segunda-feira, junho 14, 2010

ainda o mundial, África e os africanos

[um jornalista (Tiago Carrasco), um fotógrafo (João Henriques) e um repórter de imagem (João Fontes) aventuraram-se durante 5 meses numa viagem de 30 mil quilómetros, passando por 19 países, da capital portuguesa até a principal cidade da Copa do Mundo, Joanesburgo. Publicada na Revista Única, compartilho aqui à aventura num copy/paste sem censura.]

Portugal
Precisávamos de fugir. A crise apertava e a rotina sufocava. Mas como fugir e para onde? Tinha de ser uma escapadela que nos permitisse viajar, prazer primordial, e ao mesmo tempo trabalhar, prazer necessário ao custeio da viagem. A ideia surgiu ainda em 2008. O primeiro Mundial de futebol em África. Não há melhor livre-trânsito em África do que levar uma bola de futebol na bagagem. Em Outubro de 2009 pusemos mãos à obra. Demitimo-nos dos empregos e passámos a picar o ponto todas as manhãs numa cave em São Sebastião, Lisboa. Um trabalho a tempo inteiro para planear tudo em detalhe. Necessitávamos de um carro, de uma câmara de vídeo e de um meio de publicação, mas o máximo que arranjamos foi um produtor que nos quis mandar para o Brasil fazer um curso de Krav Maga, letal arte marcial israelita, como condição para o apoio. Todos nos incutiam medo como velho velhos do Restelo do século XXI: “Vão se raptados por tuaregues, devorados por leões, envenenados por feiticeiros.” Ouvimos 1001 formas de morrer em África. A duas semanas da data prevista para o arranque, assustava-nos mais não ter carro nem dinheiro do que os bruxos e os animais ferozes. Pensámos comprar um Fiat Uno velho, ir à boleia ou de autocarro e mendigar por comida. Mas o milagre aconteceu a duas semanas do inicio. O “Record” comprou-nos a ideia, a Galp alugou-nos um jipe que já tinha corrido dois Lisboa-Dacar e a Sport Zone forneceu-nos tendas e vestimenta. A 9 de Janeiro, entre lágrimas e abraços, a fuga começava nos Parque das Nações. Para lá da Ponte Vasco da Gama esperavam-nos 19 países e 30 mil quilómetros. Entre tantas outras coisas com que nem sequer sonhávamos...
continua...

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