domingo, dezembro 30, 2012

utopia é semente de desenvolvimento!

A Cacau – Casa das Artes, Criação, Ambiente e Utopias – é um projecto assente numa filosofia particular, cujo o lema é “(Trans).formar o local.com”. Tendo como eixo central os jovens, os recursos naturais e a cultura de São Tomé e Príncipe, a Cacau intervém com a população e não para a população. 

no dia que fomos jantar ao cacau achava que íamos comer um bom peixe a um restaurante como os outros que há pela cidade. tinha pouca informação sobre o espaço, o P apenas disse-me que era do João Carlos Silva e que ia gostar da música ao vivo. assim que entramos foi inevitável não pensar no espaço Elinga. o projecto Cacau fica num edifício que na época colonial eram oficinas das obras publicas, onde estão reunidos vários itens que fazem parte do projecto. o restaurante/bar Sabor & Arte, uma galeria para exposições, um espaço de leitura Alda do Espírito Santo, lojas com produtos nacionais, espaço para entretenimento para crianças, um cine clube onde vimos um filme mudo do tempo colonial sobre as roças e o cultivo do cacau, enfim, um espaço sobre cultura, com cultura e para todos.
 
não havia qualquer tipo de formalidade, as pessoas ião chegando e sentado em mesas decoradas com panos africanos, no palco um grupo de dança tradicional e as panelas com a comida eram postas numa mesa onde cada um servia o que lhe apetecia. ovas de peixe fritas, banana, batata doce, fruta pão, caldeirada de peixe, calulu, feijoada de atum, etc. 

a música ao vivo estava a cargo do Miltom que era acompanhado de um teclista, que aos poucos foram convidando quem quisesse os acompanhar sem quaisquer formalidades e o ensaio de improviso feito na hora. primeiro foi o sueco que subiu ao palco com o seu saxofone e participou na interpretação de musicas de Cesária Évora, Caetano Veloso e Tito Paris. depois, juntou-se a eles um angolano que tocava batuque e a banda brindou-nos com Muxima, Matias Damásio, Mayra Andrade e plateia cantou ao mesmo tempo que as crianças corriam, dançavam no espaço entre o palco e as mesas como se fosse uma coreografia ensaiada. 
estavam expostos no Cacau peças de arte plástica, fotografias, pinturas em óleo, cartazes da ultima bienal de artes e cultura de São Tome e Príncipe que se realiza no espaço, e que em Novembro de 2013 vai receber 7 edição da bienal, repito, 7 edição de uma bienal cultural! definitivamente, a pobreza tem diferentes interpretações ou o titulo deste post não podia ser mais real. 
no final, veio a dança e o espaço já não parecia um restaurante com várias mesas... é como se fosse uma mesa redonda onde todos falavam com todos, a alegria dos adultos e os sorrisos das crianças misturaram-nos como se fossemos todos da mesma família!

sábado, dezembro 29, 2012

sexta-feira, dezembro 28, 2012

outros lugares...

o João Carlos Silva é uma referencia impossível de se passar ao lado para quem visita São Tomé e Príncipe. a sua roça e o projecto Cacau (Casa das Artes Criação Ambiente e Utopias) são lugares que fazem qualquer pessoa sentir-se em São Tomé dos santomenses e não em São Tomé das agências de viagem. para escrever sobre esses lugares preciso de tempo para digerir bem o excelente momento que lá passei. 

se olhamos com arrogância para esse país, concluímos logo que é um lugar pobre e que as suas gentes são de pouca formação, mas se despirmos um pouco dos nossos preconceitos reparamos que não é bem assim. em viagem, é quase automático comparamos o lugar onde estamos com o nosso país de origem, por isso, em São Tomé, estou constantemente a criticar a minha Angola, porque é-me difícil acreditar que não conseguimos copiar o mínimo! 

o Jardim Botânico fica quase na ponta da montanha, no Parque Natural Obô de São Tomé e Príncipe, um projecto que teve inicio nos anos noventa com financiamento da União Europeia. o guia do jardim é o senhor A, um camponês de sorriso simpático que pelo conhecimento que nos transmite sobre plantas, bem podia ser um botânico! o senhor A explicou-nos que hoje o jardim já não recebe verbas nem do Estado nem da União Europeia e por isso a maioria dos funcionários foram-se embora porque precisavam de sustentar as suas famílias, restando apenas ele e outro colega. o senhor A sabe tudo sobre plantas, e apesar de não ser tão grande, o jardim tem plantas para todo tipo de doenças. diabetes, cancro da próstata, dores e corpo, bronquite e outras segundo as suas explicações.

 
 
 
queria contar mais sobre o Jardim Botânico e o senhor A, mas a minha mente insiste na comparação... e como isso não é um texto sobre Angola, prefiro parar por aqui. 

a Roça Monte Café parece-se como as outras que visitei, com casarões muito bonitos que transmitem a sensação de quem quer contar muitas historias do antigamente mas não consegue. 

a cascata de São Nicolau é tão linda que diminui a nossa humanidade, mas infelizmente está sem condições para quem pretende não só pousar para fotografias. no meio das árvores, a água vem da rocha lá de cima e cai em queda livre e continua o seu caminho que tentamos sem sucesso seguir. caminho que nos levou até a Roça Bombaim, que é também uma pousada para quem gosta de fazer turismo rural. numa estrada estreita no meio da floresta e de repente surge no meio do nada um espaço aberto com jardim, casarões do século passado com energia eléctrica e água canalizada!
 

quinta-feira, dezembro 27, 2012

outras decepções...

no mundo moderno, existem muitos países que obtêm boas verbas com a venda em forma de turismo da sua história, mesmo que essa história conte o sofrimento dos seus antepassados. o turista não se importa de pagar para ver, ouvir e por vezes sentir a forma como se vivia o antigamente do país que visita.

para quem desembarca em São Tome e Príncipe, é obrigatório visitar uma roça antiga. entre as muitas que tinha na lista, estivemos na roça Diogo Nuno, na roça Bela Vista, na roça Santo Amaro e na roça Agostinho Neto, que segundo a explicação, tem o nome do primeiro presidente angolano como forma de agradecimento pelo seu contributo na luta de independência das ilhas. apesar da degradação, nas roças é impossível não sentirmos a presença do colono... os grandes casarões, os detalhes das escadarias, as portas, a pequena igreja dentro de cada propriedade fizeram-me lembrar a novela Chica da Silva! na roça Santo Amaro tive a sensação de estar no mesmo lugar que Luís Bernardo Valença, a personagem principal do Equador, o livro de Miguel Sousa Tavares que li a pelo menos 6 anos atrás! 
 
 
infelizmente, o abandono, a destruição e a ocupação são o cartão de visita de todas as roças que visitamos. nos grandes casarões vivem famílias e muitas repartições da roça como o local onde se fazia a secagem do cacau estão deterioradas... resumindo, apesar dos vestígios de beleza que restam pouco ou nada resta que traga turistas para São Tomé e Príncipe. se o Estado não fizer alguma coisa, talvez daqui a 50 anos não haverá nada para ser visto! 
 
o plano para passar o dia na Ilha das Cabras não aconteceu como pensámos, a maré estava alta e fomos obrigados a improvisar o piquenique no meio das rochas. o lugar é bonito, a água é quentinha mas depois das 14 horas o mar engole areia e a praia desaparece. além do mais, as pessoas que usam aquele lugar esquecem-se que é preciso mantê-lo limpo, caso contrário o encanto desaparece. 

na conversa com o P, disse-lhe que estava com a sensação de que em São Tomé o hotel, a rent-a-car e o restaurante são as únicas coisas importantes para o turista, porque é surpreendente que um país tão bonito e agradável como este muitos dos potenciais pontos turísticos estão muito mal cuidados. 

felizmente, o dia acabou melhor do que começou. a praia do tamarindo fez-nos esquecer a ilha das cabras e o jantar no restaurante O Bigode foi o melhor desde que cá estou. o peixe e o camarão tigre foram temperados e grelhados pela Whisma, que na minha opinião merece uma estrela Michelin.

quarta-feira, dezembro 26, 2012

outras pessoas...

os hotéis, os restaurantes, os mercados, os transportes públicos são para mim lugares insuficientes para puder tocar a intimidade real de qualquer povo. acredito pouco que exista um lugar melhor que a nossa casa, onde conseguimos apresentar os nossos hábitos e costumes sem necessidade de fingir. 

o natal é uma festa de família e uma das melhores oportunidades que podemos ter para olhar a convivência familiar de um povo. 

a Roça do Pinheiro pertence a família do senhor A, descendentes de cabo-verdianos mas com a 3ª geração da família nascida na ilha de São Tomé. o convite para o almoço de família que se realiza sempre ao dia 25 de Dezembro surgiu por intermediação do P, que nos aconselhou a levar apenas algumas bebidas porque comida é o que haveria em abundância. 

a roça fica na cidade de Água Grande num lugar bastante simples com rede de electricidade mas sem água potável canalizada dentro das casas. o abastecimento de água é feito através de um chafariz que se encontra ao fundo da rua, onde as famílias podem cartar água 24 horas por dia. 

fomos recebidos com sorrisos e curiosidade no meio de plantação de bananeiras e gaiolas com criação de patos e porcos, onde havia uma mesa comprida com toalha branca e comida que nunca mais acabava. as crianças brincavam, as mulheres preocupavam-se com a comida enquanto que o senhor A apresentava-nos as pessoas individualmente acrescentado a ligação de parentesco que tinham. estavam presente 4 cunhados, maridos de suas irmãs. 

comemos peixe seco, calulu (muito diferente do que se faz em Angola), grão de bico (como se fosse uma feijoada), cachupa, arroz, leitão grelhado, banana pão cozida e frita, uma fruta que desconhecia de nome pitaia, muito alegria e conversa avançada. falamos do Gabão (a maioria das pessoas na mesa falava francês), de Cabo Verde, de Angola, sobre os pedidos e alembamento, mas não falou-se uma única palavra sobre politica! disse-me o P que as pessoas são felizes sem necessitarem de tocar num assunto infeliz como a politica. 

adenda 
é a primeira vez que decido não compartilhar as fotografias que faço num momento como o que passei com a família do senhor A, decisão difícil mas que justifico com o facto de que aqueles sorrisos e as marcas da vida que alguns olhos atiravam para a objectiva estavam a ser compartilhados comigo e não com a câmara fotográfica!

terça-feira, dezembro 25, 2012

outros sabores...

nós, os angolanos somos arrogantes, prepotentes, demasiado orgulhosos e a melhor, tratamos muito bem os estrangeiros até ao dia que um deles tem a coragem de dizer-nos a verdade sobre o nosso país com toda frontalidade. felizmente que em todas as generalizações existem excepções. é preciso ser justo. 

não é verdade que desconhecia esses defeitos, o facto é que desde que estou em São Tomé e Príncipe, eles tiveram em mim um maior impacto. 

conheço muitas pessoas que gostam de afirmar que é nos países pobres que encontramos pessoas mais humildes e afáveis, mas Angola é a prova que isso não é bem assim. a ilha de São Tomé que é onde me encontro é pobre (partindo do ponto de vista arrogante que riqueza significa petróleo, diamante, chineses a trabalharem por nós, crescimento económico de muitos dígitos, etc), mas não creio que seja esse o principal factor que transformou as pessoas aqui tão humildes, simpáticas e sempre com um sorriso que transmite as boas vindas. 

na pouca pesquisa que fiz sobre essas ilhas, entre muitas coisas que fui encontrado por aí, retive a informação que um amigo me passou. é sem duvida o lugar onde comi o melhor peixe. 

a zona de Micolo fica aproximadamente à uma hora de distancia do centro da cidade, e foi lá na praia Fernão Dias (o lugar onde houve o massacre de 1953) que provei a água quente do mar. 
na rua em terra batida que nos levou a praia encontramos várias senhoras que grelhavam em fogareiros feitos de jantes de carro, peixes de cor encarnada que me puseram água na boca. depois do banho regressamos e fomos recebidos com sorrisos e com uma explicação sobre o tipo de peixe que tinham e como era servido. tanto o bluelo (?) como o concon vinham acompanhados com um molho gostoso feito de malagueta encarnada, fruta pão assada e duas rodelas de limão. comi com as mãos e bebi uma coca-cola. o lugar era próximo ao mar e as condições não eram das melhores, mas chamou-me atenção o facto de não haver moscas e que as senhores que preparavam o peixe lavavam constantemente as mãos. perguntei ao P se naquele lugar corria água, respondeu-me que em São Tomé e Príncipe não falta água canalizada. 
 

depois da ceia de natal com vista e o som do mar, voltei para o hotel e antes de dormir pensei no significado real de um país rico. adormeci sem chegar a resposta.

segunda-feira, dezembro 24, 2012

é natal...


Museu de São Tomé e Príncipe

outros olhares...

Angola não é um país de fácil acesso, e algumas vezes, nem a saída é fácil! nesta época natalícia, o aeroporto vira um caos devido a enorme demanda de passageiros. todos querem chegar ao seu destino antes do dia 24, mas infelizmente não é possível. 

faz muitos anos que não viajava para um destino africano, por isso a expectativa é outra, ainda mais porque no destino fala-se português, é uma ilha e um povo que de alguma forma tem a sua história ligada a história de Angola. 

estou em São Tomé e Príncipe e ainda não tive tempo para ver muita coisa. para já, á saída do aeroporto senti-me num lugar seguro.

terça-feira, dezembro 11, 2012

Espaço Bahia, 08/12/2012, 23h:55

infelizmente este video foi retirado a pedido de um dos músicos.


teaser #2

o Sacerdot é um artista como muitas que andam por Luanda sem a oportunidade certa na hora certa, ou talvez sem a oportunidade certa porque as suas letras assim o ditam.
   
Mc Sacer.(Dot) como ele próprio se apresenta é do Sambizanga, e é lá no seu pequeno estúdio de nome circuito fechado que ele canta a verdade, uma verdade que todos os dias anda de mãos dadas com ele.

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sexta-feira, dezembro 07, 2012

rejeição cultural?

sempre me orientei principalmente por valores que os meus pais me transmitiram. alguns talvez sejam culturalmente uniforme, porque pessoalmente sinto que têm o mesmo sentido na China, no Peru, na Finlândia ou em Angola. outros, como diria um amigo meu, variam da temperatura que cada lugar tem!

depois de crescido, mas sem me sentir adulto, sinto-me algumas vezes chocado com a cultura, mesmo aquela que desde pequenino faz parte dos meus dias. 

hoje, estive num prédio onde faleceu uma pessoa e a cerimónia do óbito decorria num espaço comum a todos os moradores. havia comida, bebidas, conversas, uma cozinha adaptada no terraço do primeiro andar, pessoas sentadas nas escadas, moradores desconfortados, crianças alegres corriam pelo corredor e muitas outras coisas. 

inexplicavelmente, senti-me diferente das outras vezes!

um convite aos de cá