quarta-feira, maio 06, 2009

Kiokos, esquecidos na ficção e na realidade!

Dia 2

na manhã seguinte a partida estava combinada para antes das 9 horas. madruguei e fui visitar a tia e os primos que me aguardavam com saudade. em África (permitam-me a generalização), a visita de um familiar/amigo que vem de longe é significado de festa, e o que seria um matabicho com conversas para recordar o antigamente (incluindo os que já partiram), tornou-se um banquete no quintal da tia M., onde até os vizinhos marcaram presença. rimos, choramos e voltamos a rir, e por momentos parecia que regressava ao ano de 1997 quando ali estive pela última vez! há regressos saudáveis.

partimos decididos a chegar ao Dundo antes do meio dia, mas ao cruzarmo-nos com determinadas paisagens, era impossível não parar... olhar, fotografar e gravar na memoria aquela beleza era um ato obrigatório. por vezes, acho que nos os angolanos herdamos por excesso tanto as coisas más como as coisas boas, mas isso, sou eu que acho, por isso tem pouca importância. em Camissombo, compramos carne de caça seca, não me lembro que animal era e desconfio mesmo que nem sequer perguntei a tia que tinha mãos com rugas de sofrimento e mesmo assim falou-nos com satisfação. desejou-nos boa viagem e prometeu rezar por nós.

no cruzamento com as placas que sinalizavam Lucapa para a esquerda e Dundo para direita, escolhemos o nosso destino e daí em diante a realidade do asfalto mudou completamente. não sei que nome dar aquele troço mas chamar de estrada seria um grande elogio! no carro, os corpos mexiam da direita para esquerda e vice versa com as entradas e saídas consecutivas dos enormes buracos que nos surgiam na frente... faltavam apenas 150 km, mas a marcha era tão lenta que ao entramos em Chitato parecia que tínhamos percorrido mais de 300 km!

passavam das 15 horas em ponto quando finalmente chegamos ao Dundo, a chuva que nos recebeu refrescou-nos e me fez recordar que se fosse em época das mangas as crianças estariam aos pulos pelas ruas. depois das devidas cortesias, fomos hospedados e a comida estava a mesa, funge again. no leste de Angola, o funge ou pirão é a alimentação base... há mesmo cotas que matabicham, almoçam e jantam funge mudando apenas o conduto (acompanhante) que pode ser carne ou peixe e sempre com folhas (kisaca, uce, etc), quiabos, makosso e outros.

inacreditavelmente, antes das 19 horas já estava a dormir... despertei depois da meia noite e por varias vezes insisti em conectar a movinet até perceber que havia falta de rede, abri a janela e preferi escrever enquanto escutava o som da noite que vinha lá de fora.

aqui na Lunda Norte, a noite ainda tem o som original.

2 comentários:

Val Du disse...

Emocionante.;)
Viajei no teu relato. ;)

Um beijo.

José U. disse...

Caro blogueiro, estou sempre por cá a ver teu blogue. Sou de Angola e meus pais eram do norte de Angola, sabes que gostei muito do que li. Tenho muita saudade de meus parentes, mas não posso voltar p/ essa terra que amo tanto, estou no Brasil trabalhando.
Parabéns e continues assim escrevendo coisas boas, já que essa esfera global tá cheia de bobagens e coisas inúteis.

Deus guarde você.
Abraços