domingo, janeiro 11, 2009

três dias em Salvador e nem uma linha escrita, a gripe que apanhei parece ter acertado em cheio e aquela sensação de doença andava por todo corpo.
não andei o suficiente e nem olhei tudo o que queria, a falta de sensibilidade nas narinas e a dor de cabeça quase que me punham de cama, mas como nunca sabemos quando será a próxima oportunidade, lá esforcei-me e fui olhar a Forte Santo Antônio da Barra, o elevador Lacerda, o plano inclinado Gonçalves, o Mercado Modelo que em alguns cantos é possível sentir-se em África e por fim as ruas do Pelourinho.

o Pelourinho, não é África, não é Europa, não é Ásia, não é América do Sul/Norte e nem é Brasil, o Pelourinho é o Pelourinho! as fachadas, a calçada, as cores, as pessoas, as baianas, os desenhos, as danças, as imagens e até os turistas, tudo ali é único e com características próprias, aquela vista, parece um daqueles quadros pintados em óleo em que nem o autor acredita na existência daquele lugar. os tugas fizeram um trabalho excepcional que por sua vez foi conservado de uma maneira excepcional, a Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, é um monstro que prova a capacidade do homem em fabricar a beleza perfeita, fachada em cantaria de arenito, os painéis em azulejos portugueses e o interior em talha barroca são exemplos insuficientes para apresentar a sua fotografia.

no meio daquele colorido, Jorge Amado teve direito ao seu canto.
a entrada lê-se em grande plano as palavras de sua amada:
(...)
Jorge tomou a minha mão e levou-me a conhecer o mundo. Atravessamos fronteiras, descortinamos horizontes, singramos mares encapelados, quase tragados em noites de tormenta por um tufão no mar Báltico; embalados em noites mornas pelas mansas aguas do Caribe. Voamos alto, quase ao infinito, invadimos céus de estranhas constelações; sobrevoamos cordilheiras e vulcões, atravessamos a densa Floresta Amazónica. Que susto nós pregou o aviãozinho soviético no pouso forçado em pleno inverno da Sibéria.
E a outra aterrissagem de emergência, em meio ao sufocante deserto de Karakun? Redemoinhos de areias escaldantes, levantadas pela fúria do vento, a queimar a nossa pele...

Conquistamos amigos sem conta, espalhados pelo mundo afora; os que já morreram permanecem em nosso corações. Um leão no comando, cabeça alva, Jorge Amado se despede hoje de seu acervo de quase 60 anos de presença literária. Material acumulado no dia-a-dia, guardado com carinho – muitas vezes escondido da sanha policial a invadir nossa casa - , riqueza incomensurável, herança que ele oferece em vida à sua amada Bahia, a seu povo. De hoje em diante, esse acervo estará à disposição dos estudiosos, no mais belo casarão do Largo do Pelourinho, cenário de suas historias, universo de seus personagens, onde funcionará a partir de amanhã, 7 de Março de 1987, a Fundação Casa de Jorge Amado.

enfim, no meio de tanta coisa interessante quase passou despercebido o facto de não puder cheirar a cidade.

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