se essa ilha pudesse ter outro nome de certeza que se chamaria Rhum! é verdade, talvez seja um exagero meu, mas aqui, essa bebida destilada é a base para tudo e motivo para muitas outras coisas. foi um espanto para mim quando estive em casa da senhora Z, uma idosa que surpreendeu-me pela sua simpatia e jovialidade ao ponto de dominar o facebook e utilizar o skype com tanta facilidade. foi em casa dela que me foi oferecido o primeiro copo de rhum com uma colher de açúcar castanho em forma de aperitivo, independentemente do sol abrasador que vinha lá de fora!
há também doces que entram rhum, existem variadíssimos tipos de cremes que tiram dores no corpo que na sua composição o rhum está presente, nas estradas não é difícil nos depararmos com hectares de plantações com cana-de-açúcar, nos super marcados existe sempre uma grande prateleira com as variadíssimas marcas, La Mauny, Neisson, Saint James, etc, uns velhos, outros novos, alguns com sabores de determinada fruta tropical e agora também há cocktails.
mas essa é uma industria que não está apenas nas mãos das varias destilarias que existem por aqui, e talvez por ser algo que faz parte da vida deles é que as destilarias estão abertas como se fossem museus.
L´abitation Clément onde se produz o rhum Clément é uma delas, não é a mais antiga mas talvez a mais popular também porque o seu investimento em marketing é muito bom... a palavra Clément é uma constante por cá. fui visitar a destiladora mais famosa da Martinica, que em 1991 foi o palco da cimeira franco americana entre François Mitterrand e George Bush, e por isso a sala Clément onde decorreu o lanche de trabalho continua completamente intacta como forma de recordação, há vídeos e fotos sobre a cimeira, onde os visitantes repousam num momento de historia, numa visita que dura aproximadamente 2 horas e meia.
L´abitation esta dividida em vários espaços, o mundo crioulo, onde o destaque vai para arquitectura e a arte da vida crioula, os moveis, a decoração, os costumes e muitos outros detalhes que mantêm presente a memoria dos antepassados da família. existe o mundo vegetal com a plantação de cana-de-açúcar sempre presente, outras espécies de plantas e muitas zonas verdes que alias é uma constante nessa terra. no mundo industrial é possível estar em contacto com a destilaria mais antiga onde se pode ver como era feito o rhum... é possível tocar em maquinas que se pudessem nos contariam historias do antigamente, e no meio daquela maquinaria toda há também uma exposição fotográfica com antigos funcionários em forma de agradecimento pelo contributo que os mesmos deram para o sucesso do rhum. pessoalmente desconfiei, não acho que aquelas imagens contem apenas coisas positivas... observando as imagens com mais profundeza é possível observar o sofrimento na cara daquelas pessoas, aquelas mãos mostram marcas de trabalho duro e os olhos transmitem o desacordo mas não acredito que era apenas por causa do trabalho, nesta ilha, há muitas coisas inexplicáveis! por fim, entramos para o mundo do rhum onde é possível ver como o mesmo é reservado em armazéns que me fizeram lembrar as caves de vinho na cidade do Porto, ou os barris de madeira exactamente como aqueles que os piratas do antigamente usavam.
como todas grandes marcas actualmente, os Clément também têm a sua fundação que mantém aberta ao público no mesmo espaço que cheira a cana-de-açúcar, uma biblioteca, as casas de Léo e Lucie Clément que são galerias e onde esta presente uma exposição interessante do Dominicano Luz Severino.
L´abitation Clément é um mundo, e tudo o que lá vi custa muito dinheiro, mas ainda assim, acredito que o principal é a formação, a criatividade e a boa vontade para se fazerem coisas assim, porque não adiante ter todo dinheiro do mundo se não tiveres o resto ou então, serás para sempre o visitante e nunca o visitado, que infelizmente é o que está acontecer com o lugar de onde eu venho.