os hotéis, os restaurantes, os mercados, os transportes públicos são para mim lugares insuficientes para puder tocar a intimidade real de qualquer povo. acredito pouco que exista um lugar melhor que a nossa casa, onde conseguimos apresentar os nossos hábitos e costumes sem necessidade de fingir.
o natal é uma festa de família e uma das melhores oportunidades que podemos ter para olhar a convivência familiar de um povo.
a Roça do Pinheiro pertence a família do senhor A, descendentes de cabo-verdianos mas com a 3ª geração da família nascida na ilha de São Tomé. o convite para o almoço de família que se realiza sempre ao dia 25 de Dezembro surgiu por intermediação do P, que nos aconselhou a levar apenas algumas bebidas porque comida é o que haveria em abundância.
a roça fica na cidade de Água Grande num lugar bastante simples com rede de electricidade mas sem água potável canalizada dentro das casas. o abastecimento de água é feito através de um chafariz que se encontra ao fundo da rua, onde as famílias podem cartar água 24 horas por dia.
fomos recebidos com sorrisos e curiosidade no meio de plantação de bananeiras e gaiolas com criação de patos e porcos, onde havia uma mesa comprida com toalha branca e comida que nunca mais acabava. as crianças brincavam, as mulheres preocupavam-se com a comida enquanto que o senhor A apresentava-nos as pessoas individualmente acrescentado a ligação de parentesco que tinham. estavam presente 4 cunhados, maridos de suas irmãs.
comemos peixe seco, calulu (muito diferente do que se faz em Angola), grão de bico (como se fosse uma feijoada), cachupa, arroz, leitão grelhado, banana pão cozida e frita, uma fruta que desconhecia de nome pitaia, muito alegria e conversa avançada. falamos do Gabão (a maioria das pessoas na mesa falava francês), de Cabo Verde, de Angola, sobre os pedidos e alembamento, mas não falou-se uma única palavra sobre politica! disse-me o P que as pessoas são felizes sem necessitarem de tocar num assunto infeliz como a politica.
adenda
é a primeira vez que decido não compartilhar as fotografias que faço num momento como o que passei com a família do senhor A, decisão difícil mas que justifico com o facto de que aqueles sorrisos e as marcas da vida que alguns olhos atiravam para a objectiva estavam a ser compartilhados comigo e não com a câmara fotográfica!
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