Meus queridos, quando pensei em vos escrever estas palavras, confrontei-me sempre com a dúvida da utilidade do que neste momento faço; procurando, quem sabe, daqui a muitos anos, fazer chegar a vós um pouco da nossa essência, da nossa raiz, da nossa abertura para o mundo e também falar-vos da capacidade que, julgo eu, tínhamos de transformar as influências em sonoridades próprias com as malhas dos guitarristas e as sub-frequências dos baixos e percussões, criando uma moderna estética sonora e experimental de swing frenético, por vezes parecendo querer apanhar a velocidade do tempo, mesmo em beat mais lento era pleno de intensidade.
No fundo, queria falar-vos das pessoas que fizeram essa música de Oiro, essa geração dos quintais generosos em noites de recolher obrigatório.
“Era uma vez... num tempo nem tão distante assim”.
E de como podemos continuar a existir e até a influenciar a estética do mundo, tantas vezes sem reparar que ainda conseguimos ser matriz, assim pura.
Hoje que vos escrevo, queremos “ignorar a força dos desgostos”.
Hoje, do tempo onde vos escrevo, precisamos de paz nas nossas consciências.
Precisamos da ingenuidade de criança para recuperar mais rápido e nunca perder a capacidade de amar. Precisamos esquecer a incompreensão dos homens.
Esta é a nossa oportunidade de viver a vida que nos deram, que “nos nasceram”.
Estar “aqui a fazer o som assim” como o país me pede, “parece que eu tinha a certeza ainda”...
Lembrei-me desses kotas como o meu que nos deram esse nascer e ver a vida como só assim... “Éramos da canjonja”, “Filhos da esquindiba”.
Éramos e somos ninguém e ao contrário do que dizem sabemos ser ninguém como poucos... acho que já não queríamos ser nomes nem estados nem aqueles por quem se espera. Acho que nós só queríamos “orgulho na carapinha”
Amor entre todos de todas as tonalidades e proveniências que fizeram desse lugar o nosso lugar.
A maka mesmo é que não faço ideia de que forma vocês falarão, se essa gravação e estas palavras chegaram a vocês. Poderia falar em português correto, mas nem mesmo sei como se fala ou escreve corretamente nos meus dias.
Então ficam essas “iluminuras” em forma de canções, que talvez vos ajudem, ou quem sabe vos confundam mais ainda.
Mas o mambo é esse, é essa procura de todas as tonalidades do nosso ser mais íntimo, mais resplandecente.
“Nós todos... era pra ser nós todos”.
fotos© Sergio Afonso
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