quinta-feira, maio 28, 2009

o google, não nos da os cheiros

Angola é um país de difíceis escolhas, seja para que destino for. a falta de informação especializada para aqueles que escolhem o destino de uma viagem nas paginas do google aqui não funciona, e por isso mesmo, partir assim me fascina ainda mais. não ter informação pode ser de alguma forma bom para quem parte.

sabíamos do deserto, das mumuílas, da Serra da Leba, da welwitschia, das acácias e de outras coisas que quase todo mundo sabe, mas e o restante, quem sabe do restante?

4h:30, aeroporto domestico de Luanda com gente que nunca mais acaba; bom porque hoje há varias companhias a voar para o interior do país e mau porque a fila de pessoas para embarcar eram na sua maioria de estrangeiros, talvez porque infelizmente têm os expatriados [detesto a expressão] um poder de compra maior que o nacional, mas isso, sou eu que acho.

na Catumbela, aterramos numa antiga base militar hoje adaptada para receber voos domésticos. o pouco tempo que durou a escala pouco ou nada se via da minha janela, alguns Mig´s que nos fazem regressar ao passado, um avião duma outra companhia e verde, tudo a volta era verde... do céu, ainda vimos as dunas e o mar, mas o meu cérebro estava concentrado no destino.

partimos e em pouco tempo estávamos no Lubango, cidade de muitos amigos e que desde criança oiço historias sobre o clima que se parece com a Europa. recepção calorosa e partimos para o centro... no caminho, estranhamos os sinais do desenvolvimento, há muitos pedaços que se assemelham a capital, para um sábado de manha, o movimento fez-nos desconfiar... muitos carros, muitas pessoas, muitas obras, alguns chineses, muitas stand´s com carros top de gama e muitas acácias, que foi para mim o primeiro sinal alegre de que finalmente pisei um pedaço de terra a sul de Angola.

antes de nos fazermos a estrada, indicam-nos o café de paredes cor de rosa para despistarmos a fome. a entrada, espantou-se o cubano do grupo com a paisagem no interior do café, afinal, éramos apenas quatro negros num espaço com mais de 15 pessoas. retiraram-lhe a preocupação, esclarecendo de que o único não angolano dos presentes era ele mesmo, ou não seria a Huíla o canto de Angola com mais mangopes de pele clara. 

seguimos para sul logo depois de comer o melhor palmier da minha vida, aos poucos, atravessamos a cidade e na subida do monte com casas de arquitectura “antiga”, olhamos o Cristo ao som de Velha Chica do cota Waldemar. há no Lubango provas de um cantinho sortudo, felizmente, ali as balas pouco passaram. descemos o monte e pouco depois estávamos na Serra da Leba, a famosa serra das 26(?) extraordinárias curvas! perdoem-me a arrogância, mas como é possível a minha Angola ser conhecida pelos 30 anos de guerra, o petróleo e os diamantes!? não é possível, não é justo, não é compreensível, não é aceitável. e o restante? o inexplicável? o único? por onde para?

a medida que fomos descendo, apercebi-me que fazer fotos seria distrair-me de saborear aquela paisagem...parece mentira estar rodeado de tanta beleza, um céu de sorriso aberto, rochas que parecem uma pintura em óleo, um silêncio que nos da as boas vindas e uma água que do nada, sai da enorme parede rochosa!

duas horas e tal de viagem e sem que ninguém o dissesse, não foi difícil sentir que o deserto se fazia presente, a subida da temperatura e o castanho que se via ao longe, despertou do sono os que não conseguiam combater o cansaço. as portas do Namibe, era em vão a minha tentativa de procurar mumuílas, a par da paisagem, eram os camiões conduzidos por chineses com quem mais nos cruzamos.

adoro partir, Miguel Torga escreveu que "em qualquer aventura, o que importa é partir, não é chegar", não podia estar mais de acordo, mas chegar ao Namibe foi diferente de todas as outras chegadas. os edifícios, as ruas, a estação de comboio, os cheiros, aquele monte que espreita a cidade e até o mar pouco se parecem com Angola de hoje. no centro, nada difere das fotos do livro de Língua Portuguesa que tinha na primeira classe, é quase uma estagnação no tempo, mas uma estagnação bem conservada como comprovavam as placas na maioria dos prédios: Sociedade Cooperativa de Moçamedes. chegamos.

em pouco tempo, hospedamo-nos e saímos a pé de calçada em calçada e com máquinas ao peito fomos olhar a cidade.













2 comentários:

Carrie disse...

Lindo post!

[há um endereço de email associado a este blog?]

Salucombo_Jr. disse...

obrigada Carrie.

arcoires@gmail.com