quarta-feira, março 14, 2007

motivo de uma "longa" ausência IV

primeira vez em frankfurt, piso molhado por causa da chuva que tinha acabado de cair. o aeroporto é enorme e pelo numero de aviões que vejo com as cores da lufthansa alguma coisa me diz que estou na base central da companhia, ou talvez não. sem precisar passar pelo controlo fronteiriço vou directo a gate b22 para reconhecer o local e depois não andar a corrida. checo o mail, respondo duas mensagens, ponho um post de até já para justificar a ausência, uma passagem rápida por alguns blogs, jornais e por fim fui ver como estava financeiramente. depois de um telefonema, aquilo que a muito o corpo pedia, um banho. compro uma t-shirt e um boxer (afinal só tenho bagagem de mão), pago o banho mas sem antes perguntar a senhora quanto tempo podia ficar. isso é escolha sua, disse ela. o banho fez-me muito bem, antes de sair do duche uns 10 ou 15 minutos sentado no chão com a água escorrendo. terminada a fachina corporal, um telefonema que me havia esquecido e fui comer um big mac (mal, mas agora os gastos tem de ser mais controlados).
neste momento que escrevo não sei que horas são, no ecran de informações dos voos, o primeiro que surge sai as 21h:35, tenho tempo suficiente para andar um pouco por ai. ham, quase me esquecia; vir ou passar pela alemanha e não saborear um haagen-dazs (doce de leite), para mim não é a mesma coisa.

22h:10 disse-me o companheiro de lugar. como o tempo passa! daqui a 10 minutos partimos deixando para trás a terra de Patrick Süskind.
dificilmente durmo demasiado em viagens nocturnas, mas veremos como será esta. para leitura trago a CQ, FHM e mais nada!
definitivamente viajar de noite não é das coisas que mais aprecio. a paisagem escura que a janela me mostra traz-me sempre a mente outras imagens que são-me difíceis descodificar. ao mudar os canais de rádio, oiço uma voz que diz seja bem-vindo ao canal de música popular brasileira a bordo deste voo. não consegui memorizar o nome do locutor nem da voz feminina que passa neste momento.

afinal, sempre consegui dormir tanto que nem me apercebi que a comida foi servida! uma vez li um livro, onde o autor dizia que a boa hospedeira nunca acorda o passageiro, deixa-o dormir e fica atenta para quando ele acordar fazer a pergunta de costume: vai querer peixe ou carne?
o filme parece ser interessante, A Good Year com Russell Crowe, é recente e nunca o vi.

já não deve faltar muito. antes de começar o segundo filme, lembro de ter visto que estávamos por libreville, sinal que já não falta tanto para entrarmos para o sul de africa. adormeci pela segunda vez e sentia o corpo dorido, vou ao wc e tento água fria na cara para ver se minimiza este mau estar, o ecran mostrava 3h08 para o destino e no mapa vi que estávamos por cima do congo democrático (lubumbashi). abro a janela, não se vê muita coisa porque estamos por cima faz nuvens, mas por vezes abre-se um espaço como se fosse uma janela entre as nuvens onde vejo um enorme verde (savanas). this is africa.

44 minutos para aterragem em joanesburgo, já passaram alguns aninhos desde que cá estive pela ultima vez, mas como hoje a passagem é rápida tenho curiosidade de ver como esta o aeroporto. a vez passada estava em obras e a confusão era enorme. por este dias, assisti um programa na televisão sobre o mundial de 2010, onde mostravam imagens mas sem obras algumas.
20 ou 30 minutos no vai e vem, a menina da casa de cambio diz-me que para comer não fica em conta trocar, melhor é pagar mesmo em euro. tento comprar um cartão para telefonar e o homem diz que só aceita rand ou dólar! volto para casa de cambio e a menina aconselha-me a comprar qualquer coisa com euros para obter troca em rands, vou a cosmic candy e compro um toblerone gigante a pensar na sobrinha mais nova. com rand nas mãos, lá consegui pagar o cartão telefónico e aproveito para perguntar o preço da internet, pagas o que usas, mas só aceitamos cartão de crédito. e sem credit card? perguntei. lamento mas não da. e não há outro espaço onde possa pagar em cash? não. estranho!!!
como uma/um brushetta e bebo uma fanta (para me levantar, como se diz aqui na banda), a vista são dos aviões e das obras. o calor já se faz sentir, os 23º fazem-me tirar o casaco e a camisola interior mantendo apenas a t-shirt.


há algo estranho que me entristece, o atendimento é lento e não senti a devida atenção dos trabalhadores das lojas, talvez esteja enganado porque esta não é a africa do sul que conheço! estou cansado, o corpo pede cama.
15 minutos de voo, mudo de lugar para estar numa fila sozinho. as últimas horas em joanesburgo dormi um pouco, mas senti que o tempo passou tão devagar o que é mais um sinal que estou em africa. por cá, os ponteiros do relógio andam mais devagar! tenho de tentar dormir mais um pouco, os pés doem, o corpo e a mente dão sinais constantes de esgotamento total. não posso mais.

windhok, ainda no aeroporto aproveito para trocar dinheiro, a menina de olhos fundos por trás do balcão ajuda-me a escolher um hotel, insisto com ela que procuro algo barato mas que me faça sentir na namíbia. andré, é assim que se chama o taxista e guia momentâneo, diz-me que por cá há muitos angolanos (ainda no aeroporto conversei com 3).


são 42km para o centro da cidade, a paisagem é linda o calor é intenso e com a máquina em mão começo a disparar. já no centro, passamos por 6 alojamentos e todos eles estavam esgotados e quando já começava a conformar-me que iria pagar muito por apenas uma noite, andré lembrou que por cá existem uma daquelas pensões colectivas (tipo casa da juventude). a primeira estava full, mas na segunda há uma cama vaga. há um grupo hospedado que esta a fazer um safari pelo sul de africa, amanha partem para angola. a recepção esta cheia de bandeiras, brasil, israel, holanda, alemanha, grécia e outras. quando reparei na de angola disse a sr. que era a minha e logo a seguir o jovem do lado perguntou se era angolano. sim sou. e vens de luanda? não, africa do sul. falamos mais um pouco e acabou por me apresentar a noiva, uma israelita com um cabelo lindo de tão preto que era. o calor aumenta, saio para comprar agua e aproveito para um passeio no centro. quando regressei a pensão reparei num jogo que não me lembro o nome, faço uma foto para depois tirar a dúvida em luanda.


a decoração é linda, vou fotografar tudo, talvez assim consiga convencer os amigos para darmos uma volta por aqui. já é noite, vou ver se encontro um calção para dar um mergulho na piscina que não para de olhar para mim.
na sala comum onde estão alguns jovens, vemos um filme ao mesmo tempo que lá fora cai uma chuva miúda, talvez seja bom para arrefecer o tempo. não foi o que aconteceu!
quase meia-noite quando me retirei para o quarto. 4 já lá estavam a dormir, o barulhento (ronca muito mais alto que o meu irmão!) chegou muito mais tarde. são 3 beliches e a roupa de cama é muito confortavel. a noite é tão silenciosa que é possível ouvir o som daqueles insectos que agora fugiu-me o nome da menta. pirilampos, será? quanto tempo não os ouvia, já me disseram que no alentejo é possível ouvi-los. a noite em africa é virgem (acho que me entendem).

levanto-me cedo, a noite não foi má. um banho de agua “fria” para começar o dia, já não me lembro a ultima vez que banhei sem necessitar de abrir a torneira do lado de agua quente. tudo preparado e as últimas fotos antes que o sol se mostre totalmente, a sr. diz-me que são agora 6h:47, vou comer e esperar pelo andré. da janela da cozinha consigo vê-lo no carro a ler o jornal, combinamos as 7h:00 e ele já cá esta. gostei, é pontual.

checkin feito, agora é só aguardar. a foto de praxe foi feita, eu e o andré com o sinal de vitória nos dedos. já na sala de embargue e através de uma janela consigo fazer a foto do avião oficial de Robert Mugabe, presidente do zimbabué que esta de visita ao pais. as fotos foram rápidas porque em algumas zonas de africa fotografar o aeroporto é motivo para uma acusação de espionagem!

lá fora o calor é insuportável, mas o frio do ar condicionado irrita-me um pouco.
uma ultima chamada antes do embargue para avisar a hora de chegada.
no ar algum tempo, reparo em algo que nunca tinha visto. é a primeira vez que viajo num voo onde quase a metade (ou mais) dos passageiros compra perfumes. mas não é apenas um perfume de lembrança ou talvez oferta, são sacos e sacos que o assistente de bordo passa de um lado para o outro! se é coisa normal na rota windhouk – luanda, significa que o negócio da perfumaria aérea corre bastante bem.

a demora na emigração ate parece que vamos entrar para um pais onde somos estrangeiros! é a minha vez e o homem diz: candengue tira o chapéu. peço desculpa e depois do carimbo avanço pela linha verde (nada a declarar). lá fora o calor bate na cara e a gritaria começa:
cota já tem táxi?
sim.
cota não quer ajuda?
não obrigado.

5 minutos depois a mana aparece e vamos para casa. um ligeiro engarrafamento e em 10 minutos estou em casa. mesmo antes do banho saboreio o feijão de óleo de palma com farinha e banana a conversa para saber as novidades.
digestão feita, vou agora tomar um banho e dormir.
ESTOU EM ANGOLA.

5 comentários:

João Carlos Carranca disse...

Oferece só uma dosezinha de feijão com óleo de palma para eu te dizer que gostei desta tua aventura de regresso

Koluki disse...

Sim sr. isso e' que foi aventura.
A comprovar que "ha males que venhem por bem"!
Viste, aprendeste, conheceste, enriqueceste-te... e chegaste sao e salvo a banda direitinho para um prato de feijao de oleo de palma!
Quem me dera...

Olha, o jogo, embora a minha memoria nessas coisas seja terrivel e me pregue algumas partidas as vezes, em algumas partes de Angola chama-se kwele ou kwela... Mas ele existe e joga-se em praticamente toda a Africa, assumindo varios nomes diferentes, dentre os quais mankala, oware, awele, etc.

Boa continuacao da matanca de saudades por ai!

Fernando Ribeiro disse...

Que viagem complicada, hem? Mas tudo está bem quando acaba bem. (Escrevo isto com a boca a salivar à vista da foto do almoço.)

Eu não tenho a certeza absoluta sobre o jogo a que a Koluki se refere, mas era capaz de apostar. Se é o jogo das pedras e dos buracos, ele em kimbundu chama-se kiela e em umbundu tchela. Se não me engano, o nome kwela, a que a Koluki se refere, é o nome de uma dança sul-africana.

Um abraço

Salucombo_Jr. disse...

quando mostrei a foto a minha mãe ela também disse que se chamava tchela, mas eu insistia que não era este o nome que eu aprendi no passado. aprendi kiela, que agora sei ser a mesma coisa.

já agora, aproveito para convidar todos para um feijão de óleo de palma. (o convite é aberto, porque acredito que um dia vamos sentar todos a mesma mesa)

Salucombo_Jr. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.