do outro dia quando saia de casa, deparei-me com eles juntinhos e com passos bem sincronizados caminhavam perante a minha visão que os seguia com alguma curiosidade.
mais a frente e já na zona do ex largo da Maianga, hoje largo do engarrafamento insuportável, pararam e posicionaram-se a meio da calçada. queimei algum tempo a observar aqueles movimentos “treinados” dos dois, enquanto o da frente mais baixo, mais novo, mais inocente e mais atento dirigia-se para as pessoas e falava qualquer coisa, o de trás mais alto, mais velho, mais vivido e mais distraído dirigia-se para as pessoas em silencio e com o movimento do braço de baixo para cima abrindo a palma da mão logo a seguir.
sem que nada me distraísse, concentrei-me nas minhas personagens, reparando que no final do curto dialogo que mantinha ou tentava manter com as outras personagens apressadas que por ali passavam, apenas o da frente alterava a imagem da sua face.
resolvi então aproximar-me e ouvir as palavras que saíam daquela boca faminta, e sem dizer bom dia levei a mão ao bolso e entreguei-lhe parte do que lá tirei. levantei a cabeça e sem me despedir continuei a minha caminhada deixando para trás aqueles dois seres dependentes um do outro. o da frente que explora as incapacidades do outro e o da trás que explora as capacidades do outro.
3 comentários:
É dificil viver filmes assim...
As sequências dos filmes parecem não mudar...
Jõao Pedro
cenas assim acontece aí, e também aqui no Brasil.
e o que mais incomoda é a nossa incapacidade diante de tudo isso.
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