terça-feira, julho 29, 2008

Luanda

a cidade só cheira política.

hoje, é um bom dia para assumir 06

tenho saudades de chorar.
sinto-me agonizado quando o silêncio não responde minhas perguntas.

quinta-feira, julho 24, 2008

para ti que nunca me lês

continuo à alimentar-te a presença.
Lisboa


Luanda

segunda-feira, julho 21, 2008

foi do cheiro de minha mãe que mais falta senti

Suponho que para a maioria das pessoas o sentimento de regresso a casa, após uma ausência prolongada, seja algo que experimentam assim que as portas do avião se abrem. Para outras leva mais tempo, têm de se sentar na sua poltrona preferida e saborear um bom charuto. Fazer amor com a esposa. Dormir um tranquilo sono. Passear no parque com o cão. Tomar a bica no café da esquina. Etc. Para mim, é o funge de sábado. A comprida mesa de madeira, no pátio – com o meu irmão, as minhas duas irmãs, e respectivos namorados, tios e tias, primos e primas, e Cuca, a minha mãe, a presidir à assembleia, de vestido branco, colares de prata, brincos de madrepérola, como uma rainha no seu palácio de Verão. Contam-se anedotas, desfiam-se velhas estórias. Por vezes alguém traz um violão e recordam-se canções do tempo das lutas, ou até um pouco mais antigas, as canções do avô Faustino, aquelas que ele escreveu para avô, e que ela canta, mãos postas, olhos fechados, com uma voz de dióspiro bem maduro. Se chegar a Luanda numa segunda-feira permaneço cinco dias em estado de ansiosa incompletude: vagueio pela cidade com a consciência de que ela se vai manifestando bruscamente ao meu redor, as duras esquinas concretas a crescerem para mim, o feroz metal azul-bebé dos candongueiros, as praças onde os mutilados combatem à bengalada, ou à cabeçada, dependendo de terem ou não terem braços. Cabeça normalmente têm. Falta-me algo, todavia, e essa ausência deixa-me nervoso, o coração apertado de angustia, como um pára-quedista que depois de saltar, numa vertigem, vendo aproximar-se o chão, descobre que lhe falta o pára-quedas. Só sinto que verdadeiramente regressei depois que me sento, ao sábado, à grande mesa, no pátio da casa da minha mãe.
Sábado passado foi assim, sentei-me, bebi, comi e conversei, e voltei a beber, a comer e a conversar. Ri-me até as lágrimas, entre um copo e outro, do que me contava um primo, piloto militar, sobre a companhia aérea nacional, que tendo adquirido seis ou sete aviões se esqueceu entretanto de formar novas tripulações. Finalmente encostei-me para trás e achei-me em condições de proclamar, satisfeito:
Povo, cheguei!
José Eduardo Agualusa em As Mulheres do Meu Pai

companheiros de viagem com banda sonora

GQ (José Gonzalez – killing for love)

Vogue (Coldplay – violet hill)

Blitz (James – ring the bells | live)
Bom, a minha escrita varia muito. Às vezes uma canção é sobre uma emoção em particular, então sento-me e analiso os meus pensamentos. Às vezes tenho de escrever muitos pensamentos num diário e editá-los até ter as palavras certas. Às vezes as palavras surgem-me todas de uma vez. Em 1997, saí para dar um passeio e «All Is Full Of Love» [de Homogenic] apareceu aí. É o meu método favorito, mas raramente acontece.
Björk

Sempre considerei que as pessoas que viajam muito são as pessoas que sabem mais.
Tó Trips dos Dead Combo

O Meu Nome é Legião (por terminar) [Munich Soundtrack]
António Lobo Antunes

Quando Nietzsche Chorou (no final) [Acoustic Hits – i’m fly with you]
Irvin D. Yalom
...
Exactamente; de um momento para o outro. Contudo, não lhe posso revelar a verdade. Mantenho o meu esperançoso sorriso, embora gostasse de me despedir honestamente dele. Jamais me habituei à morte dos meus pacientes.
Esperemos que nenhum de nós se habitue – suspirou Freud. – A esperança é essencial e quem, além de nós, a consegue manter? Para mim, é a parte mais difícil da actividade médica. Às vezes, tenho sérias dúvidas se estou à altura dessa tarefa. A morte é tão poderosa.
...

AvóDezanove e o Segredo do Soviético (por terminar) [Paulo Flores – saudades da terra]
Ondjaki
A explosão até acordou os pássaros adormecidos nas árvores e os peixes devagarosos do mar – aconteceram cores de um carnaval nunca visto, amarelo misturado com vermelho a fingir que é laranja num verde azulado, brilhos a imitar a força das estrelas deitadas no céu e barulho tipo guerra dos aviões Mig. Era afinal uma explosão bonita de ser demorada nos ruídos das cores lindas que os nossos olhos olharam para nunca mais esquecer.
Nós, as crianças, ficámos a olhar o céu se encher de umas maravilhas acesas como se todos os arco-íris do mundo tivessem vindo a correr fazer um brinde no tecto da nossa cidade escura de Luanda.
Uma explosão podia ser tão bonita, e as nossas bocas abertas testemunhavam um silêncio de pessoas perto de um barulho desenhado nas alturas dos pássaros todos que nessa noite aprenderam que o mundo era um lugar muito estranho, com pessoas de tantas nacionalidades e que em Luanda tudo podia mesmo acontecer de repentemente.
Foi na PraiaDoBispo, no largo onde havia a bomba de gasolina, perto da entrada da famosa obra do Mausoléu.
De tanto olharem as cores com barulhos voadores no céu iluminado, poucos notaram que a enorme obra, que os mais-velhos diziam ser vertical, alta e com figura de um foguetão, essa obra de tantas tarefas com poeira e mil trabalhadores cansados, tinha começado a não existir mais, sobrando apenas uma poeira cinzenta que demorou muito tempo a baixar.
Tudo aconteceu muito perto da casa da minha AvóAgnette, mais conhecida na PraiaDoBispo por AvóDezanove.
Foi num tempo que os mais-velhos chamam de antigamente.

Madonna – miles away
Madonna & kanye West – beat goes on
Sinead O´connor & U2 – you made me the thief of you heart
Patti Smith – free Money
The Verve & Jay_Z – bitter sweet symphony
Enya – celtic rain
The Verve – lucky man
Ismael Lo – jalia
Ryuichi Sakamoto – you do me
James – say something
James – she´s a star
James – laid
James – seven
James – waltzing along
Leonard Cohen – in my secret life
Brandi Carlile – closer to you
Kanye West & Chris Martin – coming home again
Estelle & Kanye West – american boy
Kings of Convenience – cayman islands
Kings of Convenience – live long
Rufus Wainwright – hallelujah
Santogold – les artistes
Djavan & Chico Buarque – tanta saudade
Robbie Rivera – float away
Modest Mouse – dashboard
Prince – purple rain
Moby – one of these mornings
Moby & Enya – sail away
Sia – breathe me
Daft Punk – technological
Rokia troare – dounia
Sean Riley & The Slowriders – harry rivers
Danni Carlos – coisas que eu sei
Trentemoller – moan
Ingrid Michaelson – corner of your heart

domingo, julho 20, 2008

aquela não é a "minha" Soraia

hoje estive na Fnac do Colombo para assistir o lançamento em DVD do filme Call Girl.
na verdade, estava muito mais atento nos gestos da Soraia Chaves do que nas respostas que o António-Pedro Vasconcelos dava as perguntas que lhe eram feitas. no final, percebi que aquela Soraia nada tem haver com esta, por isso, vou deletar a imagem de hoje e continuar com as imagens que me foram apresentadas aqui.

ahh, o seu cheiro parece-se muito com os da semente de uma nêspera.

hoje, é um bom dia para assumir 05

mais cedo ou mais tarde terei de admitir que a paragem pela estação de S:t Eriksplan alterou por completo a minha maneira de suspirar...

vou andar por ai...IV











sexta-feira, julho 18, 2008

vou andar por ai...III

voltei a partir, mas desta vez o adeus já não foi com a mesma facilidade.
de lá para cá tenho tido variadíssimas visões com o teu ultimo sorriso, e mesmo agora que me encontro ensonado oiço as palavras que me gritas ai do longe.

até manha, meus olhos pedem cama.

terça-feira, julho 15, 2008

agora é oficial

partiu mais uma daquelas pessoas que sempre considerei um monumento.

Teta Lando o autor de ketas como Luanda Já Foste Linda, privou comigo faz algum tempo por razões profissionais, no momento daquela conversa distrai-me apenas porque queria saborear o facto de estar perante aquela voz que presenciou algumas das minhas lágrimas secas nos tempos que andava distante da minha Angola. meio envergonhado, ganhei coragem e disse-lhe:
meu pai era seu fã.

domingo, julho 13, 2008

vou andar por ai...II

na maior parte das cidades o outro lado também é assim... olhares diferentes e o cheiro desagradável, identifica-se com uma cultura vinda de outras paragens, que para "maior" parte dos nacionais não é bem vinda.
com excepção do som de chegada do metro/comboio, tudo ali é diferente em comparação com o lado de cá, as pessoas têm um sorriso diferente, o olhar é de desconfiança, as crianças brincam numa outra língua, as roupas com design próprio, o cheiro das especiarias mistura-se com o do creme de cabelo da loja ao lado, os idosos têm a saudade estampada na cara, as mulheres andam com os olhos para baixo, e até o sol, ali parece ter diferentes raios!!!

hoje, as cidades resumem o mundo tal como ele é.
a escuridão de um lado e a claridade do outro, convivendo apenas porque a necessidade de uma depende da existência da outra.

sexta-feira, julho 11, 2008

para ti que nunca me lês

(...)
210
00:25:16,547 --> 00:25:17,594
Quem és?

211
00:25:23,684 --> 00:25:25,538
Chamo-me Hervé Joncour.

212
00:25:25,571 --> 00:25:26,683
Isso eu sei.

213
00:25:29,443 --> 00:25:31,004
Sou um homem de comércio.

214
00:25:31,043 --> 00:25:32,831
Isso não é quem você é.

215
00:25:32,867 --> 00:25:34,144
Isso é o que você faz.

216
00:25:36,643 --> 00:25:39,163
Sou o homem que você vê à sua frente.

217
00:25:39,203 --> 00:25:40,218
É tudo.

218
00:26:04,355 --> 00:26:07,455
Nasci numa aldeia
de que nunca ouviu falar,

219
00:26:07,492 --> 00:26:09,401
num país que nunca viu.

220
00:26:12,771 --> 00:26:13,851
Cresci como qualquer rapaz.

221
00:26:13,892 --> 00:26:16,958
Tive roupa, comida e educação.

222
00:26:19,139 --> 00:26:20,285
Alistei-me no exército.

223
00:26:22,627 --> 00:26:24,351
Renunciei para me casar
com a mulher que amo.

224
00:26:26,596 --> 00:26:28,287
E nada disto é o que eu sou.
(...)

quinta-feira, julho 10, 2008

o anonimato...

traz-me alguma liberdade.
os cemitérios nunca deveriam ser considerados locais tristes...
estamos mais seguros entre os mortos do que entre os vivos... 

terça-feira, julho 08, 2008

hoje, é um bom dia para assumir 04

ontem, na conversa com o destino informei-lhe da minha insatisfação sobre os planos que ele tem sobre o meu futuro.
as coisas alteraram-se drasticamente, por isso não vejo motivo para que ele mantenha o guião dos meus dias tal como foi escrito.

vou andar por ai... I

perdido no free shop do aeroporto de Amesterdão reparei que a bandeira ali pendurada era de Angola! aproximei-me da menina com sardas na cara e olhos castanhos, perguntei o preço como forma de puxar conversa... disse-me que algumas pessoas ainda reconhecem as cores do pais que no ultimo mundial apareceu com uma bandeira com as mesmas cores que da Alemanha.

assim que lhe disse que era de angolano, o jovem que nos escutava interrompeu o dialogo. desculpe, fala português?

Marcelo, um brasileiro de Curitiba, disse-me que o seu irmão é engenheiro civil e trabalha na Odebrecht Angola, continuamos a conversa sentados no Starbuck coffee, perguntou-me sobre as oportunidades de negócio em Angola e se era mesmo verdade as histórias dos condomínios com casas de um milhão e tal de dólares, mas que a procura é maior do que a oferta.

trocamos contactos e partimos, ele pela gate B61 e eu pela C14.

segunda-feira, julho 07, 2008

vou andar por ai...

entre outras coisas que muito gosto me da em fazer desacompanhado, andar por ai deve estar no topo. paro quando quero, ando até onde quero, fotografo o que quero, observo o que quero, sem ter o desconforto de ter alguém ao lado querendo conversar quando me apetece apenas estar em silêncio e olhar as pessoas que entram e saiem do café que me encontro.

partir para locais em que me sinto mais um anónimo entre os milhares, é uma sensação que me agrada... os olhares cruzam-se nas carruagens do metro mas ninguém ousa abordar o outro. a pouco, na linha amarela do metro de Lisboa a criança do banco ao lado lambuzava-se toda com caramelo, a mãe incrédula ralhava com ela ao mesmo tempo que me lançava um discreto olhar de desconfiança ao ver a minha cara de felicidade... sim, estava feliz, são momentos que sinto saudades de presenciar.



a meia de leite, o croissants prensado com fiambre e o sumo de laranja natural abrem em mim um sorriso de satisfação que andava sumido por ai. na minha frente continuam a entrar e a sair anónimos, na televisão sem som passa imagens do incêndio que ocorreu ontem na Avenida da Liberdade, por cima da mesa tenho a ultima GQ edição inglesa, que trás na capa a belíssima Charlize Theron mas é entre a pagina 195 e 201 que esta o artigo que me chamou atenção.

Welcome to the world´s richest poor country.

In six years Angola has been transformed from war-torn black spot to one of the fastest-growing economies on earth. Money pours in as fast as its fuel pours out, but the riches are soaked up by a gilded few in its capital, Luanda. For the masses, poverty, not prosperity, is the reality.

It is a rainbow nation – mazambicans, brits, french, chinese – united in one cause:
To get rich.
(...)

vou partir sem saborear a vontade o cheiro a pão de leite que tem Lisboa (sim, para mim cheira a isso mesmo!), mas quero voltar.

há coisas impossíveis de serem ilustradas*

*estou feliz, ontem voltei a tocar o meu companheiro.