sexta-feira, novembro 29, 2013

é já amanhã

o ano passado quando me preparava para visitar São Tomé e Príncipe, uma das informações que mais encontrava nos sites francófonos era sobre a 6ª bienal que tinha acontecido um ano antes, imagens, cartazes e até o programa encontrei por aí. por isso, quando cheguei a ilha não me surpreendeu os vestígios que ainda haviam do evento... alias lembro que um dos edifícios que mais me impressionou tinha na fachada principal um enorme painel sobre o evento. 

para esta 7ª edição da Bienal de São Tomé e Príncipe que amanhã começa, Angola foi escolhido como país convidado, por isso decidi regressar para cá faz muito tempo. neste tempo todo que fui organizando a viagem, surpreendeu-me a falta de informação sobre o evento, com excepção da pagina do facebook, é quase impossível encontrar informações sobre o evento... alias, à menos de 24 horas do inicio do evento não tive contacto com o programa ou coisa de género. na verdade, a cidade não respira bienal, as pessoas não sentem a bienal e atmosfera parece-me um pouco estranha para um lugar pequeno onde vai acontecer um evento tão grande como esse! na conversa com algumas pessoas, disseram-me que alguma coisa se passa porque é a primeira vez que não sentem nada, até ao ponto que hoje uma funcionária do maior hotel da cidade não sabia nada sobre a bienal! fora alguns cartazes que encontrei por aí, pouco ou nada se vê na cidade... é preciso ir ao CACAU para sentirmos que alguma coisa em grande vai acontecer. 

mas o que mais me entristeceu é que em Angola as coisas também estão pelo mesmo caminho! desde que conheci esse país que repito vezes sem conta que é muito mal vendido em Angola, mas como país convidado, penso que nós próprios os angolanos poderíamos fazer um esforço de comunicar que estaremos presente. hoje é sexta feira, dia que saem os jornais lá em Luanda, não sei se escreveu-se alguma coisa, mas espero sinceramente que até Fevereiro essa obscuridade acabe, afinal, não acho mal saber-se que o musico tal, o artista fulano ou o fotógrafo fulano vão estar por cá. 

entretanto, os preparativos continuam. 
 

um convite aos de cá

quase um ano depois, regressei ontem ao país do cacau. 

o lado B da cidade

Nova Iorque, Joanesburgo, Berlim, Budapeste ou Cotonou, todas elas são cidades que têm o um lado B, a outra parte da cidade ou como algumas pessoas dizem, o lado de lá da cidade. na sua maioria, este lado é o mais antigo e por vezes mais pobre, o que não significa dizer que seja um lado sem charme. 

actualmente algumas cidades transformaram o seu lado B num lugar trendy ou retro, explorando o detalhe histórico que esses lugares oferecem aos moradores e turistas. há cidades em que se diz que as pessoas que vivem neste lado são mais sexy! 

a travessa dos mercadores fica em na baixa de Luanda num lugar historicamente privilegiado como é a zona dos coqueiros, mas ao mesmo tempo é também um lado B da cidade, com a diferença que por cá não temos sabido explorar as vantagens que esse lado da cidade poderia ter dado, talvez porque as imobiliárias não se importam com o sexy, trendy ou retro, aqui, as imobiliárias importam-se única e simplesmente com o lucro rápido, o que significa demolir a história para construir o “desenvolvimento”! 

é neste lado da cidade que descobri a Upgrade Art Room, uma galeria de arte que se encontra no número 18 e com a mesma entrada com a obrigatoriedade de passarmos pela loja de british clothing formal e à medida para pudermos chegar a cave onde se encontra a galeria. é um lugar perfumado com a historia da cidade, rodeado por demolições, alguma pobreza mas também requalificações e principalmente um lugar de circulação de pessoas. 

são também por esse tipo de descobertas e não só, que Luanda me fascina.
 

quinta-feira, novembro 28, 2013

terça-feira, novembro 26, 2013

quarta-feira, novembro 20, 2013

e se todos os dias acordássemos com palavras assim!

o jazz é música imaginaria.
a escuta do jazz é uma escuta alucinada, alucinada de imagens.
o que é o jazz?
um misto de esperança de angústia e de incertezas no olhar de Jimmy Smith.
a mescla de espanto, alegria e menosprezo orgulho, incerteza e meditação no olhar de
Ben Webster, quando ele contempla o seu sax tenor.
o jazz é o Presidente John Kennedy a dizer: “... Dexter Gordon é o meu saxofonista
preferido...”.
Bud Powell, desesperado.
a cumplicidade que unia Max Roach e Clifford Brown a veneração de Stan Getz por
Billie Holliday a adoração de Clifford Brown por Ellen Merrill as metamorfoses de
Don Cherry os orgasmos de Art Blakey.
a inexplicável melancolia de Paul Desmond e Bill Evans abandonado.
o triunfo de Duke Ellington as gargalhadas de Armstrong.
a autobiografia “Abaixo de abaixo de cão” de Charles Mingus, Billy Strayhorn no
leito de morte a injectar-se de sangue e a compor “Blood Count”.
Ray Charles a chegar à escola primária sem sapatos, muito caros para o salário da
mãe.
Monk sem emprego a passear o seu corpo linfático pelas ruas de Harlem, em Nova Iorque. give me job!!!
Albert Ayler esfaqueado a boiar no rio Hudson.
e também: Charlie Parker a morrer-de-tudo em casa da baronesa Nica Rothschild,
amiga dos músicos de jazz.
 e rica, herdeira.
e sobretudo: o exílio de Donald Byrd nas ruas de Paris.
a ternura no fundo do olhar de Biud Powell, turbeculoso.
e ainda: o filme “Round Midnight” de Tavernier e “Moore Better Blues” de
Spike Lee, quando o cinema sabe olhar o jazz.
Dexter Gordon a morrer, rodeado de amigos a pedir à mulher de Tommy Flanagan, a
bela Diana, para lhe trautear certos temas... “Body and Soul”, “You go my head”.
e enfim: Chet Baker a gravar com grande orquestra “All Blues” do Miles duas
semanas antes de cair de um quarto andar e morrer farto de tudo, menos do jazz.
Jerónimo Belo