a escuta do jazz é uma escuta alucinada, alucinada de imagens.
o que é o jazz?
um misto de esperança de angústia e de incertezas no olhar de Jimmy Smith.
a mescla de espanto, alegria e menosprezo orgulho, incerteza e meditação no olhar de
Ben Webster, quando ele contempla o seu sax tenor.
o jazz é o Presidente John Kennedy a dizer: “... Dexter Gordon é o meu saxofonista
preferido...”.
Bud Powell, desesperado.
a cumplicidade que unia Max Roach e Clifford Brown a veneração de Stan Getz por
Billie Holliday a adoração de Clifford Brown por Ellen Merrill as metamorfoses de
Don Cherry os orgasmos de Art Blakey.
a inexplicável melancolia de Paul Desmond e Bill Evans abandonado.
o triunfo de Duke Ellington as gargalhadas de Armstrong.
a autobiografia “Abaixo de abaixo de cão” de Charles Mingus, Billy Strayhorn no
leito de morte a injectar-se de sangue e a compor “Blood Count”.
Ray Charles a chegar à escola primária sem sapatos, muito caros para o salário da
mãe.
Monk sem emprego a passear o seu corpo linfático pelas ruas de Harlem, em Nova Iorque. give me job!!!
Albert Ayler esfaqueado a boiar no rio Hudson.
e também: Charlie Parker a morrer-de-tudo em casa da baronesa Nica Rothschild,
amiga dos músicos de jazz.
e rica, herdeira.
e sobretudo: o exílio de Donald Byrd nas ruas de Paris.
a ternura no fundo do olhar de Biud Powell, turbeculoso.
e ainda: o filme “Round Midnight” de Tavernier e “Moore Better Blues” de
Spike Lee, quando o cinema sabe olhar o jazz.
Dexter Gordon a morrer, rodeado de amigos a pedir à mulher de Tommy Flanagan, a
bela Diana, para lhe trautear certos temas... “Body and Soul”, “You go my head”.
e enfim: Chet Baker a gravar com grande orquestra “All Blues” do Miles duas
semanas antes de cair de um quarto andar e morrer farto de tudo, menos do jazz.
Jerónimo Belo
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