais por me terem dado condições de conhecer a Suzete apesar de todas as dificuldades que passaram, e agradecimentos também a Suzete por me ter apresentado uma coisa chamada música clássica. 

cada um ama a cidade que tem ou, como afirmam algumas pessoas, a cidade que merece. eu amo Luanda porque no meio de tanta merda, essa cidade é um lugar inconstante, um lugar de surpresas, um lugar que do nada te deparas com um espaço como a Taberna do Urbana com um russo a tocar piano com o reportório de compositores russos! 

da para odiar uma cidade assim!? 

1 comentário:

Lwlw disse...

Felizarda a Luandina pelo amor que sentes por ela e vais partilhando com o mundo a sua beleza no meio dos seus escombros. Bem-aventurados os teus pais por terem encontrado a Suzete na escacez de oportunidades como essa que até hoje se sentem. Que vivas sempre essas experiências únicas com tanta emoção...