sexta-feira, março 30, 2007

para ti, que nunca me lês!

não há uma coisa que se faça por um ser (que se faça verdadeiramente) que não negue um outro. e quando não nos podemos resignar a negar os seres, há uma lei que nos esteriliza para sempre. de certo modo, amar um ser é matar todos os outros.

Albert Camus

quinta-feira, março 29, 2007

aquecimento global

isto pode ser uma prova que aquilo de que fala o ex vice-presidente da américa Al Gore naquelas palestras que tanto cobra, não é brincadeira nenhuma.
ontem, o meu irmão deixou o carro estacionado por baixo do sol durante o período da manha. o cabide que geralmente ele usa para pendurar o casaco ficou no estado que podem ver na foto, totalmente desfigurado de tão alta que estava a temperatura!
isto, também deve servir de aviso aquelas pessoas que gostam de deixar as crianças dentro do carro enquanto vão as compras.

AGORA LUANDA


palavras de José Eduardo Agualusa

tenho de confessar que a informação sobre esta exposição chegou-me através do leitor carlos (a quem deixo um abraço, o mundo hoje é uma coisa tão pequenina!) num comentário que ele deixou no post trienal de luanda.
ontem foi o dia da inauguração no centro cultural português (ate ao dia 15) com o titulo agora luanda, kiluanje liberdade e inês gonsalves mostraram um lado da cidade que temo que o chamado “desenvolvimento” que agora anda por ai faça algum estrago.
afinal, há coisas que devem ser conservadas.

já o documentário mãe ju, realizado também pelo kiluanje e a inês matou-me de tão bom que esta, a montagem a cargo de maria joana esta excepcional. as imagens foram captadas no bairro do sambizanga se na estou em erro, onde fica o bar da mãe ju com o mesmo nome. participaram nele kudiristas como gata agressiva, nacobeta, come todas, puto português, luz que brilha, dama sereia, dj znobia (que tive o prazer de o conhecer pessoalmente ontem), só para citar alguns.
infelizmente o dvd ainda não esta a ser comercializado, mas é uma obra que farei tudo para estar na minha estante aqui de casa.

o olhar atento do mais velho Mendes de Carvalho (Uanhenga Xito)






quarta-feira, março 28, 2007

homens ou maquinas!?

no outro dia sai para fazer fotos de “algo” que me chamou atenção desde que cá estou.
os seguranças privados. não por serem monumentos com alguma beleza, o facto é que na sua maioria, estes homens quando estão nos seus postos de trabalho estão mais a dormir do que a controlar coisa alguma. há uns que em plena luz solar chegam a roncar de tal maneira que parecem estar num colchão de água bem confortável.
mas será que em caso de roubo, estes homens devem ser responsabilizados pelo facto? talvez os responsáveis pelas empresas de segurança se esqueçam que o robcop só existe em filmes e que estes homens não podem nem devem ser tratados como maquinas. será que alguém acredita mesmo que um segurança depois de 10 horas seguidas de trabalho que é submetido ainda consegue controlar alguma coisa?
ontem conversei com um na marginal de luanda que me disse: mo puto, se um gajo reclama é logo despedido e ainda por cima só nos pagam 100 duras (100 usd).

e depois há os que dizem que os grandes edifícios sem parque de estacionamento suficiente que estão a ser construídos é desenvolvimento! talvez estas mesmas pessoas ainda não se deram conta que em parte nenhuma do mundo o crescimento económico significa desenvolvimento.
falando em “desenvolvimento”, o primeiro centro comercial do pais (belas shopping) abriu as suas portas hoje, mas isso fica para um outro post ate porque tem que ser com ilustração.

já tinha saudades deste fundo preto

os últimos dias têm sido um tanto quanto conturbados.
depois da ultima chuva que derrubou muitos outdoors, muitas arvores, algumas enchentes e o sinal da minha internet, parti os óculos num acidente em que o causador nem sequer se deu o trabalho de saber o que aconteceu comigo! é verdade, fui atropelado.

depois de muitos adiamentos, lá conseguiram honrar com a publicidade que estava espalhada por toda cidade do show de 50cent. a desorganização foi total, o que não foi novidade para maioria das pessoas que lá estavam. o artista, este fez o seu trabalho com muito profissionalismo, eu próprio que não sou um grande admirador nem do estilo de música nem do 50cent, gostei da actuação do homem. aquela agressividade que tanto faz vender a sua imagem, foi substituída por uma simpática sincronia entre ele e o publico.
a minha saída é que não foi das melhores. ainda estava dentro do parque de estacionamento da cidadela desportiva, quando o carro que tudo fiz para esquiva-lo embateu na minha perna direita atirando o meu corpo para o asfalto. o homem se foi com a mesma velocidade que quase passou por cima de mim!

quinta-feira, março 22, 2007

o primeiro filho do príncipe de Brunei chama-se

Yang Teramat Mulia Pengiran Muda Abdul Muntaqim Ibni Duli Yang Teramat Mulia Paduka Seri Pengiran Muda Mahkota Pengiran Muda Haji Al-Muhtadee Billah

Milton Gonçalves

no brasil, ninguém quer ser negro.

hoje, é o dia mundial da água!


e porque a saudade da boa malta que deixei em malta já bate.

segunda-feira, março 19, 2007

respirar a cidade

eram 7h e tal da manha quando iniciei a caminhada.
ontem na conversa com o mano mais velho, disse-lhe que pretendia andar um pouco a pé porque queria respirar a cidade. com um sorriso de leve, disse-me que não levasse telemóvel, relógio, mp3 nem a máquina fotográfica e o mais importante de tudo não faças cara de boelo (burro). aceitei os conselhos do cota porque infelizmente nos dias de hoje ser assaltado em luanda é tipo nada, e por outro lado fazer fotos na via publica é “ilegal”!

o calor já se fazia sentir e a medida que ia caminhando notei que aquela quentura não era apenas do clima, os geradores nos passeis e nos quintais mas com o fumo a ser lançado para o passeio, criam um aquecimento “global” que me fez lembrar albert arnold gore jr. (al gore). na rua por detrás do imil (instituto medio industrial de luanda, makarenco) onde fiz o meu ensino médio, vejo o primeiro engarrafamento, a fila de carros era enorme e os candongueiros como sempre a fazerem das suas, mas felizmente para aqueles automobilistas que no cruzamento do centro comercial chamavo havia um policia transito a fazer o que podia. já pelas bandas do maculusso, chamou-me atenção a tabacaria onde comprava algum material escolar, mas pelo que reparei agora é um salão de cabeleireiro! por cá, é assim mesmo, muitas vezes as mudanças são radicais e num espaço de tempo surpreendente. o talho onde compraste carne a três meses a trás, hoje pode ser balcão do banco x, w ou b, a rapidez das obras é uma coisa assustadora, onde ontem tinha uma casa hoje é um prédio e como dizem, o que esta a bater agora é levantar andares; se a casa do vizinho é de primeiro andar outro aumenta um segundo, e por vezes recebe mesmo a “resposta” do outro que levanta as dois e passa a ter três! qualquer dia, ainda estão no céu.

na sagrada família tive um encontro feliz, cruzei com o meu professor de português da 7ª classe no juventude em luta, que agora infelizmente lecciona num colégio particular, porque como ele disse as condições são melhor meu filho. digo infelizmente, porque sou de opinião que o ensino estatal apesar de algumas dificuldades ainda é melhor que o particular, e mesmo nestes anos todas que estive fora a minha opinião não mudou ate porque penso o mesmo de portugal e malta que a par de angola são realidades que conheço mais ou menos bem.
pensei em entrar pela cabral moncada, mas o pouco movimento de pessoas e carros por ser uma rua secundaria, fez-me escolher a rua do prédio do livro. afinal o que eu queria era respirar a cidade. se aquilo que vi na vila alice chamei de engarrafamento, então o que se estava a passar logo depois do prédio do livro fico sem saber que nome dar. depois da paragem do autocarro, era um autêntico caos, nem já a 2ª circular ou a ponte 25 de abril no sentido setúbal lisboa em horas de ponta! simplesmente os carros não andavam com excepção dos azuis e branco que não se importam de correr com os piões do passeio porque têm sempre pressa. ai, a poluição sonora passa todos os limites! gritaria dum lado, buzinas do outro e a disputa dos candongueiros para ver quem tem a musica mais alta. hip pop, kuduro, kizomba e semba com destaque para a keta do matias damazio – saudades (saudades da mana zita que casou com o mano zezito que era m´bora meu amigo…) que era a que mais se ouvia.

quando esquinei na maianga o calor quase que me derrubava, estava completamente molhado e a boca pedia agua. já próximo do restaurante sonabrasa, encontrei a cota que debaixo de uma sombra vendia bombo frito com jinguba torrada. chamei um puto que vendia gasosas num enorme saco plástico com gelo e pedi uma sumol de laranja que estava a estalar (sempre que estou com uma enorme cede e bebo uma gasosa bem fresca, pergunto-me como é possível existirem pessoas que só bebem álcool?). já com a boca mais fresca e as mãos ocupadas com os meus kitutes segui para casa.
passavam das 8h e 20 minutos quando a porta de casa me cruzei com a mãe que saia para o trabalho, surpresa perguntou: vens donde a transpirar assim parece um ambulante?
fui respirar a cidade, disse eu.

na cidade vazia

já lá vão muitos, mais muitos anos que não ia ao cinema aqui a banda. a ultima vez que isso aconteceu eu era ainda candengue e naquele tempo, ir ao cinema karl marx aos domingos, era quase um programa obrigatório.
hoje fui ao cine atlântico ver o filme
na cidade vazia, de maria joão ganga que retrata a violência juvenil em angola. a projecção do mesmo esta dentro de um projecto (penso que seja social) denominado delinquência estou fora.
entre apupos e assobios saudáveis em determinadas cenas do filme, valeu a “experiência” que penso repetir muitas vezes.

imagem do fim-de-semana


sexta-feira, março 16, 2007

fotografar na via publica é crime!?

os ponteiros do relógio marcavam 11h e tal da manha, no momento que atravessava a avenida revolução de outubro que divide o bairro do catambor e do chaba, faço um compasso de espera e começo a disparar. a determinado momento consegui captar o candogueiro que atropelou uma pessoa e na maior normalidade continuo para o seu destino. fiquei confuso, mas continuei a disparar na direcção do corpo deitado no asfalto quente já rodeado por algumas pessoas.
jovem, acompanha-me. disse o homem a civil que tocou-me no ombro!
perguntei porque. identificou-se com o seu cartão em que pude ler policia. fomos até ao contentor que estava alguns metros do local do “crime”, que era um posto de comando da polícia nacional. porque que estas a fotografar na via publica? tens algum cartão da tpa ou rádio nacional que te autorize a tirar fotografias neste local?
da minha boca só saíam respostas negativas e por isso disse-me que a maquina estava apreendida. vamos aguardar pelo carro da patrulha e na esquadra os peritos vão tomar conta da situação.
3 ou 5 minutos depois apareceu o amigo que me vinha buscar. mas conhecedor que eu de como se resolve estes “impasses” conversou com o sr. agente que em seguida fez-me deletar todas as fotos que tinha no memory card. depois de um pequeno sermão, aconselhou-me a ter cuidado e não andar por ai a fazer fotos, porque sem autorização posso arranjar problemas graves com as autoridades.

de tanta atenção que o sr. agente deu ao meu “crime”, nem sequer teve a preocupação de me perguntar se eu tinha conseguido captar o candogueiro que tinha acabado de cometer um crime. bastava usar o zoom e de certeza que as autoridades iriam conseguir obter a chapa de matricula da referida viatura, mas pelos vistos o meu “crime” teve mais atenção porque foi mais grave!

quinta-feira, março 15, 2007

para ti, que nunca me lês!

os sonhos que tivemos, ainda continuam guardados na segunda gaveta da cabeceira do meu lado esquerdo.

trienal de luanda

nesta fase em que ainda sou cunanga (desempregado) vou aproveitando para andar por ai.
na terça-feira fui ver a
trienal de luanda, que é um projecto de exposições e ciclo de conferências internacionais organizado pela fundação sindika dokolo. no total são três galerias que estão espalhadas na zona baixa de luanda em que os interessados tem direito a transporte para poderem se deslocar de uma exposição para outra a custo zero.
exposições:
arquitectura – reorganização do caos (arquitectura angolana)
politica – estética e cultura da política contemporânea africana
design – o conflito criadorcriatura


arquitectura

a foto original é de Kiluanji Kia Henda



politica




design




quarta-feira, março 14, 2007

motivo de uma "longa" ausência IV

primeira vez em frankfurt, piso molhado por causa da chuva que tinha acabado de cair. o aeroporto é enorme e pelo numero de aviões que vejo com as cores da lufthansa alguma coisa me diz que estou na base central da companhia, ou talvez não. sem precisar passar pelo controlo fronteiriço vou directo a gate b22 para reconhecer o local e depois não andar a corrida. checo o mail, respondo duas mensagens, ponho um post de até já para justificar a ausência, uma passagem rápida por alguns blogs, jornais e por fim fui ver como estava financeiramente. depois de um telefonema, aquilo que a muito o corpo pedia, um banho. compro uma t-shirt e um boxer (afinal só tenho bagagem de mão), pago o banho mas sem antes perguntar a senhora quanto tempo podia ficar. isso é escolha sua, disse ela. o banho fez-me muito bem, antes de sair do duche uns 10 ou 15 minutos sentado no chão com a água escorrendo. terminada a fachina corporal, um telefonema que me havia esquecido e fui comer um big mac (mal, mas agora os gastos tem de ser mais controlados).
neste momento que escrevo não sei que horas são, no ecran de informações dos voos, o primeiro que surge sai as 21h:35, tenho tempo suficiente para andar um pouco por ai. ham, quase me esquecia; vir ou passar pela alemanha e não saborear um haagen-dazs (doce de leite), para mim não é a mesma coisa.

22h:10 disse-me o companheiro de lugar. como o tempo passa! daqui a 10 minutos partimos deixando para trás a terra de Patrick Süskind.
dificilmente durmo demasiado em viagens nocturnas, mas veremos como será esta. para leitura trago a CQ, FHM e mais nada!
definitivamente viajar de noite não é das coisas que mais aprecio. a paisagem escura que a janela me mostra traz-me sempre a mente outras imagens que são-me difíceis descodificar. ao mudar os canais de rádio, oiço uma voz que diz seja bem-vindo ao canal de música popular brasileira a bordo deste voo. não consegui memorizar o nome do locutor nem da voz feminina que passa neste momento.

afinal, sempre consegui dormir tanto que nem me apercebi que a comida foi servida! uma vez li um livro, onde o autor dizia que a boa hospedeira nunca acorda o passageiro, deixa-o dormir e fica atenta para quando ele acordar fazer a pergunta de costume: vai querer peixe ou carne?
o filme parece ser interessante, A Good Year com Russell Crowe, é recente e nunca o vi.

já não deve faltar muito. antes de começar o segundo filme, lembro de ter visto que estávamos por libreville, sinal que já não falta tanto para entrarmos para o sul de africa. adormeci pela segunda vez e sentia o corpo dorido, vou ao wc e tento água fria na cara para ver se minimiza este mau estar, o ecran mostrava 3h08 para o destino e no mapa vi que estávamos por cima do congo democrático (lubumbashi). abro a janela, não se vê muita coisa porque estamos por cima faz nuvens, mas por vezes abre-se um espaço como se fosse uma janela entre as nuvens onde vejo um enorme verde (savanas). this is africa.

44 minutos para aterragem em joanesburgo, já passaram alguns aninhos desde que cá estive pela ultima vez, mas como hoje a passagem é rápida tenho curiosidade de ver como esta o aeroporto. a vez passada estava em obras e a confusão era enorme. por este dias, assisti um programa na televisão sobre o mundial de 2010, onde mostravam imagens mas sem obras algumas.
20 ou 30 minutos no vai e vem, a menina da casa de cambio diz-me que para comer não fica em conta trocar, melhor é pagar mesmo em euro. tento comprar um cartão para telefonar e o homem diz que só aceita rand ou dólar! volto para casa de cambio e a menina aconselha-me a comprar qualquer coisa com euros para obter troca em rands, vou a cosmic candy e compro um toblerone gigante a pensar na sobrinha mais nova. com rand nas mãos, lá consegui pagar o cartão telefónico e aproveito para perguntar o preço da internet, pagas o que usas, mas só aceitamos cartão de crédito. e sem credit card? perguntei. lamento mas não da. e não há outro espaço onde possa pagar em cash? não. estranho!!!
como uma/um brushetta e bebo uma fanta (para me levantar, como se diz aqui na banda), a vista são dos aviões e das obras. o calor já se faz sentir, os 23º fazem-me tirar o casaco e a camisola interior mantendo apenas a t-shirt.


há algo estranho que me entristece, o atendimento é lento e não senti a devida atenção dos trabalhadores das lojas, talvez esteja enganado porque esta não é a africa do sul que conheço! estou cansado, o corpo pede cama.
15 minutos de voo, mudo de lugar para estar numa fila sozinho. as últimas horas em joanesburgo dormi um pouco, mas senti que o tempo passou tão devagar o que é mais um sinal que estou em africa. por cá, os ponteiros do relógio andam mais devagar! tenho de tentar dormir mais um pouco, os pés doem, o corpo e a mente dão sinais constantes de esgotamento total. não posso mais.

windhok, ainda no aeroporto aproveito para trocar dinheiro, a menina de olhos fundos por trás do balcão ajuda-me a escolher um hotel, insisto com ela que procuro algo barato mas que me faça sentir na namíbia. andré, é assim que se chama o taxista e guia momentâneo, diz-me que por cá há muitos angolanos (ainda no aeroporto conversei com 3).


são 42km para o centro da cidade, a paisagem é linda o calor é intenso e com a máquina em mão começo a disparar. já no centro, passamos por 6 alojamentos e todos eles estavam esgotados e quando já começava a conformar-me que iria pagar muito por apenas uma noite, andré lembrou que por cá existem uma daquelas pensões colectivas (tipo casa da juventude). a primeira estava full, mas na segunda há uma cama vaga. há um grupo hospedado que esta a fazer um safari pelo sul de africa, amanha partem para angola. a recepção esta cheia de bandeiras, brasil, israel, holanda, alemanha, grécia e outras. quando reparei na de angola disse a sr. que era a minha e logo a seguir o jovem do lado perguntou se era angolano. sim sou. e vens de luanda? não, africa do sul. falamos mais um pouco e acabou por me apresentar a noiva, uma israelita com um cabelo lindo de tão preto que era. o calor aumenta, saio para comprar agua e aproveito para um passeio no centro. quando regressei a pensão reparei num jogo que não me lembro o nome, faço uma foto para depois tirar a dúvida em luanda.


a decoração é linda, vou fotografar tudo, talvez assim consiga convencer os amigos para darmos uma volta por aqui. já é noite, vou ver se encontro um calção para dar um mergulho na piscina que não para de olhar para mim.
na sala comum onde estão alguns jovens, vemos um filme ao mesmo tempo que lá fora cai uma chuva miúda, talvez seja bom para arrefecer o tempo. não foi o que aconteceu!
quase meia-noite quando me retirei para o quarto. 4 já lá estavam a dormir, o barulhento (ronca muito mais alto que o meu irmão!) chegou muito mais tarde. são 3 beliches e a roupa de cama é muito confortavel. a noite é tão silenciosa que é possível ouvir o som daqueles insectos que agora fugiu-me o nome da menta. pirilampos, será? quanto tempo não os ouvia, já me disseram que no alentejo é possível ouvi-los. a noite em africa é virgem (acho que me entendem).

levanto-me cedo, a noite não foi má. um banho de agua “fria” para começar o dia, já não me lembro a ultima vez que banhei sem necessitar de abrir a torneira do lado de agua quente. tudo preparado e as últimas fotos antes que o sol se mostre totalmente, a sr. diz-me que são agora 6h:47, vou comer e esperar pelo andré. da janela da cozinha consigo vê-lo no carro a ler o jornal, combinamos as 7h:00 e ele já cá esta. gostei, é pontual.

checkin feito, agora é só aguardar. a foto de praxe foi feita, eu e o andré com o sinal de vitória nos dedos. já na sala de embargue e através de uma janela consigo fazer a foto do avião oficial de Robert Mugabe, presidente do zimbabué que esta de visita ao pais. as fotos foram rápidas porque em algumas zonas de africa fotografar o aeroporto é motivo para uma acusação de espionagem!

lá fora o calor é insuportável, mas o frio do ar condicionado irrita-me um pouco.
uma ultima chamada antes do embargue para avisar a hora de chegada.
no ar algum tempo, reparo em algo que nunca tinha visto. é a primeira vez que viajo num voo onde quase a metade (ou mais) dos passageiros compra perfumes. mas não é apenas um perfume de lembrança ou talvez oferta, são sacos e sacos que o assistente de bordo passa de um lado para o outro! se é coisa normal na rota windhouk – luanda, significa que o negócio da perfumaria aérea corre bastante bem.

a demora na emigração ate parece que vamos entrar para um pais onde somos estrangeiros! é a minha vez e o homem diz: candengue tira o chapéu. peço desculpa e depois do carimbo avanço pela linha verde (nada a declarar). lá fora o calor bate na cara e a gritaria começa:
cota já tem táxi?
sim.
cota não quer ajuda?
não obrigado.

5 minutos depois a mana aparece e vamos para casa. um ligeiro engarrafamento e em 10 minutos estou em casa. mesmo antes do banho saboreio o feijão de óleo de palma com farinha e banana a conversa para saber as novidades.
digestão feita, vou agora tomar um banho e dormir.
ESTOU EM ANGOLA.

domingo, março 11, 2007

motivo de uma "longa" ausência III

quarta-feira 28.02.2007
levantei sem saber que horas eram, agua fria pela cabeça e escovo os dentes. quando limpava a face pensei, preciso de um creme (nívea) para o rosto! talvez esteja com a cara esbranquiçada e não consigo saber porque na “suite” não há espelho.
bato a porta para chamar o oficial, que pergunta o que se passa.
desculpe, pode dizer-me horas?
8h:5, porque?

tenho de ir a lufthansa fazer o pagamento do meu bilhete, disse eu.
um momento vou averiguar.

como houve substituição dos oficiais de ontem para hoje, é bem possível que esta averiguação demore um pouco.
enquanto me lavava, o som da água despertou os dois companheiros. o tunisino lavou-se a seguir e o outro ainda deitado de barriga para cima esta com uma expressão facial seria e pensativa.
10 minutos ou mais e averiguação ainda não terminou!
a minha esquerda o tunisino recomeça a rezar, estendeu a fronha da almofada no chão e ajoelhou-se no mesmo canto de ontem.
o oficial abre a porta e pergunta-me quanto dinheiro tenho para pagar o bilhete, admirado com a questão respondi que tinha o suficiente. nem um minuto passou e apareceu um outro oficial que me fez a mesma pergunta e respondi o mesmo. acompanha-me, disse ele. o balcão da lufthansa estava fechado, pergunta daqui e dali, alguém informa que só abre as 9h, olhou para o relógio e disse: são 8h:27, as 9h venho buscar-te. de volta a “suite” encontro uma troca de palavras entre o tunisino e um polícia. ele insistia que queria um café expresso, e o oficial disse bebes o que houver… sentado na cama, sorri discretamente e pensei; numa situação desta, será que um café expresso faz alguma diferença?
o silêncio voltou com a mesma descrição com que se tinha ausentado. no ar o cheiro de atum é forte devido a sandes de tuna que o moldavio acaba de comer como pequeno-almoço.
aguardo…
alguém bate a porta mas o oficial não responde, sinal que não esta cá ninguém! ganho coragem e faço algumas fotos das figuras desenhadas nas paredes.

oiço a conversa entre um idoso detective e o jovem que a policia achava que fosse tunisino. afinal é argelino, e agora ate eu estou confuso sobre a real nacionalidade do homem! talvez a ideia seja confundir o máximo as autoridades, para que o estatuto de refugiado saia com mais facilidade, porque aparentemente não existe pais de origem para onde lhe possam deportar.
o moldavio acaba de ser informado que logo a noite regressa casa via istambul. rápido para quem fez moldávia – ucrânia – turquia – malta. perguntou ao oficial se seria possível darem-lhe asilo em malta porque precisa de trabalho. a resposta veio com um gesto negativo feito pela mão do polícia.
10h:13 quando acabei de pagar o bilhete. a rota é a mesma que foi combinada ontem, parto as 13h:35 e chego a frankfurt as 16h:15 para as 22h:20 rumar para joanesburgo que só chegarei amanha (dia 1) as 9h:40, para 5h depois partir para windhouk onde vou passar uma noite e no dia 2 as 11h:45 partir para luanda. em windhouk espero sair do aeroporto e encontrar um hotel/pensão para passar a noite e quem sabe andar um pouco pela cidade.
a bagagem preocupa-me, hoje sem falta tenho de ligar para tap.
acabei de fazer um agradável sorriso! o moldavio acaba de me dizer que trabalhou em portugal (faro e tavira) numa fábrica de peixe. quando ele disse um pouco, quase me esqueci que estamos detidos e ri muito. conversamos em português e inglês. disse-me que é engenheiro de transportes hidráulicos e quer ir para inglaterra tentar a sorte. o ano passado saiu de portugal para alemanha e foi apanhado numa operação stop na fronteira germânica e foi repatriado para moldávia.

porque saíste de portugal?
a fábrica fechou e precisava trabalhar.

o resto da história já se imagina.
acabam de me informar que a minha bagagem esta em lisboa no mesmo momento que chega mais um “colega” de quarto. pela língua que esta a falar ao telemóvel, arrisco, talvez árabe. ainda não dirigiu a palavra a ninguém nem nos a ele.

no ar e a uns 10 minutos de viagem já me sinto mais aliviado, não de todo, porque o todo só acontecera quando tiver a minha bagagem. algumas fotos da vista aérea de malta ao som de i love new york de madonna.

vou ler (a uncut deste mês que vem com um artigo interessante sobre os Sex Pistols).

a refeição foi servida, faço um sorriso para a hospedeira, não estou com fome mas por vezes a vontade de mastigar algo e enviar para o estômago aparece. abro a pequena tigela prateada que lança aquele cheiro de comida de avião e para o meu espanto, pasta! foi a coisa que mais comi nos últimos 6 meses, pasta com isso, aquilo e não sei mais o que. não enjoei mas malta fará eu evitar comer pasta pelo menos por algum tempo. comi sem reclamar.
passando pelo espaço aéreo italiano é possível ver a neve nas bonitas montanhas. coincidência ou não, nos ouvidos oiço baila morena de zucchero e mana.

continua...

para saber como começou o motivo da minha “longa” ausência click AKI para ler a 1ª parte e AKI para ler a 2ª.

sexta-feira, março 09, 2007

motivo de uma "longa" ausência II

malta again!
numa pequena sala na companhia de um jovem que posso jurar também ser africano, volto a contar a minha história a policia fronteiriça e perguntei onde poderia comprar um bilhete com destino final angola. em seguida, um dos policias ligou para mulher (6 meses depois, há expressões em maltes que já percebo) que trabalha numa agencia de viagens e pediu-lhe para ver rotas possíveis. 5 minutos depois, ainda com o escutador na mão disse-me:
amanha de tarde há 2 voos, um malta – frankfurt – joanesburgo – luanda e outro malta ––amsterdão – são paulo – luanda.
escolhi a primeira opção porque áfrica do sul é mais próximo de casa e já conheço o pais, segundo porque algum tempo que tinha curiosidade de conhecer o aeroporto de frankfurt. resolvida a questão, fui fazer 2 chamadas, checar o mail e trocar algumas frases no messenger com o mana mais nova. o policia muito brincalhão que me acompanhava pasmado com a rapidez com que teclava, perguntou-me se era jornalista! voltamos para pequena sala onde tirei a minha bagagem de mão, e fomos ao tapete saber das minhas malas. nada veio! chateado lembrei-me do detective italiano que me garantiu que estava tudo em ordem.
fez um repot e disse-me que as 21h chegaria um voo de roma, que sorriso lindo tinha ela, mas nada igual ao da sílvia (pena que não nos despedimos, hoje nos vimos pela manha, trocamos um olhar e a seguir um good morning, perguntei-lhe onde podia encontrar paginas amarelas, indicou-me o café, agradeci e pisquei o olho).
o policia (que a mulher trabalha na agencia de viagem) disse-me que tinha de me levar onde ficam as pessoas sem autorização de entrada em malta. lembrei então de uma reportagem que uma vez vi na rtp sobre a falta de condições nos aposentos (aeroporto sá carneiro-porto) de pessoas que eram impedidas de entrar para tuga por algum motivo. se aquelas imagens na reportagem mostravam falta de condições, então não sei coo classificar o local ode escrevo estas palavras! a vontade de fazer umas fotos não me falta, mas o circuito de vídeo ali no teto que grava os meus movimentos faz-me por a ideia de parte.
8 camas, 2 mesas, 2 bancos de ferro corrido (para jardins ou parques), 2 banheiros com wc (nojentos), um líbio que será repatriado hoje e umas grades que me fazem lembrar a cadeia de alguns filmes americanos. apesar do cheiro de tabaco (chão cheio de pontas de cigarros e ele não para de fumar), admito que estar desde sábado a dormir nos bancos do bloco c do aeroporto de roma o “conforto” desta cama é de longe melhor.
perdi a noção do tempo, a maquina fotográfica esta louca (marca 4h pm), felizmente me acompanham o livro bono on bono que comecei a reler again e uma playlist nota 10 (u2, fela kuti, antónio variações, madonna, the gift, etc) e as paginas e branco por onde escrevo estas palavras.
acendeu outro cigarro!
os olhos, já entraram no jogo do fecha e abre, sinal que o melhor é dormir um pouco.

terça-feira 27.02.2007
9h:04, marcam os ponteiros do relógio do policia que me veio acordar. levantei e fui ao banheiro lavar os dentes e passar agua pela cabeça (havia agua quente!), mas escolhi a fria porque queria estar com a cabeça fresca.
trouxe-me um sumo de abacaxi, uma sandes com queijo e tomate, um croissant e uma garrafa de agua. deixo a sandes intacta porque não como queijo (não gosto). a seguir ao pequeno almoço, veio-me a memória uma musica de manu chão, em que letra se aproxima d situação que estava a passar. clandestino é o titulo da música. ponho play.
refrão:
(…)
mano negra, clandestino
peruano, clandestino
africano, clandestino
marijuana, ilegal
(…)

discretamente fiz umas fotos fingindo que estava a limpar a maquina, apesar do pequeno ruído que fazia cada vez que apertasse o botão. reparo em alguns desenhos feitos na parede do fundo, reconheço um que é nada mais do que a bandeira da turquia, lembrando assim da bandeira gigante que tinha na mochila (oferta de um bom amigo turco alguns dias atrás).

um outro policia abre a “cela” e diz que a minha bagagem não chegou, mas que terá um outro voo de roma as 12h:30. estou apreensivo, mas mostro uma imagem de calma aos meus dois escoltas!

muito tempo depois.
penso que já passam das 8 da noite, passei este tempo todo fora da “cela” a resolver a questão da minha viagem. agora a rota foi alterada porque o voo foi cancelado! assim, só saio amanha por volta das 12h. malta – frankfurt – joanesburgo – windhouk – luanda. espero muito partir amanha.
a pouco voltei aqui para “suite” com um novo companheiro que acompanhei a sua historia. veio da tunísia via dublin com um passaporte francês falso. em dublin conseguiu passar sem que a policia desse conta do facto. pelo que me apercebi a sua intenção é mesmo ficar cá em malta, não responde as perguntas dos oficiais e fingia não entender maltes (tunisinos, líbios, marroquinos percebem maltes por causa da semelhança com o árabe). os policias tentavam tudo, mas o homem mantinha a boca fechada.

onde esta o teu passaporte tunisino?
silencio
se não nos dizes a verdade não te podemos ajudar.
silencio


tudo isso era feito a minha frente! revestiram-lhe a mala, de onde só saia roupas, um frasco de perfume angel, uns ténis da nike, umas botas da timberland, duas bolsas de óculos escuros e muitos cremes. algum tempo depois, os oficiais desistiram e começaram a tomar as providencias para abrir o processo de refugiado, foi assim que “percebi” o plano. o passaporte verdadeiro de certeza que foi destruído ainda na tunísia, porque assim a policia maltesa não podia enviar-lhe de volta para pais algum, afinal de momento ele não tem pátria, então para onde repatria-lo? por vezes o ser humano em situações de aflição encontra soluções impensáveis para resolver os seus problemas. alguém que aceita passar por esta humilhação, pergunto-me o que não terá passado no seu pais de origem para decidir imigrar assim?
enquanto nos traziam para “suite”, pedi ao jovem oficial permissão para comprar uma toalha, gel de banho e algo para comer. aceitou e já na loja disse-me que usava o palmolive porque cheirava muito bem. aceitei o conselho e logo a seguir estava a molhar o corpo (desde sábado de manha que não o fazia), e felizmente tinha as minhas chinelas na bagagem de mão.
o jovem acabou de perguntar-me se podia pedir ao oficial para fazer uma chamada, disse-lhe que sim, mas o oficial acabou de lhe negar o pedido!
antes de banhar trocamos algumas palavras, disse-me que não quer voltar para o seu pais porque precisa arranjar trabalho, num inglês com sotaque francês.
enquanto ele fuma, come um twix e lê a revista time, eu escrevo e a musica é renegade de jay_z & emineme.
amanha é outro dia.

já deve ter passado da 1h da manha desde que dei ordem ao meu cérebro para dormir. não consigo, o paradeiro da minha bagagem não me deixa descansado, roma ou lisboa, por onde andam os meus livros?
facto novo, um moldavio veio aumentar o grupo para 3, e depois de uma curta conversa diz-me que são 20h:53. tão cedo ainda!
o tunisino não para de rezar no canto, desconheço como ele sabe que se dirige para direcção correcta! afinal estamos sem contacto nenhum para o exterior, como encontrou ele a direcção para meca?
agora, acho melhor ler ate que o sono apareça.

a leitura corria bem, mas tive de interromper para registar este facto: o grande silêncio que se fazia sentir foi rompido pelo som do choro do moldavio. um choro camuflado, porque ele tenta por tudo omitir o facto!
hoje, não volto a escrever.

não acabou...

quinta-feira, março 08, 2007

motivo de uma "longa" ausência

algumas semanas atrás alcancei o objectivo que me trouxe para a europa. assim, decidi regressar a terra. tenho tudo tratado com excepção do visto de entrada em portugal, já que o de estudo caducou faz algum tempo, mas como os voos europeus os passageiros agora não passam pelo controlo de passaportes, decidi arriscar. na agência a sr.ª me diz que só no verão há voos directos para portugal, a opção seria via roma. aceito a opção e pago o bilhete.
sai de malta sábado (24) as 10h:45 para roma. já na capital italiana, sigo a seta que diz transfer, ate que me deparo com um controle de passaportes! avanço e o homem diz-me que não posso seguir para portugal, porque os vistos estão caducados tanto o de estudo como o schengen. pede-me para acompanha-lo ate ao posto da polícia. depois de algum tempo aparece outro agente que me pede para acompanha-lo ate um outro ponto e me diz para aguardar. muito tempo depois (já passavam das 22h), sai uma mulher e diz que só amanha teria mais informações. estou no bloco c do aeroporto e procuro um banco para dormir. foi neste momento, que decidi começar a escrever.
não sei o que me vai acontecer, mas a calma exterior que transmito contrasta com o pânico exterior. como e deito-me no banco.

já é domingo, tomo o pequeno-almoço e regresso para o ponto de espera onde encontro outras pessoas (parecem-me da américa latina, falam em espanhol). passei toda manha andar pelo bloco c, entre lojas de revistas e um café onde podia ver as noticias.
por volta das 15h estava em frente a loja de bebidas e tabaco, quando a menina me oferece dois chocolates. agradeço, como um e o outro vai para o bolso do casaco. com sorriso e brilho nos lábios pergunta-me o que se passa e que idade tenho. respondo meio constrangido ao que se segue dois beijos e um desejo de boa sorte por parte dela, respondi com um ate já, porque não sei quanto tempo tenho aqui. dela, apenas sei que trabalha na loja de perfumes e que tem um sorriso fenomenal! não sei porque, mas apetece-me dar-lhe um nome; Sílvia, esta escolhido.

domingo 26, por volta das 14h:15 oiço a chamarem o meu nome, para me dirigir ao posto da polícia. o detective a civil com cara de desconfiado como aqueles dos filmes. follow me, disse-me e em andamento dizia-me que me vão mandar de volta para malta. em poucos minutos estava sentado no avião da air malta que me levara de volta a ilha.
não fui mal tratado, mas sinto-me como um prisioneiro. o passaporte foi entregue a comandante da aeronave, mas disse-me a hospedeira simpática que me será devolvido em solo maltes. o pressentimento de que mais problemas se aproximam não me larga, no entanto nada tenho a fazer, daqui a 1 hora e meia já saberei o que me espera e quais as possibilidades de resolver o problema. no avião, eu e um grupo de jovens italianos muito alegres.
ate já.

continua...