sexta-feira, março 09, 2007

motivo de uma "longa" ausência II

malta again!
numa pequena sala na companhia de um jovem que posso jurar também ser africano, volto a contar a minha história a policia fronteiriça e perguntei onde poderia comprar um bilhete com destino final angola. em seguida, um dos policias ligou para mulher (6 meses depois, há expressões em maltes que já percebo) que trabalha numa agencia de viagens e pediu-lhe para ver rotas possíveis. 5 minutos depois, ainda com o escutador na mão disse-me:
amanha de tarde há 2 voos, um malta – frankfurt – joanesburgo – luanda e outro malta ––amsterdão – são paulo – luanda.
escolhi a primeira opção porque áfrica do sul é mais próximo de casa e já conheço o pais, segundo porque algum tempo que tinha curiosidade de conhecer o aeroporto de frankfurt. resolvida a questão, fui fazer 2 chamadas, checar o mail e trocar algumas frases no messenger com o mana mais nova. o policia muito brincalhão que me acompanhava pasmado com a rapidez com que teclava, perguntou-me se era jornalista! voltamos para pequena sala onde tirei a minha bagagem de mão, e fomos ao tapete saber das minhas malas. nada veio! chateado lembrei-me do detective italiano que me garantiu que estava tudo em ordem.
fez um repot e disse-me que as 21h chegaria um voo de roma, que sorriso lindo tinha ela, mas nada igual ao da sílvia (pena que não nos despedimos, hoje nos vimos pela manha, trocamos um olhar e a seguir um good morning, perguntei-lhe onde podia encontrar paginas amarelas, indicou-me o café, agradeci e pisquei o olho).
o policia (que a mulher trabalha na agencia de viagem) disse-me que tinha de me levar onde ficam as pessoas sem autorização de entrada em malta. lembrei então de uma reportagem que uma vez vi na rtp sobre a falta de condições nos aposentos (aeroporto sá carneiro-porto) de pessoas que eram impedidas de entrar para tuga por algum motivo. se aquelas imagens na reportagem mostravam falta de condições, então não sei coo classificar o local ode escrevo estas palavras! a vontade de fazer umas fotos não me falta, mas o circuito de vídeo ali no teto que grava os meus movimentos faz-me por a ideia de parte.
8 camas, 2 mesas, 2 bancos de ferro corrido (para jardins ou parques), 2 banheiros com wc (nojentos), um líbio que será repatriado hoje e umas grades que me fazem lembrar a cadeia de alguns filmes americanos. apesar do cheiro de tabaco (chão cheio de pontas de cigarros e ele não para de fumar), admito que estar desde sábado a dormir nos bancos do bloco c do aeroporto de roma o “conforto” desta cama é de longe melhor.
perdi a noção do tempo, a maquina fotográfica esta louca (marca 4h pm), felizmente me acompanham o livro bono on bono que comecei a reler again e uma playlist nota 10 (u2, fela kuti, antónio variações, madonna, the gift, etc) e as paginas e branco por onde escrevo estas palavras.
acendeu outro cigarro!
os olhos, já entraram no jogo do fecha e abre, sinal que o melhor é dormir um pouco.

terça-feira 27.02.2007
9h:04, marcam os ponteiros do relógio do policia que me veio acordar. levantei e fui ao banheiro lavar os dentes e passar agua pela cabeça (havia agua quente!), mas escolhi a fria porque queria estar com a cabeça fresca.
trouxe-me um sumo de abacaxi, uma sandes com queijo e tomate, um croissant e uma garrafa de agua. deixo a sandes intacta porque não como queijo (não gosto). a seguir ao pequeno almoço, veio-me a memória uma musica de manu chão, em que letra se aproxima d situação que estava a passar. clandestino é o titulo da música. ponho play.
refrão:
(…)
mano negra, clandestino
peruano, clandestino
africano, clandestino
marijuana, ilegal
(…)

discretamente fiz umas fotos fingindo que estava a limpar a maquina, apesar do pequeno ruído que fazia cada vez que apertasse o botão. reparo em alguns desenhos feitos na parede do fundo, reconheço um que é nada mais do que a bandeira da turquia, lembrando assim da bandeira gigante que tinha na mochila (oferta de um bom amigo turco alguns dias atrás).

um outro policia abre a “cela” e diz que a minha bagagem não chegou, mas que terá um outro voo de roma as 12h:30. estou apreensivo, mas mostro uma imagem de calma aos meus dois escoltas!

muito tempo depois.
penso que já passam das 8 da noite, passei este tempo todo fora da “cela” a resolver a questão da minha viagem. agora a rota foi alterada porque o voo foi cancelado! assim, só saio amanha por volta das 12h. malta – frankfurt – joanesburgo – windhouk – luanda. espero muito partir amanha.
a pouco voltei aqui para “suite” com um novo companheiro que acompanhei a sua historia. veio da tunísia via dublin com um passaporte francês falso. em dublin conseguiu passar sem que a policia desse conta do facto. pelo que me apercebi a sua intenção é mesmo ficar cá em malta, não responde as perguntas dos oficiais e fingia não entender maltes (tunisinos, líbios, marroquinos percebem maltes por causa da semelhança com o árabe). os policias tentavam tudo, mas o homem mantinha a boca fechada.

onde esta o teu passaporte tunisino?
silencio
se não nos dizes a verdade não te podemos ajudar.
silencio


tudo isso era feito a minha frente! revestiram-lhe a mala, de onde só saia roupas, um frasco de perfume angel, uns ténis da nike, umas botas da timberland, duas bolsas de óculos escuros e muitos cremes. algum tempo depois, os oficiais desistiram e começaram a tomar as providencias para abrir o processo de refugiado, foi assim que “percebi” o plano. o passaporte verdadeiro de certeza que foi destruído ainda na tunísia, porque assim a policia maltesa não podia enviar-lhe de volta para pais algum, afinal de momento ele não tem pátria, então para onde repatria-lo? por vezes o ser humano em situações de aflição encontra soluções impensáveis para resolver os seus problemas. alguém que aceita passar por esta humilhação, pergunto-me o que não terá passado no seu pais de origem para decidir imigrar assim?
enquanto nos traziam para “suite”, pedi ao jovem oficial permissão para comprar uma toalha, gel de banho e algo para comer. aceitou e já na loja disse-me que usava o palmolive porque cheirava muito bem. aceitei o conselho e logo a seguir estava a molhar o corpo (desde sábado de manha que não o fazia), e felizmente tinha as minhas chinelas na bagagem de mão.
o jovem acabou de perguntar-me se podia pedir ao oficial para fazer uma chamada, disse-lhe que sim, mas o oficial acabou de lhe negar o pedido!
antes de banhar trocamos algumas palavras, disse-me que não quer voltar para o seu pais porque precisa arranjar trabalho, num inglês com sotaque francês.
enquanto ele fuma, come um twix e lê a revista time, eu escrevo e a musica é renegade de jay_z & emineme.
amanha é outro dia.

já deve ter passado da 1h da manha desde que dei ordem ao meu cérebro para dormir. não consigo, o paradeiro da minha bagagem não me deixa descansado, roma ou lisboa, por onde andam os meus livros?
facto novo, um moldavio veio aumentar o grupo para 3, e depois de uma curta conversa diz-me que são 20h:53. tão cedo ainda!
o tunisino não para de rezar no canto, desconheço como ele sabe que se dirige para direcção correcta! afinal estamos sem contacto nenhum para o exterior, como encontrou ele a direcção para meca?
agora, acho melhor ler ate que o sono apareça.

a leitura corria bem, mas tive de interromper para registar este facto: o grande silêncio que se fazia sentir foi rompido pelo som do choro do moldavio. um choro camuflado, porque ele tenta por tudo omitir o facto!
hoje, não volto a escrever.

não acabou...

3 comentários:

Anónimo disse...

Gostei da aventura, principalmente da riqueza de detalhes com que está sendo contada. Sinto-me vivendo isso também... Beijos e boa sorte, vou continuar acompanhando. B.

João Carlos Carranca disse...

Está aqui o princípio de um bom livro. Força, pá!

Anónimo disse...

Tst, tst, bom livro.
O rapaz deve estar a passar as papas de ya kalunga e ainda vens aki falar de bom livro.
Força sim, meu irmão, mas para aguentar essas makas por aí.